quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Natal de Pedrinho

As luzes enfeitam a grande cidade em que Pedrinho mora, um garoto doce e amigável que se encanta com o grande e gordo velhinho do trenó, aquele ser cortês que sorri todos os dias para ele no rótulo de seu refrigerante favorito. Logo após seu aniversário, o Natal é sinônimo de mais uma grande alegria em sua pequena esfera de sentimentos infantis, onde os brinquedos promovem diversão e diferenciação frente aos outros amiguinhos.
Neste ano Pedrinho resolveu apostar alto, pediu ao bom velhinho um “Nintendo Wii”, o vídeo-game em que o usuário se movimenta com um controle na mão e tem a sensação de que está dentro da tela, com destaque para os jogos de esportes é claro. Ninguém escapa da novidade, até os adultos entram na brincadeira. É certo que o garotinho não quer tanto assim, mas ele precisa, afinal o seu coleguinha, o pequeno Glauber Neto, filho de um grande empresário, tem o brinquedo, e se ele tiver também, poderá ter muitos mais amigos e será bem mais respeitado do que era antes, tanto por seus colegas, tanto por seu “concorrente”.
Mal sabe ele que quando ganhar o brinquedo novo, outro já estará sendo lançado no mercado, e seu aniversário ainda estará longe, tempo suficiente para Glauber Neto comprar a novidade e encher sua casa de amiguinhos, mantendo a hegemonia do círculo social da escolinha “Pedacinho do Sol”, onde Pedrinho estuda. A pressão sobre o garoto é tamanha que ele faz de tudo para manter um comportamento exemplar e esquece a posição de destaque de seu colega para focar na possibilidade de pelo menos se aproximar da vitória.
É véspera do dia tão esperado, Pedrinho como de costume passa o dia assistindo os desenhos de especial de Natal do “Cartoon Network”, sempre cheios de neve, presentes, perus e todos os símbolos que conhecemos designados pela sociedade do hemisfério norte, que introduz com maestria na mente de nossas crianças o sonho de visitar ou até viver dentro de seu território, afinal, ali sempre haverá um subemprego para financiar o tal sonho dos pequenos sul-americanos.
Pedrinho não gosta muito de imaginação, quer sempre evidências concretas de que algo existe, não poderia ser diferente com Papai Noel, assim ele permanece acordado o máximo que pode sob vigília. Morando em apartamento, sem chaminé e com as janelas cheias de grades, o garoto esquenta os miolos procurando uma resposta para saber como o gordão entrará em seu cárcere residencial. A mãe do menino tenta confortá-lo alegando que o velho tem poderes especiais, e nada o impede de passar pelas estreitas grades de seu lar, o que causa desconfiança no garoto, mas não demora muito e ele cai no sono.
Corre Pedrinho! Já é Natal, acorde! Um bonito pacote o espera em baixo da árvore montada na sala de estar, finalmente! Jaz ali tudo que a data representa, tudo que aquele garotinho esperou, com seu novo vídeo-game a vida parece estar renovando, uma nova era tende a começar. Não é que o tal do Papai Noel é bom mesmo? Ele merece todo o respeito do menino, que a partir dali vai venerar qualquer imagem do bom velhinho, e contará a todos sua tamanha bondade, pois toda gratidão é pouco para o homem que o proporcionou tanto prazer.
Pedrinho está feliz, ou melhor, está alegre, e essa alegria vai durar até...até... Bom, ela não durará muito, afinal a Nintendo já está pronta para lançar um novo vídeo-game, e o pai de Glauber Neto já está pronto para sacudir os bolsos e deixar toda a escolinha “Pedacinho do Sol” com inveja. O garoto que a pouco estava exercitando todos os músculos da face com tantos sorrisos, agora não se conforma, o brinquedo novo nem é tão bom assim, será que valeu a pena? Ele se pergunta.
Um dia ao ver o garoto aos prantos com tamanha desilusão, o pai já conhecedor da situação explica ao filho que tudo que ele pensa do Natal é puro capricho, e mesmo se ele ganhar uma chusma de presentes, não será isso que o deixará realmente feliz. O pai sente que não teria hora melhor para contar ao seu filho a história do real protagonista daquelas festividades, Jesus Cristo.
Pedrinho não entende, aquele homem somente ficou famoso porque morreu na cruz e ressuscitou, ele não deixa presentes nas casas das crianças, não aparece nos desenhos, não tem um trenó e muito menos mora num lugar cheio de neve branquinha. Diferentemente do garoto, o pai compreende todo aquele transtorno, e apenas observa o filho na lamentação passageira de sua jovem idade, ele tem muito que crescer, e quando for a hora, será esclarecida todas as suas dúvidas, talvez no dia em que ele se tornar um homem.
No Natal, observamos a enorme quantidade de Pedrinhos atordoados com a festa dos presentes, mas ser Pedrinho nesta data não é nada, o problema é quando vemos tantos Pedrinhos no dia-a-dia, sempre fazendo de tudo para se igualar aos seus coleguinhas, muitas vezes rompendo as fronteiras das boas condutas e sucumbindo nos lençóis da imoralidade. O Pedrinho de hoje, é o Pedro de amanhã, profissional, cidadão e pai. Seria admirável se o Pedrinho esquecesse um pouco seu Nintendo e pensasse no homem que deixou tantas lições em nosso planeta, não o do rótulo do refrigerante, para que no futuro, o Pedro seja forte e independente do peso que a sociedade lhe impõe.
Um Feliz Natal a todos, que a serenidade, a tolerância e a paz estejam soberanas em suas vidas, um abraço, Felter.



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