segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Camphill

Voltei! E agora com boas notícias, finalmente toda a burocracia está pronta, comprei minha passagem e deixarei o Brasil dia 11 de Julho as 19:55, partindo do Aeroporto Pinto Martins em Fortaleza com destino a Lisboa (Portugal), ficarei esperando 3 horas na sala de embarque até voar com novo destino, dessa vez Londres (Inglaterra), onde ficarei esperando mais algumas horas até o vôo final rumo a Edimburgo, capital da Escócia, chegando as 15:50 do dia 12 (horário de Brasília). Portando, faltam apenas 42 dias, logo começarei a arrumar a mala, ainda tenho alguns check-ups médicos e pretendo tirar carteira de motorista internacional.


Mas vamos ao que interessa, afinal de contas, está na hora de explicar melhor o que é o Camphill e por que eu me atraí por este tipo de trabalho. Pois bem, para você que não está acompanhando o blog, no post anterior eu falei como tudo aconteceu, expliquei qual era minha situação e o que me levou a escolha de trabalhar como voluntário no exterior, portanto vamos continuando.


O Camphill é uma iniciativa social inspirada na Antroposofia, uma filosofia erigida pelo austríaco Rudolf Steiner (foto), ele defendia que a Antroposofia, também chamada de “ciência espiritual” era "um caminho de conhecimento para guiar o espiritual do ser humano ao espiritual do universo.", o objetivo do antropósofo é tornar-se "mais humano", ao aumentar sua consciência e deliberar sobre seus pensamentos e ações; ou seja, tornar-se um ser "espiritualmente livre". Em 1939, 14 anos após a morte de Steiner, o também austríaco Karl Konig fundou a primeira Comunidade Camphill, próxima a cidade de Aberdeen (terceira maior da Escócia e perto de onde ficarei), dando início a um movimento que iria alcançar diversos pontos da Europa, América do Norte, África e Ásia, distribuído em dezenas de comunidades.


“Cada comunidade é diferente. Algumas são grandes, algumas são pequenas. Algumas estão nas cidades, algumas estão em silenciosas áreas rurais, algumas estão na periferia urbana da cidade. Algumas são de iniciativas independentes, outras fazem parte de instituições de caridade maior.

Todos praticam caridade, compartilham suas vidas, a contribuição para a vivência comunitária de cada pessoa é valorizada. Todos são apreciados pelas suas individualidades, tendo ou não necessidades especiais.

A filosofia Camphill é que não importa o que a deficiência aparente de alguém possa gerar, pois sabemos que o espírito - o núcleo essencial que nos humaniza - sempre prevalece e permanece intacto. Então todos merecem igual respeito e oportunidades na vida, para que possam desenvolver seu potencial independente de qualquer preconceito e/ou deficiência.”

A filosofia e o estilo de vida do Camphill são admiráveis, uma vida de desprendimento material, busca de paz interior, caridade, trabalho em grupo e pratica dos maiores valores cristãos, respeito ao próximo, tolerância, entrega, paciência, humildade. Algo que caiu como uma luva em minha vida, pois mais do que nunca, estou procurando um aperfeiçoamento moral e espiritual, e sendo isso em outro país, ou melhor, na Europa, juntam todos os meus desejos atuais, parece que isso foi algo enviado por Deus, por isso agradeço muito a ele e pretendo aproveitar intensamente cada minuto que me for oferecido para a pratica de meus valores e virtudes.

A verdade é que no atual momento estou indo à Europa trabalhar como voluntário numa instituição de caridade, e apesar de toda informação que tenho, estou pegando um avião rumo ao desconhecido, pois não passo de um jovem brasileiro de classe média criado em uma capital provinciana e que mal pisou em solo estrangeiro, principalmente sem o amparo de parentes por perto. Não quero voltar a morar em Fortaleza, quero vida nova, cultura nova, portanto o futuro é incerto.

Não sei o que me aguarda, não digo isso para os próximos meses, mas sim para os próximos anos, estou arrumando a mala para atravessar uma névoa que jamais atravessei, mas sempre quis atravessar, a procura de lugares que só vi na TV, nos filmes, nos livros. Não tenho medo, meu espírito busca liberdade, busca vida, busca os desafios, as batalhas, algo me conduz, algo me convence que devo alçar as velas e caminhar, e sei que nos momentos de solidão, estarei com Deus ao meu lado, pois ele sabe que estou a disposição dele, e farei de tudo para merecer sua luz quando estiver atravessando os cantos mais obscuros de minha jornada.

A vida sem desafios, sem sofrimento, a vida de ócio e de contemplação não é nada, por isso busco as provas, busco o crescimento, a maturação, busco aumentar minhas forças, progredir o espírito, para que após muito suor, os momentos de descanso me mostrem o real caminho da felicidade, pois só desfrutamos dos gozos da alma após árduo trabalho, após a fadiga das dificuldades.

No próximo post escreverei o porquê de escolher o Corbenic e a Escócia, falta pouco, fiquem comigo! (Para acessar o website do movimento Camphill no Reino Unido e País de Gales basta dar uma olhada no final do Post 01 desta série). A seguir algumas imagens de Camphills pelo mundo.


Camphill para Crianças


Comunidade


Trabalhos domésticos em grupo


Padaria


Jardinagem

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O jovem conflitante


Por muito tempo observei, e ainda observo diariamente, o comportamento de alguns jovens quando necessitados de preencherem suas vidas, preencherem sua mentalidade, desenvolverem atividades que dessem sentido ao seu dia-a-dia, principalmente na falta de filhos, trabalho e até estudos, em alguns casos. O jovem está sempre à procura de se ocupar, nem que a ocupação seja o próprio ócio de ficar em casa vendo séries de TV repetitivas ou jogando games de mesmas características.
Dentre a infinidade de ocupações que os jovens escolhem, uma das que me chamam mais atenção é a de “articulador psico-social”, geralmente praticada pelas mulheres, ou meninas, se assim preferir. Este jovem tenta manter constantemente uma série de conflitos interpessoais, onde estão presentes os maiores extremos das paixões humanas, praticando seus sentimentos de forma intensa e desmedida, seja ele amor, ódio, ciúme, inveja, companheirismo etc.
Para este jovem, é como se tudo fosse um jogo, o jogo da vida, das pessoas, dos interesses, das aparências, do materialismo e da hipocrisia, e no caso de vários, da falsa assistência psicológica. A prioridade é sempre a articulação de seu jogo, ele pode estar no enterro do avô, mas se um dos seus dois celulares tocar, ele precisa atender, afinal de contas, deve ser algum amigo(a) de ressaca moral precisando de socorro ou alguma informação privilegiada da baladinha da noite passada.
Vez ou outra, observo aquela menina que sempre está com dois celulares, e esses celulares não param de tocar, e quando param, ela mesma liga para alguém, não importa o quão fútil seja o assunto conduzido naquele momento, o objetivo é estar sempre com o aparelho no ouvido, aparentando assim uma importante ocupação, ou o simples prazer de se sentir uma pessoa solicitada. Ela está sempre andando apressada, para um lado e para o outro, repelindo o máximo possível todas as interações novas que podem interferir naquele “planejado” dia. Mas se caso houver uma interferência, ou seja, se um infeliz abordá-la, ameaçando assim a difícil missão de ser intocável, ela se transforma em um anjo, forçadamente, pois na realidade ela gostaria de dar uma bela bufetada na cara do sujeito. Porém, aparentar educação e serenidade também faz parte do jogo, principalmente se ela estiver num lugar público, onde outras pessoas podem formar opiniões a partir de suas atitudes.
Essa menina carrega a doce ilusão de que sua vida é plena, saudável, e sempre está preenchida de uma maneira valorosa, ela tem certeza de que é uma mestra das articulações psico-sociais, possui uma falsa auto-estima inabalável, munida da equivocada doutrina de que ela deve estar sempre linda e de rosto erguido, e se puder elevar o olhar, diminuindo assim seus semelhantes, melhor ainda. Ela garante que sabe tudo que uma garota deve saber, dessa forma, todos os problemas psicológicos, dela ou das amigas, podem ser resolvidos. Ao mesmo tempo em que ela garante possuir esse poder para derrubar qualquer figura incômoda de seu caminho, agindo maquiavelicamente, sempre pensando em si e sua vitória no joguinho. Gerar um conflito é fácil, e é a melhor ferramenta quando as coisas parecem estar ficando chatas e monótonas é justamente essa, é como um garoto traquino que, sem ter o que fazer, esconde-se atrás da mureta de sua casa e joga pedrinhas nas pessoas que passam na calçada.
O jovem entrega sua vida ao joguinho, ele imagina ter achado seu preenchimento naquele espaço, naquela fantasia, fantasia desenvolvida nos mínimos detalhes, algo que levou anos para ser construído. Mal sabe ele que a costura da fantasia ficou muito apertada e vai ser difícil retirá-la, mas um dia ele se libertará, cedo ou tarde aquela fantasia vai pesar, seu espírito aprisionado vai querer sair, vai querer respirar, vai querer sentir o mundo como ele é. O orgulho e o egoísmo cansam, um dia eles caem, e é então que a essência da passagem terrestre é descortinada, a realidade dos fatos, o entendimento, ou como esses “jovens articuladores” gostam de falar: “Um dia a porrada é grande”.
Desapegue, trate seus semelhantes igualmente, não se prenda a coisas pequenas, olhe a vida por cima do material, não por cima das outras pessoas, engrandeça, pratique o amor, a entrega, o trabalho e os estudos, sem querer recompensa, pensando no pouco é que se consegue o muito. Tenha paciência, entenda que você é tão frágil quanto aquele cara esquisito que faz coisas esquisitas, seja flexível, faça-se de tolo e tente aprender as coisas mais simples, aquelas que você tem vergonha de dizer que não sabe fazer, abuse da humildade. Um dia a fantasia cairá, resta só escolher se é pra já ou para depois, pois tudo é questão de tempo, nós nunca paramos de crescer.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Morada iluminada


Procuramos os porquês, não encontramos motivos, desconfiamos da justiça de todas as coisas, rendemo-nos às explicações sem sentido, consideramos manifestações aleatórias. Viramos o rosto e a mente, ocupamos a caminhada com desejos fúteis e estilos de vida pouco racionais. Usufruímos de condições que pouco nos esforçamos para chegar, procuramos a felicidade onde não existe, iludimo-nos com pequenos e inseguros sorrisos. A preferência é dançar com os homens, mesmo estando claro que a música não parte deles.
Na dança dos homens, poucos descansam, poucos inspiram o prazer do real bem-estar e do equilíbrio, enquanto a maioria sofre na angústia dos castigos materiais e no próprio casulo da mentalidade mal conduzida. Todavia o caminho é escolhido por vós, que impulsionados pelas paixões da alma, optam pelo sofrimento e fogem da resignação que tanto vos é oferecida. Se tantos sofrem, e pra poucos é dada a oportunidade de servir, como preferem retroceder ao caminho obscuro do egoísmo?
A passagem é curta, e o descanso dos sacrifícios é amplo para aqueles que aqui se esforçam, porém nada digo dos que munidos de grande poder, viram as costas e atingem seus olhos com o impregnante pó do orgulho descabido, deixando-se levar pelos mais fúnebres gozos, aqueles que deveriam ser a última satisfação na vida de um homem, ou até poderiam nem existir. Por que precisamos de tanto? Ora, se o pobre rapaz da calçada não carrega mais que a luz divina, a única consolação e esperança para uma segunda chance, aprisionado na inocência de sua alma deslocada, entregue à obscuridade do vício e da violência.
O que vale um travesseiro a mais, quando outros nem um possuem, o que vale um relógio a mais, quando outros nem as setas do ponteiro sabem entender, o que vale a ostentação se quando partimos dessa vida nada levamos. A moral está na razão e vice-versa, fora dela não passamos de pestes desmioladas vivendo a mercê dos impulsos da ignobilidade. As imagens a seguir foram fotografadas na cidade de Fortaleza-CE, bairro Meireles, zona nobre da cidade, na manhã deste dia. Foram precisos apenas 23 minutos de caminhada. Para ampliar, basta um clique.
















"Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados. - Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. - Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, pois que é deles o reino dos céus." (S. MATEUS, cap. V, vv. 5, 6 e 10.)

domingo, 8 de maio de 2011

O destino, pensando na Escócia


Finalmente! Ou melhor, quase finalmente, não que tenha demorado tanto, mas se tivesse que esperar mais alguns meses ou até um ano, a tristeza iria ser grande. Desde criança eu dizia: “Um dia vou morar fora, nem que seja só por um ano”, era um desejo que vinha da alma, como uma necessidade, não que eu não goste do Brasil, mas a vontade de ultrapassar as fronteiras do país sempre se manifestava nos meus pequenos pensamentos.

A partir da adolescência o projeto foi tomando forma, e para um planejamento racional de como funcionaria, eu analisei todas as circunstâncias de minha vida para que tudo viesse a se realizar. A maior dificuldade para ter uma experiência no exterior quando ainda somos “teens”, ou seja, aquela idade que vai até os 19 anos, é o custo financeiro, afinal de contas, não trabalhamos (na maioria das vezes), não temos currículo para disputar uma vaga de bolsa de estudos ou trabalho e somos dependentes de alguém, geralmente de nossos pais. Portanto, o planejamento de uma viagem tem como base os recursos que podem ser voltados a ela.

Os intercâmbios que a maioria dos adolescentes fazem, aqueles por intermédio de empresas, geralmente para EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia etc, são em sua maioria bem caros, principalmente se o período for acima de 6 meses. É o tipo de intercâmbio caça níquel para classes abastardas e/ou médias que realizam um grande sacrifício para verem seus filhos passando por esta grande experiência. Eu, que faço parte dessa classe média, poderia até colocar meus pais na parede para passar 6 míseros meses nos EUA, porém, esse tipo de intercâmbio nunca me atraiu, sempre achei muito amparado, enganador e perdulário, mas é claro que é uma opinião particular, não tiro mérito daqueles que aproveitaram nessas condições.

Outra opção era o intercâmbio de trabalho, também oferecido por empresas, como “Au Pair”, por exemplo (geralmente para meninas) e aqueles outros como trabalhar em estação de esqui e serviços do gênero. Algo que já me atraia mais, pois queria trabalhar, ralar, sofrer. Comecei a estudar este caminho, porém as exigências de experiência de trabalho e um bom nível de inglês aumentavam minhas dificuldades e provavelmente fariam com que a suposta viagem demorasse um pouco.

Enquanto eu estava aqui batendo cabeça para saber como faria para realizar essa viagem, minha irmã estava nos EUA há um tempo, trabalhando como “au pair”, estudando e realizando o sonho dela como muito havia planejado. Sabendo ela do meu mesmo desejo de morar no exterior, começou a me ajudar a buscar uma maneira de como fazer uma viagem legal, e como já estava em territórios estrangeiros, possíveis portas de entrada eram mais visíveis. Durante esse tempo pensamos em muitas coisas, desde cursos e subempregos até disputa de bolsas para praticar esporte em universidades americanas. Enquanto isso eu já estava dando o gás no curso de inglês para estar pronto para qualquer oportunidade que surgisse, inclusive aprendi muito durante 1 ano de estudos, e de “Joel Santana”, atingi o patamar de, de...bom, não sei dizer bem, mas meu inglês já é suficiente para não passar vergonha, creio.

Eis que numa tarde de 2009 entro no Orkut e lá estavam dois depoimentos enviados por minha irmã, ela escrevia sobre uma espécie de ONG que recrutava estrangeiros para trabalhar como voluntários em diversos cantos do mundo, especialmente no Reino Unido. O nome era Camphill, e se dividia em dezenas de comunidades, cada uma com especialidades diferentes, voltadas para idosos, crianças, deficientes mentais, ou qualquer grupo de pessoas com alguma carência e/ou necessidade aparente. Naquele mesmo dia pesquisei tudo sobre o lugar, o trabalho, e principalmente as interações entre os brasileiros que já tinham ido ou planejavam ir, tudo explicito na comunidade do Orkut. Tudo que li era fascinante, caiu como uma luva, a identificação foi instantânea. O trabalho era o que eu queria, as condições eram favoráveis e os países dentre os quais eu poderia escolher eram diferentes e me despertavam um encanto que poucos lugares do mundo conseguem despertar.

Naquele mesmo ano planejei a viagem para Julho de 2010, enquanto isso faria alguma faculdade pública com o objetivo de juntar dinheiro para possíveis gastos no velho continente (Em 2009 estava no terceiro ano). Escolhi um Camphill na terceira maior cidade da Escócia, Aberdeen, chamava-se “Simeon Care for the Elderly”, era voltado para idosos, e como sempre me dei bem com idosos, resolvi escolher esse. Mandei um e-mail me apresentando, recebi os formulários, preenchi e comecei a colher as referências (os Camphills pedem duas referências de pessoas que tenham convivido com você nos estudos ou trabalho). Infelizmente tive alguns problemas com minhas referências e não deu certo, algo que foi até bom, pois “Simeon” me enviou um e-mail depois dizendo que a idade mínima para os voluntários havia aumentado para 21 anos.

Na mesma época pensei melhor e também achei mais coerente estudar mais a língua e escolher uma faculdade para não atrasar minha graduação, e durante isso começaria todo o processo de novo, escolheria outro Camphill e faria tudo certinho para que não houvesse erro. Também vale salientar que esse um ano a mais foi estreitamente importante para que eu amadurecesse algumas idéias e me preparasse melhor como humano para encarar a viagem com mais firmeza e independência. Algumas coisas acontecem na nossa vida para que colhamos os melhores frutos posteriormente, por isso paciência é fundamental.

Comecei a faculdade de jornalismo prometendo a mim mesmo que iria ser impecável nos estudos, assim meu tempo seria melhor preenchido e eu poderia absorver toda a vivência possível para viajar com segurança. Nesse tempo, escolhi um novo Camphill, chamava-se “Corbenic Camphill Community”, uma bela comunidade rural no meio das terras altas da Escócia, próximo a um vilarejo chamado Dunkeld, um lugar encantador que muito me agradou. Lá, eles cuidam de adultos com deficiência mental, realizando várias oficinas, trabalhos na fazenda, produção de alimentos e vivem em comunidade, num sistema onde todos contribuem para o bem-estar geral. Não pensei duas vezes.

Correu tudo bem com a papelada, preenchimento de formulários, coleta de documentos, coleta de referências, agendamento e viagem para tirar o visto, tudo isso num período de aproximadamente cinco meses, faltando só comprar a passagem, farei isso esta semana. Eu poderia escrever muito mais sobre alguns detalhes, porém o texto ficaria muito extenso e poderia até sair um pouco do foco, portanto responderei qualquer pergunta nos comentários, será um prazer responder. No mais, muita coisa está por vir para os próximos posts, principalmente quando eu estiver lá.

O certo é que estou há menos de dois meses de realizar um grande sonho de infância, e isso tudo me custou apenas muita força de vontade, e é claro, o dinheiro do visto e passagem, que vieram de intervenções externas, não posso negar, mas nada próximo do que eu gastaria com os intercâmbios os quais estamos acostumados a ver. A expectativa é grande para que tudo dê certo e em julho eu esteja lá, recebendo meu treinamento, conhecendo gente de diversos países, apreciando a forte cultura escocesa e contemplando algumas das paisagens mais belas do mundo. Abaixo algumas imagens da região que colhi pelo Facebook, é claro que não mostra muita coisa, mas foi o que consegui, e mais em baixo alguns portais com mais informações sobre os Camphills. Fique comigo e até a próxima!


Paisagem

Venda de produtos fabricados na comunidade

Bosque no Inverno

Bosque no Inverno

Parte da Fazenda

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Navegar é preciso


Desde muito novo o gosto pela aventura e exploração me fascinavam, era uma alegria poder me desvencilhar de meus pais, driblar professores e chegar em cantos desconhecidos, viver algo diferente a cada dia, não precisava ser algo super atrativo, nem inesquecível, mas simplesmente novo, poderia ser uma casa abandonada, uma rua deserta, alguém interessante. O certo é que sempre senti uma pulsão, que me conduzia ao desconhecido, como se fosse uma necessidade, um alimento à insaciável fome do espírito.

O tempo foi passando e os desejos pequenos da infância, como ir sozinho à padaria, pagar uma conta para o meu pai na farmácia, pegar o primeiro ônibus, foram crescendo, algo natural, pois superando pequenos desafios é que projetamos maiores para o futuro, e assim marchamos no gradual crescimento da vida. Eis que comecei a conhecer minha cidade, bairros que não tinha ido, histórias que até então estavam distantes, inúmeras foram as vezes que peguei a linha de ônibus “Grande Circular” só para passar a tarde apreciando a cidade de ponta a ponta, desde os lugares mais abandonados e pobres, até os mais valorizados.

Isso quando a única opção era ficar na cidade ou visitar as praias próximas, mas nada me agitava mais do que uma viagem para outra cidade ou estado, por mais perto que fosse. A alegria era inabalável, pois aqueles olhos que se contentavam com pequenos detalhes diferentes em sua própria morada, agora poderiam entrar em deleite sobre outra cultura, clima, história. Assim, todos os movimentos que envolviam este evento eram feitos com muito gáudio, desde a preparação das malas, passando pela contemplação das paisagens, até os principais objetivos turísticos.
Na escola, minha matéria preferida, irrefutavelmente era a Geografia, principalmente quando os assuntos eram voltados à cartografia (estudo dos mapas), analisar o mapa-múndi no livro, bem ali, na minha frente, passando a mão em cima de lugares a milhares de quilômetros da sala de aula era uma sensação que somente eu conhecia. Focava meu olhar no livro, fechava meu mundo todo ali, e partia com minha opulente caravela pelos sete mares, enfrentando chuva, vento, frio, calor, e todas as intempéries que um grande navegador deve enfrentar. Chegava a países de bárbaros que se curvavam aos meus conhecimentos, como também encontrava nações soberanas onde eu era capturado e observado pelos seus cientistas. E depois disso tudo, ainda gozava da glorificada volta para casa, onde poderia contar por onde andei e compartilhar tudo que trouxe entre meus semelhantes. Tudo ali, sentado, quieto em minha carteira. Tirar nota máxima na prova de Geografia era natural, pena que não posso dizer o mesmo das provas de Matemática.

Em minha adolescência conheci vários cantos do Brasil, principalmente em viagens de carro, cruzei o nordeste em 2007, passando e me hospedando em cidades como Natal, João Pessoa, Recife e algumas do interior. Também fiz uma grande viagem com meu pai até São Paulo, quando passamos por Pernambuco, Bahia, Distrito Federal, Goiás e Minas. Nosso país é grande, e ainda pretendo explorar bastante ele, mas terei que fazer isso em breve, dependendo somente de mim, e farei. Inclusive fiz uma promessa comigo mesmo de conhecer todas as capitais de meu país enquanto vivo.
Em 2008 visitei Orlando, nos EUA, algo que aconteceu por acaso, numa promoção de passagens encontrada por um tio, e quando menos esperava, eu estava conhecendo a Disney, algo que é sonho de muita gente e que nem passava pela minha cabeça acontecer, pois apesar de ser fã dos filmes e ter aquela forte influência desde a infância, sempre tive preferência por lugares exóticos e sem tantas informações. Mas o certo é que valeu, foi uma viagem que não vou esquecer, até porque foi a primeira ao exterior. Fiquei encantado ao conhecer de perto um país de primeiro mundo, a educação, a organização, o retrato de uma história de desenvolvimento gloriosa, o topo das civilizações humanas, nisso, tenho que apreciar a América do Norte.
Outros países, sim, esse é o objetivo maior, o sonho da maioria, e se tratando deste tipo de maioria, bom, não posso negar que faço parte dela. E faço parte não de hoje, mas sim desde pirralho, viver, morar, sentir outros lugares deste planeta, não só visitar como fiz em Orlando, e sim enraizar, absorver, aprender, crescer. Mas como eu conseguiria? Por quais meios? Por onde começar? O que fazer? Bom, devo adiantar a vocês que estou prestes a conseguir realizar este velho sonho. E é com este texto que abrirei a série de posts “Descobrindo as Highlands”, onde contarei tudo, na medida do possível, sobre minha aventura que começara em Julho pelo velho continente.
Convido você a acompanhar este blog pelos próximos meses, o que você vai ler? Eu não tenho a mínima idéia, mas posso garantir que algo bom deve sair, pois todo desconhecido, traz novidades, e todas as novidades alimentam a alma e despertam os sentimentos mais salubres. No primeiro post sobre a viagem, falarei o que vou fazer lá, onde ficarei, como foi o processo, e tudo que tiver relevância, no vídeo abaixo deixarei uma palhinha do que vem por ai. Portanto, até logo!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Considerações sobre a carreira de jornalista


Ao ingressar na faculdade de Jornalismo em 2010, projetei em meu futuro um valoroso trabalho, aquele que fosse capaz de expandir diferentes áreas do conhecimento, proporcionasse a pratica das mais valorosas virtudes humanas e principalmente denunciasse os descasos públicos que muito me ferem a alma, proporcionando uma revolta capaz de tirar minhas condutas dos eixos. Eu queria voz, ação, algo mudando.
O jornalismo aparecia como um grande megafone, capaz de envolver centenas, milhares, ou até milhões de pessoas em prol da justiça. Dediquei-me nos estudos e principalmente nas observações voltadas para a área da comunicação, acompanhei emissoras de TV, rádio, jornais impressos e portais na internet. Analisei minuciosamente depoimentos de jornalistas referentes ao trabalho e ao dia-a-dia. O tempo foi passando e minhas conclusões se consolidavam à certeza gradualmente.
Não demorou muito para que eu confirmasse que o grande megafone não passava de um pequeno apito de cachorro, daqueles baixinhos e agudos que você escuta, incomoda-se um pouco, não entende direito, não se importa com o significado e leva sua vida. Os jornalistas fabricam notícias, e as pessoas não se importam com notícias, pelo menos é assim onde vivo. Com isso, para as empresas de comunicação não perderem seu faturamento, transformaram os jornalistas em profissionais do entretenimento, chamadores de atenção, vendedores de perda de tempo.
Onde está a valorização do suado trabalho do jornalista? Onde está a credibilidade? O charme do equilíbrio, da meditação e da imparcialidade? Aquele jornalismo tradicional, que chega a ser uma arte intelectual, um movimento harmonioso de palavras e envolvimento. A verdade é que o jornalista se transformou num palhaço (com todo respeito a esses artistas), onde o diferencial do profissional não está no conhecimento, está na aparência e na capacidade de atrair o público, e isso já toma forma logo na academia durante a vida de estudante.
Não senhor, desculpe, não era isso que tinha escrito quando eu me inscrevi, disseram-me que eu demoraria a receber um salário, e quando começasse seria pouco, que eu teria que suar, estudar muito, trabalhar muito, para conseguir pelo menos um espaço, onde começaria a conquistar algo, e sim, eu concordei, aceitei o desafio e me entreguei, até porque estou disposto a fazer qualquer coisa para crescer, principalmente como ser humano.
Mas enfrentar tudo isso para chegar à limitação de somente “cutucar” as pessoas? Sem nenhum efeito notório para a sociedade? Para fazer showzinho e entreter o público com sorrisos falsos e assuntos fúteis? Não, estou no lugar errado, não é aqui onde vou conseguir me realizar. A minha briga é direta, é com a mão na massa, não pode depender do povo, tem que depender de mim, e já sei onde encontrarei isso.
O jornalismo não é capaz de me oferecer o poder necessário para realizar o que a intuição e o espírito tentam revelar, desafios que requerem muito além da arte de fabricar notícias. Minha missão precisa de ferramentas mais brandas, de força, de condições para adentrar ao sistema. Algo me diz para sonhar mais alto, não só diz, como quase exige, sonhos que me permitirão utilizar todas as minhas faculdades e toda minha energia, alcançando resultados efetivos e vitoriosos.
O tempo que passei na comunicação foi muito válido, e com certeza armazenei conhecimentos que me serão úteis futuramente, e possivelmente será meu diferencial na batalha que procuro. Tudo acontece como deve ser, e no tempo que deve ser, e ao encontrar sua posição, o homem se vê seguro no caminho da honra e da iluminação divina, algo que requer sacrifícios, e principalmente muita reflexão, mas que no final, oferece um glorioso repouso de bem-estar e realização.