terça-feira, 10 de julho de 2012

O tripé da qualidade de vida

Diariamente somos bombardeados de informações sobre o que promove uma qualidade de vida real e estável, são revistas, telejornais, documentários, jornais e todos os tipos de meios de comunicação explorando o tema. Realmente este é um assunto popular e muito atual, faz parte de um movimento humano para o início de novos dias sem doenças, estresse, tristeza e por uma incansável procura de paz e bem-estar. Hoje falaremos então das três grandes bases da qualidade de vida, fortes alicerces que oferecem ao ser humano um terreno seguro para construir sua vida em tranquilidade.

A primeira base deste tripé é a alimentação. Esta base condiz diretamente com o estilo de vida que você quer levar, não só isso, como também fala muito de sua personalidade. Há até quem diga que “você é o que você come”, e isso pode ser até verdadeiro. A importância da alimentação na qualidade de vida é algo notável que pode ser percebida facilmente ao comparar uma pessoa que consome alimentos frescos e naturais, ricos em frutas, verduras, grãos etc, com uma acostumada aos tão queridos industrializados, como refrigerantes, salgadinhos, enlatados e todos aqueles com alto teor de artificialidade e química de conservação.

Na comunidade em que vivi na Escócia, praticamente 100% da alimentação era orgânica e produtos industrializados eram evitados, só tendo espaço quando realmente necessários. Era notável a saúde e a vitalidade das pessoas. Não quero responsabilizar a alimentação por isso, mas eu tenho certeza que ela é uma das principais causas desse bem-estar, logicamente, pois não é à toa que eles iriam se preocupar tanto com o que é ingerido naquele lugar, principalmente pelas pessoas com deficiência. Ser vegetariano e ter uma reeducação alimentar também é de grande ajuda neste processo de aumento da qualidade de vida.

A segunda base é atividade física, isso não precisa nem falar, pois se um dia pensarmos numa imagem da qualidade de vida, veremos alguém praticando um esporte, apesar de o assunto ser algo bem mais abrangente. Colocar o corpo para trabalhar ao limite de vez em quando faz muito bem ao sistema biológico e promove um bem-estar indescritível, além é claro da sensação psicológica de auto-estima. Os resultados adquiridos com a pratica de um esporte são reais e muito eficientes, seria até perda de tempo falar sobre isso, tendo em vista que a cultura do esporte é tão disseminada em nosso país de forma benéfica. Somos brasileiros, temos famas de bom condicionamento físico, seriamos até uma grande potência olímpica se o governo resolvesse investir nesta área, porém ainda há muito em que se investir primeiro.

E para fechar, eu não poderia esquecer da base mais importante, aquela que talvez seja a mais necessária em nosso planeta no momento, o exercício intelectual. Algo que é sempre deixado para segundo plano em meio a uma vida tão cheia de problemas, problemas que em alguns momentos poderiam ser encarados bem melhor com a ajuda de um desenvolvimento intelectual apropriado, uma leitura, um estudo, uma meditação ou qualquer coisa que exercite a mente. Aprender, tentar, reconhecer o erro, tentar de novo, é isso que move ao ser humano ao progresso, essa luta pelo avanço, pela solução dos problemas, pela absorção de conhecimento.

Mas o fator mais impressionante é que o exercício intelectual não só desenvolve a inteligência como também auxilia muito bem na saúde e na qualidade de vida, ora, não me diga que você nunca viu um daqueles velhinhos que parecem só estarem vivos porque ainda tentam usar o cerébro, por mais que estejam velhos e fracos, parece que a longevidade é um prêmio para uma vida de alta atividade mental. Sem sombra de dúvidas, ser sábio é uma ferramenta poderosa para promover a qualidade de vida, pois é esta sabedoria que auxiliará qualquer problema pessoal durante esta passagem na Terra. Por isso não se esqueça de ler, debater, conhecer coisas novas, viajar, abrir a cabeça e abraçar cada detalhe ao seu redor, pois isso lhe preencherá e lhe transformará numa pessoa rica e cheia de luz.

Portanto este é o tripé da qualidade de vida: alimentação, atividade física e exercício intelectual. Se focarmos nessas três bases e planejarmos uma vida que não esqueça de nenhuma, é garantido um sucesso e um bem-estar que não faria ninguém voltar atrás. Vale lembrar que estes três estão fortemente conectados, e que se um estiver fraco, os outros dois não terão apoio suficiente para se manter em pé, deve haver um equilíbrio e igual atenção a todos. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Vida em comunidade

Padaria da comunidade, produção diária 100% orgânica.
Antes de falar sobre vida em comunidade, gostaria de falar sobre a vida usual que eu tinha (e teoricamente ainda tenho) no Brasil. Morava com minha família num bom apartamento no bairro do Meireles em Fortaleza, eu, meus pais e minha irmã que há alguns anos também deixou o Brasil, deixando nosso lar mais vazio. Morando num centro urbano, nunca falta nada, a vida é relativamente boa e nos dá até a impressão de que somos felizes. Vivemos rodeados de pessoas, de informação, de movimentação, sentimo-nos como altamente civilizados e envolvidos no mundo e na sociedade.

Porém algo sempre me incomodou neste estilo de vida, pois sempre senti um vazio e um deslocamento, como se ali não fosse o meu lugar, algo que sempre me inspirou a viajar e conhecer as opções que eu poderia ter para minha vida mundo a fora. Em meu lar, apesar de viver em harmonia com minha família, algo estava faltando, havia algo preso naquele cotidiano, sentia-me confuso, procurando descobrir porque todos se adaptavam tão bem às suas respectivas vidas e eu nunca conseguia me sentir estável.

Foi então que decidi experimentar a vida em comunidade, morando na Escócia, numa comunidade para deficientes mentais. Um lugar adorável entre as montanhas, adormecido num majestoso vale, banhado por um rio de águas geladas que penetram em meu quarto com o pacífico barulho da corrente incessante. Aqui a natureza é tão imponente, que este jovem da cidade não consegue nem lembrar com precisão a paisagem urbana. Aqui a vida é tão bonita e radiante que a palavra estresse continua sem sentido mesmo com qualquer professor Phd tentando explicar seu significado.

Trabalho em Madeira, workshop terapêutico.
Corbenic, onde moro, é uma comunidade dividida em 5 casas, Lochran, Mullach, Lindisfarne (minha casa), Cottage e Turach. Cada uma possui cerca de 8 a 10 pessoas, incluindo residentes e voluntários não-fixos (eu sou um deles). Minha casa possui 6 residentes (deficientes mentais) e 4 voluntários, além de coordenadores e outros empregados que não moram na casa fixamente. Imagine você, em pleno ano 2012, morando numa casa de 10 pessoas, talvez os seus avós saberão como é isso, já que na geração deles, isso seria mais normal.

Tente imaginar esta situação, eu suponho que mesmo com muita força de vontade, você não consiga ter ideia de como rica e movimentada seria a sua vida, principalmente porque grande parte da casa seria dependente a você, como você foi um dia das pessoas que te criaram desde a infância. Morar em comunidade é simplesmente preenchedor, e depois desta experiência você se pergunta como os seres humanos estão conseguindo viver cada dia mais isolados um do outro, se isolando na sociedade e até entre suas próprias famílias, trancando suas portas para seus semelhantes, sem muito amor restante, sobrevivendo sem brilho e sem respostas.

A cada dia que passa neste lugar, onde cerca de 60 pessoas vivem e outras dezenas circulam voluntario ou profissionalmente, eu concluo mais sobre a reflexão a respeito da natureza humana, do estilo de vida que deviamos seguir, enxergo que este período que vivemos, onde as famílias se isolam com medo uma das outras, é só uma pequena fase de rebeldia da humanidade, que logo logo reconhecerá sua real origem e se juntará como uma grande rede de paz, amor e fraternidade, onde o espírito comuntário reinará, e a felicidade se espalhará no coração de cada ser deste planeta.

Viver em comunidade é utópico e prazeroso, é criar laços fraternais, é assumir uma identidade real, é crescer incessantemente e reconhecer que não somos nada sozinhos. Somos como as células deste planeta, e só entraremos em harmonia quando trabalharmos juntos para a manutenção de todo o corpo. Uma grande lição levarei deste lugar e gostaria de mostrar para toda a humanidade, não somos nada sozinhos, absolutamente nada, se não abrimos nossos corações para nossos semelhantes, seremos apenas rebeldes nadando contra a corrente do progresso.

Reflita sobre o que o sistema está fazendo conosco, destruindo nossos laços e impondo uma ideologia de individualismo e competição, premiando aqueles que rebaixam os outros, mantendo hierarquias tiranas, maltratando a dignidade humana com a obsessão doentia pelo lucro, é este o mundo que queremos viver? Existem possibilidades muito mais compatíveis com nosso nível de evolução, não fechemos os olhos para o que acontece neste exato momento no planeta Terra, lutemos por uma nova era de união e progresso.

Voluntários de várias partes do mundo, Yuko (Japão) e Theresa (Áustria).


Separação do lixo para reciclagem, colaboração coletiva.
Cottage, uma das casas de Corbenic.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Arte no sangue, primeiras impressões da Europa

Depois de um longo vôo de nove horas em direção ao velho continente, cansada e com uma mala cuidadosamente preparada para enfrentar o mês que estava por vir, os meus primeiros passos em solo europeu, na verdade, aconteceram no subsolo do metrô de Madrid. Depois de entrar em um vagão errado e, por fim, aprender na marra a desvendar o metrô espanhol, finalmente chego à estação de destino, já exausta pela longa viagem e pelo peso da mala. Ao subir os primeiros degraus em direção à cidade, deixando para trás a estação, tudo me arrebatou de uma só vez - o frio, a ansiedade, a expectativa, o barulho de pessoas, a movimentação dos carros e a música. Sim, a música!

Uma música viva e alegre, servindo de trilha sonora para os passantes e dando novas cores aos meus primeiros minutos de viagem. A melodia vinha de uma banda de rua, composta por saxofones, trompetes, pandeiro, violoncelo, bateria, enfim, vários instrumentos afinados em um só tom, à espera de algumas poucas moedas. Me senti protagonizando uma cena de filme, onde aquela música era o presente de Madrid para mim, para me receber. Foi uma cena inesquecível.

Ao longo do mês descobri que essa situação era extremamente comum nas grandes cidades européias. Em bandas, em duplas, solitários, quer seja com uma simples flauta ou com violinos, dentro do metrô, em frente a lojas de luxo, ao lado do rio, em cima da ponte, no meio da calçada... qualquer hora é hora de música. Os estilos variavam desde a música eletrônica, passando por coldplay e chegando até a música clássica. Percebi que esse hábito está no coração do europeu. Andar nas ruas ganha outra sensação, os prédios cinzas ganham novas cores e um dia ruim ganha novos rumos, não só pela música mas também pela arte de rua.

Lá a pichação e o grafite viram arte, transformando as paredes e muros em telas brancas que são preenchidas de formas muitas vezes engraçadas, servindo como protestos, brincadeiras irônicas e até mensagens irreverentes. Tudo sem perder o tom artístico. Banksy, artista de rua famoso nas ruas londrinas pelos seus desenhos irreverentes e sarcásticos, cheios de significado nas entrelinhas, é um ótimo exemplo do que podemos encontrar ao andar com atenção pelas ruas da cidade.

A arte, entretanto, não para apenas nas ruas. Na verdade, lá ela apenas começa. O principal está dentro das paredes dos museus, presentes na maioria das grandes capitais. É comum observar excursões escolares, até mesmo para os mais pequenos, para visitar obras de pintores como Van Gogh, Picasso, Matisse, Modigliani, Salvador Dalí, Leonardo da Vinci, Miró e muitos outros nomes inclusive de arte moderna, que não me agrada tanto, mas que também conquistou o seu espaço por lá. Nas alas dos museus sempre há estudantes de desenho com os seus cadernos de rabiscos em busca de inspirações entre as esculturas e obras de arte, geralmente sentados desenhando por horas a fio. Em muitos países, os residentes europeus têm direito a entrada franca ou a passes mensais com custo reduzido aos museus que não são gratuitos.

Em Londres, onde a maioria dos museus não cobra ingresso, contando apenas com a doação voluntária dos visitantes, é possível inclusive pesquisar mais sobre as suas obras preferidas - há cartões magnéticos à disposição dos visitantes que, quando passados em frente aos leitores de cartão ao lado de cada obra, colectam os dados do quadro selecionado. Em casa, com o cartão em mãos, basta entrar no site do museu e digitar o número de série do seu cartão para ter acesso a mais informações a respeito de sua obra. E o melhor: tudo é grátis, desde a entrada ao museu até o login no site.

Uma das melhores partes, entretanto, está na saída dos museus. Nas lojas, ao fim da visita, ou mesmo nas mãos de vendedores ambulantes nas proximidades dos museus, é possível comprar reproduções e releituras de quadros famosos a preços acessíveis, inclusive para trazer para casa como souvenirs. As ruas se transformam em verdadeiras mostras de arte, cada pintor com o seu trabalho, uma obra mais criativa que a outra, quer seja a tinta ou a lápis, é possível ver a arte se manifestando nas suas variadas formas. É difícil não se deixar levar.

Sem desmerecer a arte brasileira, que também é sensacional e sem dúvidas tem o seu valor, por mais que ainda tenha que conquistar o seu espaço, mas a minha viagem ao velho continente foi uma surpresa agradável nesse sentido. Não é difícil entender porque grande parte das tendências de arte, música e moda surgem todas de lá, onde a arte corre no sangue e o clima se espalha pelo ar. O amor a arte só cresce quando cultivado, em qualquer parte do mundo.