domingo, 29 de janeiro de 2012

Arte no sangue, primeiras impressões da Europa

Depois de um longo vôo de nove horas em direção ao velho continente, cansada e com uma mala cuidadosamente preparada para enfrentar o mês que estava por vir, os meus primeiros passos em solo europeu, na verdade, aconteceram no subsolo do metrô de Madrid. Depois de entrar em um vagão errado e, por fim, aprender na marra a desvendar o metrô espanhol, finalmente chego à estação de destino, já exausta pela longa viagem e pelo peso da mala. Ao subir os primeiros degraus em direção à cidade, deixando para trás a estação, tudo me arrebatou de uma só vez - o frio, a ansiedade, a expectativa, o barulho de pessoas, a movimentação dos carros e a música. Sim, a música!

Uma música viva e alegre, servindo de trilha sonora para os passantes e dando novas cores aos meus primeiros minutos de viagem. A melodia vinha de uma banda de rua, composta por saxofones, trompetes, pandeiro, violoncelo, bateria, enfim, vários instrumentos afinados em um só tom, à espera de algumas poucas moedas. Me senti protagonizando uma cena de filme, onde aquela música era o presente de Madrid para mim, para me receber. Foi uma cena inesquecível.

Ao longo do mês descobri que essa situação era extremamente comum nas grandes cidades européias. Em bandas, em duplas, solitários, quer seja com uma simples flauta ou com violinos, dentro do metrô, em frente a lojas de luxo, ao lado do rio, em cima da ponte, no meio da calçada... qualquer hora é hora de música. Os estilos variavam desde a música eletrônica, passando por coldplay e chegando até a música clássica. Percebi que esse hábito está no coração do europeu. Andar nas ruas ganha outra sensação, os prédios cinzas ganham novas cores e um dia ruim ganha novos rumos, não só pela música mas também pela arte de rua.

Lá a pichação e o grafite viram arte, transformando as paredes e muros em telas brancas que são preenchidas de formas muitas vezes engraçadas, servindo como protestos, brincadeiras irônicas e até mensagens irreverentes. Tudo sem perder o tom artístico. Banksy, artista de rua famoso nas ruas londrinas pelos seus desenhos irreverentes e sarcásticos, cheios de significado nas entrelinhas, é um ótimo exemplo do que podemos encontrar ao andar com atenção pelas ruas da cidade.

A arte, entretanto, não para apenas nas ruas. Na verdade, lá ela apenas começa. O principal está dentro das paredes dos museus, presentes na maioria das grandes capitais. É comum observar excursões escolares, até mesmo para os mais pequenos, para visitar obras de pintores como Van Gogh, Picasso, Matisse, Modigliani, Salvador Dalí, Leonardo da Vinci, Miró e muitos outros nomes inclusive de arte moderna, que não me agrada tanto, mas que também conquistou o seu espaço por lá. Nas alas dos museus sempre há estudantes de desenho com os seus cadernos de rabiscos em busca de inspirações entre as esculturas e obras de arte, geralmente sentados desenhando por horas a fio. Em muitos países, os residentes europeus têm direito a entrada franca ou a passes mensais com custo reduzido aos museus que não são gratuitos.

Em Londres, onde a maioria dos museus não cobra ingresso, contando apenas com a doação voluntária dos visitantes, é possível inclusive pesquisar mais sobre as suas obras preferidas - há cartões magnéticos à disposição dos visitantes que, quando passados em frente aos leitores de cartão ao lado de cada obra, colectam os dados do quadro selecionado. Em casa, com o cartão em mãos, basta entrar no site do museu e digitar o número de série do seu cartão para ter acesso a mais informações a respeito de sua obra. E o melhor: tudo é grátis, desde a entrada ao museu até o login no site.

Uma das melhores partes, entretanto, está na saída dos museus. Nas lojas, ao fim da visita, ou mesmo nas mãos de vendedores ambulantes nas proximidades dos museus, é possível comprar reproduções e releituras de quadros famosos a preços acessíveis, inclusive para trazer para casa como souvenirs. As ruas se transformam em verdadeiras mostras de arte, cada pintor com o seu trabalho, uma obra mais criativa que a outra, quer seja a tinta ou a lápis, é possível ver a arte se manifestando nas suas variadas formas. É difícil não se deixar levar.

Sem desmerecer a arte brasileira, que também é sensacional e sem dúvidas tem o seu valor, por mais que ainda tenha que conquistar o seu espaço, mas a minha viagem ao velho continente foi uma surpresa agradável nesse sentido. Não é difícil entender porque grande parte das tendências de arte, música e moda surgem todas de lá, onde a arte corre no sangue e o clima se espalha pelo ar. O amor a arte só cresce quando cultivado, em qualquer parte do mundo.