sábado, 31 de dezembro de 2011

Aberdeen, a capital dos Camphills

Entrada do Cemitério na Avenida Principal.
Aberdeen é uma cidade localizada no nordeste da Escócia, a terceira mais populosa do país, dona de uma praia bacana e congelante a maior parte do ano, um grande porto e uma movimentada universidade (University of Aberdeen). Além disso é possível batizá-la de sede dos Camphills, pois foi lá onde o movimento começou e se espalhou por todo mundo, vários deles estão lá, inclusive o primeiro Camphill que apliquei antes de Corbenic foi Simeon, um lugar que abriga idosos, não fui aceito pois no mesmo ano eles aumentaram a idade mínima dos Co-workers para 21 anos, o que foi muito bom, pois Corbenic é um lugar fantástico e acho que está enriquecendo bastante minha vida.


139 km separam Perth de Aberdeen.
Para chegar em Aberdeen saímos de Corbenic de manhã em direção à rodoviária de Perth, é o ponto de partida de qualquer viagem de ônibus. O time da vez era eu, Zé (brasileiro), Julia, Lilith e Theresa, todas alemãs. De Perth até Aberdeen são aproximadamente duas horas de estrada, com uma parada em Dundee totalmente fora de mão, mas até que passou rápido com a ajuda de uma musiquinha no iPod. Viajar aqui é bem tranquilo, trem ou ônibus, raramente você vai ter algum momento de tensão, eu pelo menos nunca tive, principalmente em trem, é tão tranquilo e suave que você nem sente a viagem toda, chega sempre rápido.

Chegamos em Aberdeen perto da hora do almoço, a rodoviária da cidade é sensacional, porque não é só rodoviária, é também estação de trem e um mega shopping center bem no coração da cidade. Acho isso fantástico, a maioria das estações da Escócia, principalmente de trem, são bem no centro das cidades, ou seja, quando você chega não precisa ir atrás de táxi ou ônibus desesperado, você apenas sai da estação e já está na rua ou na praça principal, vendo um monte de pontos turísticos de uma vez só.


Union Square, nosso local de desembarque.
Uma estação de trem e ônibus que ao mesmo tempo é shopping center pode ser uma grande vantagem, mas não quando você está viajando com três mulheres, definitivamente, eu e Zé ficamos esperando um pouco mais que uma horinha até as três terminarem de explorar cada detalhe da mega loja de roupa que não lembro o nome. Além disso sempre rola aquele momento de crítico de moda onde a sua namorada fica perguntando qual peça é melhor e você sempre diz: “Esse é perfeito”, “Esse é ótimo”, “Nossa, você tá maravilhosa, paga e vamos embora”.

Fim de compras e reunião para saber qual seria a próxima parada, a decisão foi ficar no shopping pois todos estavam com fome e queriam almoçar. Os restaurantes do shopping estavam lotados e todos tinham fila de espera de pelo menos vinte minutos. Reservamos os lugares em um e lá estava eu de novo seguindo mulher fazendo compra, ô benção. Depois dos 20 minutos na farmácia, voltamos para o restaurante escolhido pelo público por conter algumas promoções enganadoras na fachada, quando na realidade a comida era cara e vinha tão pouco no prato que sai de lá mais triste que argentino depois de jogo contra o Brasil.

Avenida Principal da Cidade.
Dica de hoje: Quando você estiver no exterior e tiver em dúvida de que lugar comer, nem sempre arriscar é a coisa certa, você pode gastar muito e comer pouco. Corra para a pizzaria mais próxima! Sempre funciona. Mas não nego que quando você arrisca também há chances de comer um prato novo e delicioso por um ótimo preço, por isso informação é sempre fundamental antes de uma viagem.

Comemos e eu gastei 11 pounds num prato mixuruca de macarrão com um suquinho de maça que tava mais pra água que para suco. Depois da decepção, finalmente saímos do infernal shopping center, desculpa quem gosta, mas shopping para mim é entrar, comprar e ir embora o mais rápido possível. Pegamos a avenida principal da cidade e começamos a caminhar, senti algo estranho com tanta gente num mesmo lugar, viver muito tempo na roça faz com que a cidade te deixe um pouco ébrio de informação, agora eu entendo porque o caipira quer sair correndo de volta pro interior quando chega na cidade, deve ser meio assustador mesmo.

The West Tower.
O visual de Aberdeen é bem mesclado entre velhas e novas arquiteturas, algo que chama atenção é a tonalidade de cor da cidade, muito mais clara que o normal entre os outros centros urbanos da Escócia. Creio que é algo que eles estão tentando fazer, pois percebi alguns prédios restaurados com cores claras, bem bonito por sinal, algo que sai da mesmice escura e cinza do país. A avenida principal é bem movimentada, bastante gente circulando nas calçadas e grande fluxo de carros e ônibus.

Seguimos caminhando aproveitando as paisagens da cidade e perguntei onde as meninas queriam ir, nenhuma surpresa, queriam ir à praia, ver o mar, algo absurdamente interessante para mim que morei a vida toda em Fortaleza. E então continuei, cansado de tanto bater perna e aguentando o vento frio de lascar. A praia extremamente sem graça, escura, fria, cinzenta e deserta. Chegar a ser bizarro as européias todas felizes por estarem vendo o mar, isso me faz refletir um pouco, acho que tenho que dar mais valor às prainhas que tenho no Ceará.



Parte da Universidade.
Deixamos a praia, passamos no super-mercado, compramos pizzas e fomos para o ponto de ônibus, iriamos para o Camphill School Aberdeen, onde passariamos a noite e eu finalmente conheceria Monise, a brasileira que acompanhei pela internet durante mais de um ano antes de me aventurar neste viagem, ela me ajudou bastante descrevendo o estilo de vida do Camphill e todos os desafios que um co-worker brasileiro poderia enfrentar. Além disso também fomos recebidos por Rodrigo, outro brasileiro que nos acomodou com excelência.

Um fato que marcou um pouco esta viagem foi quando estávamos esperando o ônibus na avenida principal, aqui a parada de ônibus é virada para o lado oposto das paradas do Brasil, ou seja, você senta e fica de frente para as edificações, não para a rua. Eu estava sentado e minha carteira caiu bem na divisória entre a calçada e a rua, num lugar que praticamente ninguém a veria, e eu distraído, conversando e me divertindo com os outros nunca perceberia que não estava com ela. De repente um casal de velhinhos surge com uma carteira na mão, a senhora perguntou se era minha e quase não acreditei quando vi que não estava no meu bolso, ou seja, minha carteira com quase todo meu dinheiro, vários documentos e cartão de débito estava no chão da avenida principal da cidade por longos minutos em que qualquer um poderia ter pegado e continuado andando tranquilamente.


Universidade.
Ela me entregou a carteira e eu falei todo o meu vocabulário de agradecimento em inglês, isso até deixou a velhinha um pouco desconcertada. Isso me fez refletir por alguns minutos o quanto é bom estar em um lugar de pessoas honestas, como é boa a atmosfera de fraternidade e respeito ao próximo. Até hoje estou agradecendo a ela por este gesto de honestidade. Não é querendo ser pessimista sobre o meu país, mas se fosse no Brasil, com certeza as chances de isso acontecer seriam minúsculas.

Pegamos o ônibus e fomos para o Camphill, uma estrutura de encher os olhos, várias casas, sinalizações, mapa na entrada, algo que nem se compara ao meu Camphill Rural, mas cada um com suas vantagens. Foi lá que eu realmente senti a força do movimento Camphill, senti o quão é nobre a ação deste movimento na sociedade, e o quanto é importante para as pessoas com necessidades especiais desenvolverem suas habilidades de forma saudável e terapêutica. Chegamos, comemos as pizzas e Rodrigo nos mostrou os quartos que ficariamos. Eu e minha namorada num quarto no primeiro piso da casa, as duas alemãs no quarto de um residente que estava fora durante o final de semana e Zé no mesmo quarto que Rodrigo.


Curtindo o calorzão na praia.
De noite fomos para uma balada no centro da cidade, a boate era bem interessante, simplesmente porque era uma IGREJA, é isso ai, balada na igreja, imagina só, do lado de fora um prédio centenário e do lado de dentro uma boate de primeiro mundo cheio de pessoas embriagadas “dançando”. Lá dentro é aquele mesmo negócio de sempre, pra mim balada é que nem shopping, sempre igual, gente fazendo movimento estranho achando que tá dançando, nego vomitando no canto da parede, menina constrangida porque alguém passou a mão nela e um bêbado sem noção olhando para sua namorada fazendo cara de mal. É sempre a mesma coisa.

Saímos da balada e fomos até o ponto de ônibus, durante o caminho uma atmosfera bem pesada, você só percebe como é triste o fim de uma noite quando permanece sóbrio para assistir os pobres indivíduos totalmente fora de si após horas de porre e descontrole emocional. Neste momento eu estava torcendo para chegar logo ao clima harmonioso do Camphill. Chegamos e fomos para a cama, estava encerrado o dia em Aberdeen, na manhã seguinte pegamos o carro e fomos para outro destino que você conhecerá em breve através deste site.


Os companheiros de viagem.
Árvore de Natal na Praça Principal.
Cidade já preparada para as celebrações de Natal.
Ruas do Camphill.
Mapa de Localização na entrada.
St. Christopher, a casa que ficamos.
Um dos corredores da casa, pela decoração nota-se a predominância de co-workers.
Dando um passeio pela comunidade.
Diversas casas da comunidade Camphill ao fundo.
Visão externa de uma das casas.
Um lugar tranquilo e propício para o desenvolvimento humano.
Placa indicando a localização da piscina e academia, só para matar os caipiras de inveja.
Mais visão externa da comunidade.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

St. Andrews, a terra do golfe

St. Andrews é uma simpática cidade na costa leste da Escócia, ao sul de Dundee. Pouco mais de 14 mil habitantes vivem lá, entre eles, vários estudantes matriculados na centenária Universidade de St. Andrews, a maioria vindos de famílias ricas de todas as partes do Reino Unido e também da Europa. A cidade é famosa por ser a terra do golfe, sendo palco de grandes competições milionárias com jogadores e apreciadores do esporte de todo o mundo. O tempo é frio, chuvoso e úmido a maior parte do ano, com exceção do verão, quando acontecem vários eventos legais e os escocêses finalmente têm a oportunidade de vestir aquela sunguinha que estava perdida no fundo do armário atrás da garrafa de uísque deixada pelo bisavô em 1948 antes de Cristo.


56 km separam Perth (nosso ponto de partida aproximado) de St. Andrews no litoral leste.

Para chegar até lá, fomos de carro, Daniel (brasileiro) dirigindo, seu irmão Gérson ao lado, Uta (alemã) e eu, é claro. O tempo não estava bom, como eu disse, vento, chuva e frio, mas se você tiver algo contra isso vivendo na Escócia, fica difícil sair de casa. Por esse motivo a cidade parecia um pouco deserta. É tudo bem calmo, pessoas educadas e prestativas, principalmente no comércio, onde funcionários treinados para receber turistas trabalham.

O tempo chuvoso torna St. Andrews mais escocêsa do que já é.
Caminhamos até a catedral de St. Andrews, cartão postal da cidade, o problema é que não tem catedral, só um monte de pedra, ruína e um gramado impecável dando um contraste belíssimo com seu brilhante verde. Inclusive o Reino Unido é a terra dos gramados verdinhos, a grama britânica é famosa em todo mundo, principalmente para quem acompanha o Campeonato Inglês de futebol, dá prazer de assistir uma partida só de olhar para a beleza do gramado.

Saímos da zona das ruínas onde só há cemitério e caminhamos pelo litoral até o fim de uma extensão portuária que vai até o meio do nada no mar, somente o barulho do vento soprando e da água batendo levemente no concreto, todos tiraram várias fotos, e eu não só tirei fotos como também tirei dez quilos de roupas que estava usando e fiquei só de camisa, pois depois da caminhada deu um calorzinho. O bom do clima gelado daqui é que você sente calor, tira sua roupa de frio e em alguns minutos você já está congelando de novo, principalmente suas mãos.

Uma típica loja de Kilts, ou saias para homens, como bem quiser.
Depois do passeio turístico caminhamos de volta para a rua principal da cidade e entramos numa loja que vendia tudo de Escócia, muito comum aqui, toda cidade turística da Escócia você acha uma lojinha dessa. Essa que entramos tinha mais roupas e artigos de luxo, inclusive o comércio de St. Andrews é bem para quem pode mesmo, tudo do mais fino para receber os turistas e amantes milionários do golfe. Comprei um um cachecol xadrez típico escocês e uma camisa escrito “Scotland” no meio, nem levei na sacola, vesti logo na loja, paguei e sai de visual novo. É até engraçado pois toda vez que viajo para alguma cidade legal, começo o dia com uma roupa e termino com algo diferente, é difícil não comprar uma lembrança, as coisas são tão bacanas e até bem baratas.

Ruínas da Catedral.
Nessa loja havia um cartaz escrito, procure aqui a história de sua família, e em baixo tinha a bandeira de vários países, inclusive Espanha e Portugal, de onde meus nomes são provenientes. Olhei o cartaz, comecei a ler baixinho o que estava escrito e o senhor da loja percebeu e logo avisou, “Oh, desculpe, nós não temos de famílias da Espanha”. Eu dei uma risadinha e falei, “Ah, ok, mas no meu caso seria de Portugal”. Meio constrangido o senhor respondeu, “Ohh, desculpe, isso também acontece com a gente aqui na Escócia, as pessoas sempre acham que eu sou Inglês...”. Continuei rindo e falei que tava tudo bem, sai feliz com meu cachecol e camisa nova e pensei: “Imagina se eu falasse que na verdade sou Brasileiro, hehehe”.

Zona Portuária com os amigos do Camphill.

Saímos da lojinha e continuamos a caminhada na rua principal quando fui paralisado por uma vitrine, nela estava perfeitamente instalado o doce que mais gosto por aqui, “Shortcake”, é um tipo de torta de aproximadamente 1,5 centímetro de espessura contendo 3 camadas, chocolate no topo, caramelo no meio, e algo que parece uma massa de biscoito na base. Sou tão viciado nesse negócio que minha namorada me deu duas caixas de Natal, ainda tô aqui me deliciando até agora. Se você vier para a Escócia não deixe de experimentar, o negócio é bom demais, e bem barato! Comprei um para mim e um para o resto da cambada dividir.




Procuramos algum lugar para comer pizza, mas as pizzarias estavam fechadas, então o pessoal quis parar num fast-food para comer qualquer coisinha mixuruca de 3 pounds ou menos. Eu que estava morrendo de fome e não aguento mais fast-food na minha vida, principalmente morando num lugar onde a comida é fenomenal, procurei logo o famoso “Fresh Fish and Chips of St. Andrews”. Antes devo lembrá-los que a comida mais rápida e popular da Escócia é “Fish and Chips”, ou como eles pronunciam, “Fiesh and Chiêêêêps”, bem rápido. Simples, peixe frito com batata frito, parece até mais ou menos quando eu falo assim, porém o negócio é bom mesmo.


Estou tentando não comer mais nenhum tipo de carne, mas ainda é difícil para mim recusar um belo “Fish and Chips” pelo menos uma vez a cada duas semanas. Comprei um de 6 pounds em St. Andrews, uma caixa retangular cheio de batata frita e 3 grandes pedaços de peixe frito em cima, delicioso, mas era tanto que nem aguentei tudo, dei o resto para a moçada e eles atacaram. E então o dia em St. Andrews terminou, pegamos o carro, passamos e Dundee para fazer umas compras de Natal e voltamos para nosso lugar no meio do nada chamado Corbenic.


Parte da Universidade de St. Andrews.
Algumas ruas estreitas chamam a atenção durante o passeio.
Não sei como seria a legenda desta foto.

Ruínas e cemitério da Catedral.
Cartão Postal de St. Andrews.
Quase levei um tombo feio nessa rampa.
Porto com pequenos barcos pesqueiros.

Final do Dia.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Preparativos natalinos na Escócia

Pela primeira vez em minha vida passei o Natal longe de minha família, um Natal cheio de novidades, em outra cultura, com outras pessoas, com novas experiências. Aqui em Corbenic a celebração começa 1 mês antes, dia 25 de Novembro, quando temos o “Advent Market”, é como um mutirão que a comunidade faz para arrecadar dinheiro. É como um pequena celebração convidando as pessoas de fora a comprar os produtos produzidos aqui, fazendo com que o trabalho dos residentes ganhem mais valor e possam ser verdadeiramente úteis. Cada “workshop” se transforma num ambiente diferente, o “Estate” virou uma cafeteria, o “Craft” virou lojinha pra vender as coisas produzidas lá mesmo, o “Garden” a mesma coisa, vendendo mais produtos naturais, como sucos e coisas que nem eu sei o que é.

Eu, como co-worker, recebi a tarefa de trabalhar nos Waffles junto com Zé (brasileiro) e Jakub (Rep. Checa), como os meus dois colegas são bons em cozinhar, ficaram na produção dos waffles, enquanto eu fui pro caixa vender cada um por 1 libra. Tudo bem simples e meio improvisado, as pessoas chegavam na salinha, geralmente famílias, pagavam-me, esperavam um pouco e saiam fora, uns mais conversadores, outros nem tanto, várias crianças, bastante gente de outros países da Europa. Sempre ficavam surpresos quando descobriam que eu e Zé somos do Brasil. Às vezes sinto que quando falo que sou do Brasil eles pensam que venho de outro planeta, dá vontade de falar que moro em Fortaleza e tem voo da TAP direto pra Europa todos os dias.

Enquanto trabalhava, dava um jeito de sair de vez em quando para ver a movimentação lá fora, e era interessantíssimo ver as pessoas chegando na comunidade, espremendo seus carros entre as árvores, cumprimentando uns aos outros numa bela atmosfera de fraternidade. Isso é uma das coisas que sinto mais admiração nos países “menos populosos” da Europa, o espírito de fraternidade que as pessoas manifestam entre si, um sentimento de união, de igualdade, de apoio, aconchego. Algo do tipo, não importa sua classe social, o que você faz, o quanto você é diferente, nós estamos no mesmo país, estamos na Escócia, e aqui há união e fraternidade, ou seja, somos como irmãos, vamos falar sobre nossa cidade, sobre a tempestade da semana passada, a formatura da sua filha, vamos falar mal da Inglaterra. Somos próximos, não importa se só verei você ano que vem ou na padaria semana que vem, eu sou escocês, você é escocês, devemos estar unidos.

Isso é algo que sinto muita falta no Brasil, pois basicamente, o brasileiro só se junta quando tem álcool e música rolando, na hora de festejar, fora da folia é cada um por si, eu dou um jeito de ganhar meu dinheiro, você o seu, se um dia for necessário te dar uma rasteira, darei, é uma questão de sobrevivência. O espírito de fraternidade é quase inexistente, as pessoas desconhecem o poder de uma população unida, e isso é absolutamente tudo que os políticos querem para dar continuidade à exploração das riquezas produzidas pelo trabalho individualista de seus cidadãos.

Após o evento, Corbenic divulgou o saldo arrecadado daquele dia, algo em torno de 8 mil libras, ou seja, 24 mil reais na proporção de 1 libra para 3 reais. Não sei como eles vão usar esse dinheiro, nem é meu interesse saber. Com o “Advent Market” é dada a largada para a preparação do Natal, é mutirão de decoração aqui, “outing” pra compras ali, tradições e caprichos todos os dias, como acender uma vela a cada semana, abrir calendários com surpresinhas todos os dias, e todas essas coisas que fortalecem a celebração natalina. Toda sexta-feira a tarde a comunidade se reunia para um chá com biscoitos e musiquinhas de Natal, divertido e ao mesmo tempo morgado.


No começo de Dezembro minha casa saiu para Dundee, para fazer compras, como temos 6 co-workers e 6 residentes, cada co-worker ficou reponsável por ajudar um residente a comprar seus presentes, ou seja, você recebia um papel com a lista do residente, dinheiro suficiente para as compras, segurava a mão dele e saia andando pelo shopping até comprar tudo. Meu residente, ou seja, aquele que eu devo ter maior foco (eu que escolhi, inclusive) é o B., autista, 46 anos, gordinho e totalmente incapaz de comprar um presente. Pelo menos não foi uma tarefa difícil, pois ele não têm família, então enquanto eu via meus colegas co-workers estressados procurando presentes para vô, vó, pai, mãe, irmão, irmã, tio, tia, eu só precisava comprar dois presentes, um para a advogada de B., a única pessoa que ele “têm” fora de Corbenic, e um para outra residente, pois também há na casa uma espécie de amigo secreto.

Para a advogada, compramos uma caixa de cosméticos já preparada como presente, e para a residente compramos uma almofada bonitona com uma coroa bordada e uma frase que não lembro. Eu ainda tinha que comprar algo pro meu amigo secreto, tirei um residente e comprei pra ele alguns brinquedos, depois fiz uma caixa e embrulhei, ganho 20 libras da casa para fazer isso. Depois durante o mês comprei os presentes que eu mesmo precisava comprar com meu dinheiro, quase todos para os outros que trabalham comigo aqui. Mas isso vou falar melhor no próximo post.

Queria concluir este texto fazendo uma reflexão sobre como é interessante o Natal na Europa, como é forte e especial, como as tradições são presentes, as músicas, o clima e como fiquei triste ao descrever o Natal de meu país. As pessoas sempre me perguntavam como é o Natal no Brasil, e eu falava da reunião de minha família, esse era o único aspecto positivo, o resto era algo mais ou menos assim: “O Natal em meu país é altamente bizarro e tosco, pois somos um país de clima tropical totalmente manipulado e influenciado pelas ideias americanas, ou seja, temos árvores artificiais para tentar imitar as árvores do clima de vocês, temos eventos e celebrações exatamente tentando imitar os americanos, usamos neve artificial e coisinhas de inverno, alguns usam chapéuzinho de papai Noel, assistimos filmes de natal e as crianças desenhos animados, totalmente americanizados, as crianças crescem idolatrando a figura do Papai Noel americano, enfim, acontece que no Brasil temos um grande vazio cultural no Natal, basicamente tentamos imitar os EUA, o que chega a ser ridículo, porque não fazemos isso naturalmente, nós nos ESFORÇAMOS para isso, como se o Natal não fosse Natal sem os costumes americanos.”

Amigos brasileiros, em cada país de cultura forte que vocês forem, vocês verão um Natal diferente, segundo aquela cultura, por exemplo, se eu perguntar pra minha namorada o que é Papai Noel, ela vai dizer que é “something from the americans”, ou seja, alguma coisa dos americanos, ela não tem Papai Noel na Áustria. Então vamos tentar ser mais brasileiros durante o Natal, principalmente os nordestinos, parem de imitar o que aparece na televisão e o que o capitalismo manda você fazer. Ninguém merece chegar no exterior e falar que nosso Natal é uma mera imitação americana. Abaixo deixo um vídeo que minha irmã me mandou e é claro que tem muito a ver com o que eu vivi esses dias. Abraços!



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Estate Work, meu trabalho das manhãs na Escócia


Aqui em Corbenic, além de cuidar dos residentes dentro e fora de casa, os co-workers também trabalham nos Workshops terapêuticos, um de manhã e outro a tarde. De segunda à sexta-feira, com exceção de terça-feira (meu day off), eu trabalho no “Estate Work”, não consegui achar nenhuma tradução da palavra para retratar o trabalho, portanto tentarei explicar o que fazemos. Os membros do “Estate” são responsáveis pelos trabalhos externos da comunidade, ao ar livre, mas sem algo específico, nós fazemos tudo, desde enterrar um animal morto no meio da floresta até guardar a decoração da festinha da noite passada. Porém é claro que alguns trabalhos nós estamos mais acostumados, como construir trilhas, cortar lenha, queimar madeira velha, cortar grama etc.
Na sala do “Estate” você encontra tudo que o “cara da manutenção” tem, ferramentas de todos os tipos para uma infinidade de trabalhos, pás, carrinhos-de-mão, motoserra, tridentes, vassouras, cordas, diversos tipos de tesouras e um monte de coisa que eu nem sei o nome, inclusive muitos objetos que uso aqui eu aprendi o nome em inglês mas não tenho nem ideia de como seja em português. Costumamos levar o lixo da comunidade para reciclar nos pontos de reciclagem das cidades próximas e atualmente com a proximidade do inverno estamos entregando lenha quase todo dia na casa de pessoas que ajudam Corbenic ou possuem alguma ligação com a comunidade. Provavelmente no inverno seremos os caras da neve, aqueles que passam o dia com uma pá limpando o asfalto e as trilhas.
Trabalhando junto comigo estão mais cinco Co-workers, os três brasileiros, Zé, Arthur e Daniel, uma coreana, Hyriem, e um húngaro, Mark. O workshop leader, ou seja, a pessoa responsável pelo Workshop é o Jon, irlandês, gente finíssima, sempre ajudando em tudo, bem-humorado, extremamente paciente e um ótimo profissional. E é claro, não poderia esquecer dos mais importantes, os residentes, as pessoas especiais que precisamos ajudar, encorajar, motivar e cuidar para que tenham uma manhã produtiva em suas atividades. Atualmente trabalhamos com quatro residentes, uma mulher e três homens, cada um mais diferente que o outro, mas todos conseguem ajudar. É altamente divertido estar com eles, isso torna o trabalho muito prazeroso, não tem um dia que eu não caia numa gargalhada, nem que seja uma só. Infelizmente não posso citar os nomes e dar detalhes sobre as características de cada um, um dos meus deveres também é garantir a privacidade e protegê-los em todas as hipóteses.
Trabalhar no “Estate” é muito gratificante e enriquecedor, digo isso porque quase todos os dias aprendo algo novo, o trabalho é bem variado e você está sempre praticando várias habilidades que nunca praticaria vivendo só na cidade. É o tipo de atividade que em alguns momentos nem acredito que estou fazendo aquilo, pois é algo totalmente fora da minha realidade no Brasil. Também estou aprendendo muito sobre a natureza, como viver em harmonia e utilizar o que ela oferece com consciência, ao mesmo tempo que queimo e corto muita madeira aqui, também planto muitas árvores, isso é algo que amadurece minha visão ecológica todos os dias. Abaixo algumas fotos do nosso dia-a-dia, infelizmente isso não é nem 5% de tudo que fazemos, mas serve para dar uma ideia. Gostaria de lembrar que estou entre os finalistas do prêmio TOPBLOG Brasil 2011, categoria “Viagens e Turismo – Pessoal”, serei grato se puder contar com sua ajuda, basta ver o banner azul do concurso à direita, clicar e votar. Muito obrigado, saudações ao Brasil!