terça-feira, 31 de agosto de 2010

Brasil e educação


Estamos nos aproximando de mais um período de eleições em nosso país, de norte a sul os eleitores escolhem seus candidatos em função de seus históricos e propostas, bom, isso é o que se espera. Dentre as propostas oferecidas pelos nossos honestos políticos, estão projetos para melhorar os principais alicerces responsáveis pela manutenção da sociedade, são eles, segurança, saúde, emprego, moradia, infra-estrutura, educação, etc.

Segurança é bom e nós precisamos, emprego também, o cidadão precisa se sustentar, moradia e saúde então, nem se fala, e o que dizer da infra-estrutura, essa é essencial para o progresso. Opa, sentiu falta de alguma coisa? Eu senti, eu sinto, eu estou sentindo há muito tempo, onde está a educação? Por que nós vemos tão poucos projetos para a educação brasileira? Ah, besteira, o importante é o emprego, o bolsa família, o bolsa casa, o bolsa lanche, o bolsa forró, o bolsa cachaça, o bolsa arma de fogo. Ah! Quase esqueci, tem o bolsa escola, olha só, e eu reclamando de barriga cheia. Me engana que eu gosto Presidente.

Vivemos em um país em que as pessoas não se respeitam, matam, roubam, trapaceiam, poluem e não seguem as leis. Mesmo assim ele cresce, o que é normal para um país democrático, estável e de dimensões continentais, mas poderia ser melhor. Como poderia ser melhor? Com educação, claro! A educação é a base, é ela que permite o Brasil crescer de forma saudável, de forma com que não regrida e ocupe sempre um lugar de destaque no cenário internacional. Você já viu o que acontece com a maioria dos ganhadores da Mega-sena? Eles ficam milionários da noite para o dia e depois de um bom período de atividades perdulárias estão sem nada, apenas com a história para contar. Quem sabe se eles tivessem alguma educação financeira, alguma noção de investimentos ativos ou qualquer base de instrução econômica que possibilitasse a boa utilização do dinheiro, talvez a história fosse diferente.

Vejo as pessoas exigindo segurança, saúde, moradia e infra-estrutura. Bom amigos, se o país investisse maciçamente em segurança, convocando milhares de policiais e comprando mais milhares de viaturas, nós só iriamos presenciar uma grande guerra, mortes, sangue, órfãos, viúvas, medo e terror. Se fossem construídos grandes hospitais e comprados toneladas e toneladas de medicamentos, teríamos uma população acostumada a ir ao médico a cada espirro e a se entupir de remédios a cada dorzinha de cabeça (não estou desconsiderando a importância dos hospitais e dos medicamentos). Se o governo oferecesse casas para a população, rapidamente 50% delas estariam alugadas (o que acontece), 25% seriam transformadas em bares, boates e outros estabelecimentos do gênero e o resto seria utilizada de maneira inadequada, sim, existem pessoas que não sabem usar uma casa. 

Se fosse investido mais alguns milhões em infra-estrutura, o viaduto novo seria pichado e habitado por sem-tetos, o canal novo seria presenteado diariamente por sacos e mais sacos de lixo provenientes das residências da região, a praça seria utilizada como ponto de venda de drogas, enfim. Nossas cidades crescem desordenadamente, são casas e mais casas improvisadas se aglomerando bem ao estilo Roma Antiga. Sem problemas! O governo vai construir milhares de residências, bem estruturadas e principalmente com um bom espaçamento entre elas, um espaço para jardim na frente e piscina atrás, como aquelas que vemos nos filmes estado-unidenses. Vamos fazer uma experiência, neste momento todos os brasileiros que necessitam de moradia melhor se desligaram, desmaiaram e essas adoráveis casas apareceram sob seus domínios com a seguinte mensagem na parede: "Olá companheiro, estou lhe presenteando com esta adorável casa, abaixo ofereço um mapa para conhece-la sem transtornos.". Finalmente! O seu Zezinho ganhou a casa que sonhava! Bom, já se passaram dois dias, tempo suficiente para se acomodar, então vamos entrevistá-lo:

- Iaí seu Zezinho, muito feliz?

- Nossa, feliz demais!

- Então vai ficar aqui mesmo?

- Isso lá é pergunta rapaz!

- Bom seu Zezinho, eu vi que você fez uma festinha de comemoração ali fora não foi?

- Ah sim, foi, sábado eu chamei a moçada pra comemorar ali fora, coloquei umas "mesinha", fiz um churrasco e o samba foi até a voz faltar.

- E você não vai dá uma organizada lá?

- Ah, depois eu mando os "menino" tirar as "mesa" e passo uma vassoura.

- Tem muito lixo ali, você não se incomoda?

- Que isso rapaz, com uma casa dessa aqui pode vir até minha sogra morar comigo que eu não me incomodo.

- Tá certo, mas você sabia que a sua casa foi privilegiada e ganhou cestos de lixo para coleta seletiva bem ali na calçada, você vai separar o lixo?

- Separar? Ah sim! Os "osso" a gente joga pros "cachorro" e quando é resto de comida a gente bota num saquinho diferente pra não misturar né...

- Hum, tá certo...E o belo gramado, por que já está tão desgastado?

- Aaah, isso ai é que eu resolvi abrir uma escolinha de futebol pros "menino" da vizinhança, começou ontem, cada um paga 10 "contim", já tem 12 jogando, o meu tá fazendo tanto gol que eu tô pensando em levar ele lá no Ferroviário.

- Ok Seu Zezinho, agora nós vamos ali entrevistar o Seu Guga da rua do lado.

- Seu Guga? Eita rapaz, cuidado, ele num é muito normal não...

- Pode deixar, tô acostumado...

Bom, já deu para notar que por mais que o Brasil invista no que a população acha que precisa, o resultado não seria satisfatório.

Agora vamos fazer mais uma experiência, para tudo! Para o tempo! Parou? Beleza, agora eu quero escolas de primeiro mundo, equipamentos de ponta, tecnologia, bons professores bem remunerados, bibliotecas, arte, muita arte! Música! Filosofia! Eventos culturais, cinema para todos, incentivo a leitura e muito mais! Pronto, pode apertar o "play". Vamos deixar o Brasil "brincando" de aprender durante 10 anos.

10 anos se passaram, olha só, o que houve com a criminalidade? Simples, agora os jovens aprendem uma profissão, são estimulados a sonhar, são ocupados integralmente com atividades educativas, a maioria não sabe o que é uma arma e só viu uma pedra de crack nos livros, e segundo o que leram, nem é preciso conhecê-la pessoalmente, tocar violão é mais interessante, fazer cálculos matemáticos, assistir um bom filme na videoteca da escola, o mundo é grande.

E a saúde? Que esquisito, porque tão poucos pacientes? Simples, a população está se cuidando, sabe se alimentar, pratica esportes, respeita o próprio corpo, evita tomar remédios, enfim.

E as casas que o governo construiu? Por que estão sendo tão bem utilizadas? Simples, a população conhece outras formas de ganhar dinheiro sem alugar suas casas, conhece a regulamentação para se abrir um negócio na própria residência e sabem como ninguém como desfrutar e preservar o lugar onde moram.

E a infra-estrutura? Como está bem planejada e conservada! Simples, temos grandes engenheiros que trabalham arduamente pela excelência de cada obra e o povo preserva e respeita os bens públicos, isso porque eles sabem que o dinheiro investido nas obras sai do bolso deles.

E que manifestação é essa na avenida? Não estava tudo bem? Ah, isso é porque estão desconfiando de um Deputado que usou dinheiro público para pagar um jantar com a mulher, o povo não deixa passar nada!

Concluímos que a educação requer um tempo, talvez um longo prazo, mas quando estabelecida, é notável o seu impacto na sociedade, criando indivíduos virtuosos, justos, honestos, de bom caráter. E desta maneira a base é construída para o progresso, o progresso regular, igualitário, racional. Será que não valeria a pena investir neste bem essencial?

A educação brasileira está falida, tanto em sua estrutura física, quanto em sua estrutura aplicativa. Alguns podem defender a qualidade do ensino particular, pois tenho dito, os pais que possuem condições financeiras, pagam uma quantia exorbitante para verem seus filhos acordarem cedo já desistindo do dia, desestimulados, carregando quilos de livros, chegando a uma sala de aula onde passam 3 longas horas sendo metralhados de informações que não oferecem a mínima noção aplicativa para os pobres adolescentes se interessarem um pouco, depois eles saem para o intervalo e passam 30 minutos ouvindo músicas de baixa qualidade em seus "iPods", dormindo ou conversando com o colega sobre a vida de terceiros localizados no outro lado da escola (como se estivessem encarcerados em uma cela social), retornam à sala de aula e ficam mais 2 horas sendo bombardeados, ali presos, numa cadeira, pequena, junto com seu caderno e sua caneta, até a grande hora do alívio, quando eles vão para casa e passam a tarde dormindo, fazem os exercícios de Física porque são obrigados e procuram distrações na TV ou no computador até altas horas da noite, repetindo-se o ciclo. Ah, nos finais de semana eles saem, bebem, buscam algumas horas de felicidade ilusória e carregam seus acervo de histórias para contar para os colegas nos intervalos das aulas da semana que se aproxima.

Os estudantes não criam, não questionam, não sabem o que faz um vereador, não pensam nos outros, querem se individualizar com fama ou dinheiro, são seres passivos na sociedade, sem brilho, sem personalidade, amedrontados, a única coisa que é cobrada deles é um boletim verde no final do bimestre e um bom resultado no vestibular, ah o vestibular, uma das maiores competições de memorização do mundo, ganha quem viver e aprender menos e memorizar mais, e depois que acabar a prova, pode esquecer tudo. Espero que o novo ENEM seja uma sementinha de mudança.

A educação é o remédio, como diz o Senador Cristovam Buarque: "O problema do Brasil é cultural.". Pena que educação não ganha voto e Buarque foi derrotado nas eleições presidenciais de 2002. Um homem não cresce sem conhecimento, um país não cresce sem educação. Desistam desta grande bolha econômica, do que adianta um país rico onde continuaremos vendo lixo no chão, brigas de trânsito, patrimônio público mal-tratado, pessoas desonestas, entre outros comportamentos desta sociedade sub-desenvolvida, os quais estamos "acostumados".

Abraços!

domingo, 8 de agosto de 2010

As designações da sociedade


Era 1953 quando o estado-unidense Elvis Presley rompia as fronteiras de conduta da sociedade e levava ao palco sua voz ousada e sua dança extravagante, deixando as moderadas menininhas da época em êxtase com cada performance jamais vista na história da música. Era o começo de uma série de iniciações artísticas que agitariam a segunda metade do século XX.


Elvis introduzia sua música violentamente numa sociedade contida, onde o tempo parecia estar parado há décadas. Sua dança, considerada um ultraje para alguns, chegou a ser censurada na televisão, onde só era possível contemplar o busto do cantor enquanto fazia seu "show".

Aquela sociedade, que condenava simples movimentos de dança que ultrapassavam as linhas da boa conduta diante da época, definitivamente não saberia onde se enterrar ao ver "popozudas" do Funk quebrando tudo com "micro-shortinhos" e calçados de salto-alto que paralisam os olhares masculinos, pelo menos há um tempo atrás, hoje já ficou até chato. Enquanto um meio social tentava se recusar a absorver uma cultura anti-conservadora, outro meio social aceita sem remorso algum, algo que não deveria nem ter passado pela cabeça de um Elvis ou mesmo de seus fãs. Isso aí, hoje é normal ver o Pedrinho de 4 anos dançando o "Créu" e a Mariazinha de 6, "procurando o seu negão". O que causava vergonha e constrangimento em uma sociedade, se torna algo puramente normal em outra sociedade.

Portanto, cada geração se difere no ponto de vista civilizador, se adequando ao contexto social em que é inserida. As pessoas são influenciadas de acordo com o fluxo vivido pela sociedade, que muda constantemente, não por pensamentos individuais, racionalmente planejados, mas por uma série de fatores que empurram uma massa de indivíduos a seguir uma série de comportamentos e condutas. Assim, não podemos tratar a sociedade individualmente, pois o agente singular não é capacitado o suficiente para mudar um cenário social, ou você acha que Elvis surgiu do nada? Negativo, nosso falecido cantor era só um produto de uma série de designações promovidas pela época. A sociedade é uma coletânea somatória e desestruturada de muitas pessoas individuais, desta maneira, seu estudo deve ser incorporado coletivamente.

Aristóteles comparou analogicamente a sociedade e seus indivíduos com uma casa e as pedras utilizadas para construí-la, pois não se pode avaliar a estrutura da casa contemplando isoladamente cada uma das pedras que a compõe. Nem tampouco pode se avaliar esta estrutura desconsiderando as características de cada pedra, pois se as pedras forem de fácil encaixe, a casa terá uma estrutura uniforme e promoverá uma moradia agradável, porém, se forem deformadas, haverá uma dificuldade maior para promover o bem-estar dos moradores, que poderão enfrentar problemas como o mal tempo e animais. A sociedade e o indivíduo não devem ser tratados como meros opostos, pois estão sempre de mão dadas, ligados um ao outro.

Se pararmos para acompanhar o contexto social por décadas, fazendo um estudo detalhado afim de definir o "eu" e o "nós", perceberemos que ambos estão em constante transformação, impossibilitando uma conclusão definitiva para o comportamento dos dois. Um "eu" e um "nós" da década de 50 é diferente de um "eu" e um "nós" da década de 90. Assim falando, o tempo se mostra o grande divisor de águas do estudo, porém, devemos considerar também a simples distância ou mesmo a cultura singular a cada sociedade. Por exemplo, uma vila do interior do Ceará possui designações amplamente diferentes de uma grande cidade do leste asiático, isso é fato. Mas não podemos desconsiderar que é possível encontrar semelhanças, o que torna o estudo da Sociologia bastante motivador e intrigante.

Feliz dia dos Pais a todos os Papais, inclusive o meu! Abraço a todos!