quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Estate Work, meu trabalho das manhãs na Escócia


Aqui em Corbenic, além de cuidar dos residentes dentro e fora de casa, os co-workers também trabalham nos Workshops terapêuticos, um de manhã e outro a tarde. De segunda à sexta-feira, com exceção de terça-feira (meu day off), eu trabalho no “Estate Work”, não consegui achar nenhuma tradução da palavra para retratar o trabalho, portanto tentarei explicar o que fazemos. Os membros do “Estate” são responsáveis pelos trabalhos externos da comunidade, ao ar livre, mas sem algo específico, nós fazemos tudo, desde enterrar um animal morto no meio da floresta até guardar a decoração da festinha da noite passada. Porém é claro que alguns trabalhos nós estamos mais acostumados, como construir trilhas, cortar lenha, queimar madeira velha, cortar grama etc.
Na sala do “Estate” você encontra tudo que o “cara da manutenção” tem, ferramentas de todos os tipos para uma infinidade de trabalhos, pás, carrinhos-de-mão, motoserra, tridentes, vassouras, cordas, diversos tipos de tesouras e um monte de coisa que eu nem sei o nome, inclusive muitos objetos que uso aqui eu aprendi o nome em inglês mas não tenho nem ideia de como seja em português. Costumamos levar o lixo da comunidade para reciclar nos pontos de reciclagem das cidades próximas e atualmente com a proximidade do inverno estamos entregando lenha quase todo dia na casa de pessoas que ajudam Corbenic ou possuem alguma ligação com a comunidade. Provavelmente no inverno seremos os caras da neve, aqueles que passam o dia com uma pá limpando o asfalto e as trilhas.
Trabalhando junto comigo estão mais cinco Co-workers, os três brasileiros, Zé, Arthur e Daniel, uma coreana, Hyriem, e um húngaro, Mark. O workshop leader, ou seja, a pessoa responsável pelo Workshop é o Jon, irlandês, gente finíssima, sempre ajudando em tudo, bem-humorado, extremamente paciente e um ótimo profissional. E é claro, não poderia esquecer dos mais importantes, os residentes, as pessoas especiais que precisamos ajudar, encorajar, motivar e cuidar para que tenham uma manhã produtiva em suas atividades. Atualmente trabalhamos com quatro residentes, uma mulher e três homens, cada um mais diferente que o outro, mas todos conseguem ajudar. É altamente divertido estar com eles, isso torna o trabalho muito prazeroso, não tem um dia que eu não caia numa gargalhada, nem que seja uma só. Infelizmente não posso citar os nomes e dar detalhes sobre as características de cada um, um dos meus deveres também é garantir a privacidade e protegê-los em todas as hipóteses.
Trabalhar no “Estate” é muito gratificante e enriquecedor, digo isso porque quase todos os dias aprendo algo novo, o trabalho é bem variado e você está sempre praticando várias habilidades que nunca praticaria vivendo só na cidade. É o tipo de atividade que em alguns momentos nem acredito que estou fazendo aquilo, pois é algo totalmente fora da minha realidade no Brasil. Também estou aprendendo muito sobre a natureza, como viver em harmonia e utilizar o que ela oferece com consciência, ao mesmo tempo que queimo e corto muita madeira aqui, também planto muitas árvores, isso é algo que amadurece minha visão ecológica todos os dias. Abaixo algumas fotos do nosso dia-a-dia, infelizmente isso não é nem 5% de tudo que fazemos, mas serve para dar uma ideia. Gostaria de lembrar que estou entre os finalistas do prêmio TOPBLOG Brasil 2011, categoria “Viagens e Turismo – Pessoal”, serei grato se puder contar com sua ajuda, basta ver o banner azul do concurso à direita, clicar e votar. Muito obrigado, saudações ao Brasil!








terça-feira, 8 de novembro de 2011

Quarto mês na Escócia


O Outono já se aproxima de seu fim e com ele eu completo quatro meses na bela Escócia de Robert Burns, um país que descubro, entendo e absorvo mais conhecimento a cada dia, a cada novo trajeto e a cada novo desafio. Uma satisfação recheia meu espírito que caminha feliz com a decisão de ter aceitado esta jornada, de ter aceitado vir para um lugar onde não conhecia nada, ninguém, muito menos sabia ao certo como seria o trabalho. Hoje tenho amigos de várias partes do mundo, trabalho com pessoas que nunca vou esquecer e viajo por lugares belíssimos que nem as fotos que tiro conseguem descrever. Sinto-me completamente adaptado, seguro e dono de diversas situações que há uns anos atrás nunca imaginei estar vivendo. As pessoas confiam em mim, no meu trabalho, tenho credibilidade e com isso ganho cada vez mais espaço para expressar o que sinto e as ideias que passam pela minha cabeça.
O tempo passa e cada reflexão me faz crescer mais, atentar-me às minhas falhas, onde posso melhorar e quais são minhas reais vocações. Estudo a mim mesmo, procuro o que me faz feliz, vivo em sintonia com aquilo que busco, pois aqui não há ninguém para interpretar de má forma meus desejos e minhas vontades, todos se respeitam, todos admiram o mundo diferente de cada um, ninguém está interessado em julgar ou criar preconceitos medíocres, cada um sabe que sua própria vida já é um grande desafio para cuidar, portanto não perdem tempo com a dos outros. Aqui tenho espaço para ser eu, para conhecer minha essência e traçar minhas metas, aqui entendo como se busca a realização pessoal, o que me importa e o que pode ser totalmente ignorado.
Estou feliz com meu inglês até aqui, apesar de não querer parar de aprender, consigo conversar bem, pedir informações, articular minhas ideias e ler sem problemas. Considero-me suficiente fluente para quem está há 4 meses no exterior, porém quero ampliar mais meu vocabulário, por isso estou lendo bastante sempre que possível. Não paro meus estudos espirituais, cada dia mais detalhado e aprofundado, e quanto mais faço isso, mais me sinto forte e seguro. Comecei a ler sobre Antroposofia, é a filosofia base da instituição em que trabalho, parece com o espiritismo em vários pontos, mas sinto que é bem mais trabalhada e possui mais obras tratando sobre diversos temas da humanidade. No momento estou lendo um livro chamado “Os Destinos dos Individuais e das Nações”, escrito durante a primeira guerra mundial, um dos diversos livros de Rudolf Steiner, o pai da Antroposofia.
Meu amor pelos meus residentes não para de crescer todos os dias, trabalhar com pessoas especiais é definitivamente algo incrível, espetacular e muito gratificante. Não sei se dei sorte ou o que aconteceu, mas os residentes da minha casa são algo que me enche de alegria todos os dias. Não sei como vai ser quando voltar ao Brasil, quando saio para viajar no final de semana por dois dias já fico com saudade deles, imagine quando for embora definitivamente. São sorrisos e demonstrações de carinho que arrancam da gente aquela energia que nunca se sabe de onde vem, apenas surge e você vai lá cuidar deles e fazer o que eles precisam em troca de nada, é prazeroso, apenas fazer e ver eles se sentindo bem, felizes e seguros de que podem confiar em você.
Tenho saudade da minha família e da sensação de liberdade que me permitia fazer o que quiser em alguns momentos, pois apesar do trabalho ser prazeroso, é impossível não sentir falta de alguns aspectos do cotidiano “normal”. Sinto falta de dirigir ouvindo minhas músicas, de uma boa conversa em português, de assistir filme numa grande televisão e não no computador, de viver a faculdade e o ambiente acadêmico onde a busca pelo conhecimento é sempre motivada, entre outros. Sei que todos os lugares que passamos sentiremos saudades de algumas coisas, pois tudo há o seu lado positivo, talvez sentirei muitas saudades daqui quando estiver novamente no Brasil, isso só saberei ano que vem.
Minha alimentação está bem mais leve, alimentos orgânicos, integrais e há um bom tempo não como carne, quando como é algo pequeno que vem recheando alguma pizza ou desfiado em alguma comida, quase nada. A diferença de necessidade do meu corpo é notável, minhas fomes são fracas e não preciso comer tanto quanto comia no Brasil para ficar satisfeito. O vegetarianismo é o máximo, oferece muito mais energia e dá sempre uma sensação de leveza. Além disso minha saúde está ótima, raramente tenho uma dor de cabeça por cansaço, algo que uma noite bem dormida sempre cura, mas além disso, absolutamente nada.
Nunca estive tão bem espiritualmente, Deus nunca foi tão generoso, ou melhor, eu talvez nunca dei tanto espaço para ele mostrar tamanha bondade e amor. Algumas coisas dão certo de um jeito que é impossível chamar de sorte, sinto como se algo estivesse me protegendo a todo momento, não sei nem se mereço tudo isso. Fico surpreso a cada coincidência ou evento repentino que acontece em meu favor, coisas inexplicáveis que me dão a certeza que basta eu fazer tudo da maneira certa que ele sempre estará comigo, e isso trás uma grande sensação de bem-estar.
A neve está se aproximando, alguns locais já estão começando a congelar e as geadas são quase diárias sobre a vegetação, provavelmente verei neve pela primeira vez este mês de Novembro. O frio já está se mostrando e me obriga a tomar mais cuidado com o que visto. Gosto desse clima, o frio nunca foi um problema até aqui. Sábado em Glasgow voltando a pé da pizzaria até o hostel tarde da noite estava ventando muito forte, gelado, apesar deu estar com sobre-tudo, cachecol, luvas, botas e tudo mais. Ao mesmo tempo que sofri um pouco, também adorei aquela situação, pois naquele momento estava passando por um belo bairro residencial de casarões, com belas árvores e o chão repleto de folhas alaranjadas do Outono, uma cena cinematográfica, mágica, e além de tudo eu estava muito bem acompanhado. Foi um momento simples que se tornou inesquecível. Geralmente esses momentos surgem assim, sem você esperar, sem se mostrar tão interessante, mas depois de vivê-los você consegue ver o quanto foram especiais aqueles curtos minutos. Minutos especiais, eles acontecem sempre, diariamente, e se transformam em grandes lembranças.
Ainda não sei onde passarei o ano novo, Zé, outro brasileiro aqui, está cogitando ir para Londres, mas nada definido. Seja onde for, com certeza será mais uma experiência fantástica, cada cidade nova que conheço, cada lugar que passo me adiciona muito, volto sempre com mais ideias, mais inspirado e mais realizado também. Por isso que navegar é preciso, é o combustível do homem, explorar, crescer, conhecer coisas novas, é isso que estou buscando agora e provavelmente buscarei pelo resto desta vida. Ficar no mesmo lugar a vida inteira é algo inaceitável para mim, acredito que todos precisam dar um jeito de viajar para longe e conhecer as realidades além de suas fronteiras. Obrigado a você que me acompanha neste blog, fique a vontade para fazer perguntas abaixo, terei prazer em responder cada detalhe que lhe interessar. Não posso por mais fotos aqui pois a internet é muito lenta e o sistema de upload do blogger não é muito eficiente, porém estou postando tudo no Facebook e deixando aberto para todos verem, meu perfil está logo ali na coluna da direita do blog, é só clicar, de qualquer jeito estou enviando 5 imagens do meu final de semana em Glasgow. Saudações ao Brasil, ao meu lar.