Pela primeira vez em minha vida passei o Natal longe
de minha família, um Natal cheio de novidades, em outra cultura, com outras
pessoas, com novas experiências. Aqui em Corbenic a celebração começa 1 mês
antes, dia 25 de Novembro, quando temos o “Advent Market”, é como um mutirão
que a comunidade faz para arrecadar dinheiro. É como um pequena celebração
convidando as pessoas de fora a comprar os produtos produzidos aqui, fazendo
com que o trabalho dos residentes ganhem mais valor e possam ser
verdadeiramente úteis. Cada “workshop” se transforma num ambiente diferente, o “Estate”
virou uma cafeteria, o “Craft” virou lojinha pra vender as coisas produzidas lá
mesmo, o “Garden” a mesma coisa, vendendo mais produtos naturais, como sucos e
coisas que nem eu sei o que é.
Eu, como co-worker, recebi a tarefa de trabalhar nos Waffles junto com Zé (brasileiro) e Jakub (Rep. Checa), como os meus dois colegas são bons em cozinhar, ficaram na produção dos waffles, enquanto eu fui pro caixa vender cada um por 1 libra. Tudo bem simples e meio improvisado, as pessoas chegavam na salinha, geralmente famílias, pagavam-me, esperavam um pouco e saiam fora, uns mais conversadores, outros nem tanto, várias crianças, bastante gente de outros países da Europa. Sempre ficavam surpresos quando descobriam que eu e Zé somos do Brasil. Às vezes sinto que quando falo que sou do Brasil eles pensam que venho de outro planeta, dá vontade de falar que moro em Fortaleza e tem voo da TAP direto pra Europa todos os dias.
Eu, como co-worker, recebi a tarefa de trabalhar nos Waffles junto com Zé (brasileiro) e Jakub (Rep. Checa), como os meus dois colegas são bons em cozinhar, ficaram na produção dos waffles, enquanto eu fui pro caixa vender cada um por 1 libra. Tudo bem simples e meio improvisado, as pessoas chegavam na salinha, geralmente famílias, pagavam-me, esperavam um pouco e saiam fora, uns mais conversadores, outros nem tanto, várias crianças, bastante gente de outros países da Europa. Sempre ficavam surpresos quando descobriam que eu e Zé somos do Brasil. Às vezes sinto que quando falo que sou do Brasil eles pensam que venho de outro planeta, dá vontade de falar que moro em Fortaleza e tem voo da TAP direto pra Europa todos os dias.
Enquanto trabalhava, dava um jeito de sair de vez em
quando para ver a movimentação lá fora, e era interessantíssimo ver as pessoas
chegando na comunidade, espremendo seus carros entre as árvores, cumprimentando
uns aos outros numa bela atmosfera de fraternidade. Isso é uma das coisas que
sinto mais admiração nos países “menos populosos” da Europa, o espírito de
fraternidade que as pessoas manifestam entre si, um sentimento de união, de
igualdade, de apoio, aconchego. Algo do tipo, não importa sua classe social, o
que você faz, o quanto você é diferente, nós estamos no mesmo país, estamos na
Escócia, e aqui há união e fraternidade, ou seja, somos como irmãos, vamos
falar sobre nossa cidade, sobre a tempestade da semana passada, a formatura da
sua filha, vamos falar mal da Inglaterra. Somos próximos, não importa se só
verei você ano que vem ou na padaria semana que vem, eu sou escocês, você é
escocês, devemos estar unidos.
Isso é algo que sinto muita falta no Brasil, pois
basicamente, o brasileiro só se junta quando tem álcool e música rolando, na
hora de festejar, fora da folia é cada um por si, eu dou um jeito de ganhar meu
dinheiro, você o seu, se um dia for necessário te dar uma rasteira, darei, é
uma questão de sobrevivência. O espírito de fraternidade é quase inexistente,
as pessoas desconhecem o poder de uma população unida, e isso é absolutamente
tudo que os políticos querem para dar continuidade à exploração das riquezas
produzidas pelo trabalho individualista de seus cidadãos.
Após o evento, Corbenic divulgou o saldo arrecadado
daquele dia, algo em torno de 8 mil libras, ou seja, 24 mil reais na proporção
de 1 libra para 3 reais. Não sei como eles vão usar esse dinheiro, nem é meu
interesse saber. Com o “Advent Market” é dada a largada para a preparação do
Natal, é mutirão de decoração aqui, “outing” pra compras ali, tradições e
caprichos todos os dias, como acender uma vela a cada semana, abrir calendários
com surpresinhas todos os dias, e todas essas coisas que fortalecem a
celebração natalina. Toda sexta-feira a tarde a comunidade se reunia para um
chá com biscoitos e musiquinhas de Natal, divertido e ao mesmo tempo morgado.
No começo de Dezembro minha casa saiu para Dundee,
para fazer compras, como temos 6 co-workers e 6 residentes, cada co-worker
ficou reponsável por ajudar um residente a comprar seus presentes, ou seja, você
recebia um papel com a lista do residente, dinheiro suficiente para as compras,
segurava a mão dele e saia andando pelo shopping até comprar tudo. Meu
residente, ou seja, aquele que eu devo ter maior foco (eu que escolhi,
inclusive) é o B., autista, 46 anos, gordinho e totalmente incapaz de comprar
um presente. Pelo menos não foi uma tarefa difícil, pois ele não têm família,
então enquanto eu via meus colegas co-workers estressados procurando presentes
para vô, vó, pai, mãe, irmão, irmã, tio, tia, eu só precisava comprar dois
presentes, um para a advogada de B., a única pessoa que ele “têm” fora de
Corbenic, e um para outra residente, pois também há na casa uma espécie de
amigo secreto.
Para a advogada, compramos uma caixa de cosméticos já
preparada como presente, e para a residente compramos uma almofada bonitona com
uma coroa bordada e uma frase que não lembro. Eu ainda tinha que comprar algo
pro meu amigo secreto, tirei um residente e comprei pra ele alguns brinquedos,
depois fiz uma caixa e embrulhei, ganho 20 libras da casa para fazer isso.
Depois durante o mês comprei os presentes que eu mesmo precisava comprar com
meu dinheiro, quase todos para os outros que trabalham comigo aqui. Mas isso
vou falar melhor no próximo post.
Queria concluir este texto fazendo uma reflexão sobre
como é interessante o Natal na Europa, como é forte e especial, como as
tradições são presentes, as músicas, o clima e como fiquei triste ao descrever
o Natal de meu país. As pessoas sempre me perguntavam como é o Natal no Brasil,
e eu falava da reunião de minha família, esse era o único aspecto positivo, o
resto era algo mais ou menos assim: “O Natal em meu país é altamente bizarro e
tosco, pois somos um país de clima tropical totalmente manipulado e
influenciado pelas ideias americanas, ou seja, temos árvores artificiais para
tentar imitar as árvores do clima de vocês, temos eventos e celebrações
exatamente tentando imitar os americanos, usamos neve artificial e coisinhas de
inverno, alguns usam chapéuzinho de papai Noel, assistimos filmes de natal e as
crianças desenhos animados, totalmente americanizados, as crianças crescem
idolatrando a figura do Papai Noel americano, enfim, acontece que no Brasil
temos um grande vazio cultural no Natal, basicamente tentamos imitar os EUA, o
que chega a ser ridículo, porque não fazemos isso naturalmente, nós nos
ESFORÇAMOS para isso, como se o Natal não fosse Natal sem os costumes
americanos.”
Amigos brasileiros, em cada país de cultura forte que
vocês forem, vocês verão um Natal diferente, segundo aquela cultura, por
exemplo, se eu perguntar pra minha namorada o que é Papai Noel, ela vai dizer
que é “something from the americans”, ou seja, alguma coisa dos americanos, ela
não tem Papai Noel na Áustria. Então vamos tentar ser mais brasileiros durante
o Natal, principalmente os nordestinos, parem de imitar o que aparece na
televisão e o que o capitalismo manda você fazer. Ninguém merece chegar no
exterior e falar que nosso Natal é uma mera imitação americana. Abaixo deixo um
vídeo que minha irmã me mandou e é claro que tem muito a ver com o que eu vivi
esses dias. Abraços!
É triste os que tem o Natal como você descreveu... mas meu Natal particularmente na minha família de avós tios mãe e primos é cada ano mais simples. Nem árvore nós montamos esse ano. A família se reune, sempre rola conversas e lembranças de tempos antigos, épocas da infância, coisas de qndo eu era pequenininha e nem lembrava e são muitas risadas e é muito aconchegante. E há sempre a reza e a reflexão sobre o nascimento do menino Jesus. Leozinho, acho que você deveria passar mais aspectos positivos do nosso país. Não é porque a 'maioria' daqui se é que é maioria tem um natal americanizado que você deve sentir vergonha de falar sobre isso para os escoceses. Há pessoas e pessoas. A não ser que sua experiência de Natal foi sempre muito ruim e você não saiba descrever nada além disso... aí eu fico muito feliz de você ter descoberto algo novo e tão bom aí na Escócia! Muitas felicidades pra esse fim de ano, que Deus abençoes seus passos.
ResponderExcluirSaudades!
Sim Lu, o aspecto familiar eu falo com todo orgulho e é muito bom, mas meu pessimismo é só com o lado material da maior parte da população brasileira que insiste em imitar os americanos, mas acho que isso está enfraquecendo a cada ano, felizmente. :)
ResponderExcluirTe amo, irmao!
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