terça-feira, 18 de agosto de 2015

Nobre dos nobres

- Não há uma só alma naquele lugar irmão, lá tu ficarás à mercê do nada, tens certeza que queres ir? Terás que atravessar um deserto árido e impiedoso que lhe fará transpirar dos pés à cabeça e suplicar pela misericórdia de teus guias.

- Não há outra escolha, é o que eu quero e é o que preciso. Poderia ficar contigo e viver as frivolidades desta cidade, desfrutar dos prazeres grosseiros, rir de minha própria desgraça e fazer desta jornada um êxtase ilusório, mas sinto lhe dizer que diante de tal quadro só o que me resta é a recusa. Preciso caminhar, não sei a que destino, mas há uma inquietude que me move e que me enrijece os sentidos para seguir nesta estrada. O que me chama é como uma canção sublime e meus passos em sincronia me conduzem como em uma dança a céu aberto. Há tanta beleza neste lugar, e posso ver em cada coisa aquilo que transcende aos olhos do terreno, vejo e sinto a vida em sua eterna orquestra, radiante e magnificente, como em um espetáculo de perfeição. Ora meu caro, há momentos em que as passagens nos fazem esquecer o que é eterno e imutável, do que realmente dá corpo e sentido ao que chamamos de existência, momentos em que esquecemos de olhar além do nosso próprio além, não vemos que tudo está fluindo, mas estamos em um rio sereno de um grande vale que só a ave mais destemida pode sobrevoar. 

Que dia formidável, não crê? O tempo nunca esteve tão convidativo, é uma pena que não queira me acompanhar, não nos falaremos por um longo tempo, não anseio me comunicar, mas minha alma carrega as lembranças de tua afabilidade por onde quer que passe. Deixei algumas moedas sobre tua mesa, dívidas não restam mais, e o excedente é para que compre um presente para tua filhinha, a qual me cativa com sua doçura. Quem sabe um dia terei uma família como a que tens, não parece má ideia, mas presumo que não seja o dever e o privilégio que me competem agora, doravante ajusto a velha bússola que papai me dera. 

Sinto-me estimulado, apesar de tudo, mas diga-me se não é assim que renascemos a todo instante? Não é assim que encontramos a valiosa trilha a qual todos deverão passar? Penso eu que nenhum mal exista, não o julgarei mal uma vez desviado do caminho do bem, mas que doloroso seria estender os dias de um homem longe do caminho dourado da benevolência. Não sei se aguentaria por muito tempo, nem preciso aguentar por muito tempo, o caminho afável sempre brilha e se avizinha a nós, não importa onde estejamos, não é como uma centelha passageira e descompromissada, lembra-me a luz do Sol, como se fosse eterna, constante, presente e perseverante. 

Não vejo a hora meu amigo, de subir aquela montanha, avistar o horizonte da liberdade e saborear os frutos ali crescidos. Para ser bem honesto, pouco me fascina a vida de nosso monarca, ora, se quando estou em júbilo com a vida me sinto como o mais nobre dos nobres, sendo eu meu próprio castelo, sendo eu meus próprios súditos, sendo comigo mesmo o meu maior dever e compromisso. Seguirei meu caro irmão, no mais deixarei contigo minha mais pura gratidão, e sei que não tardará para que nos encontremos novamente.




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