Se há algo nesta vida que uma hora ou outra teremos que aprender e aceitar de bom grado é a paciência. Lembro que quando era criança acordava muito mais cedo que meus pais e minha irmã. Ao sair da cama, deparava-me com uma casa vazia, com todos ainda recolhidos em seus quartos. Entediado e sem ter o que fazer, inventava distrações que pudessem me ocupar até que a casa começasse a se “movimentar”. Mas apesar dos meus esforços, o tempo passava devagar, e quando todos acordavam, parecia que eu já tinha vivido a metade daquele dia. Penso que foi nessas manhãs que comecei a ter a noção de paciência, que também chamaria de a “arte de esperar”.
Também durante a infância, minha mãe costumava ser uma das que mais demoravam para buscar eu e minha irmã no colégio. Ficávamos eu e ela no portão da escola por cerca de duas horas. Talvez não pareça muito, mas para uma criança esse tempo costuma passar bem devagar. Enquanto todos iam embora, nós ficávamos lá, entediados, sem mais nenhuma criatividade para inventar brincadeiras, aguardando até a hora de ir embora. Lembro-me bem dos dias que me sentia tão entediado que a vida em si parecia um completo vazio. Mas por incrível que pareça, essas lembranças que me remetem a um tipo de mortificação, moldaram o adulto que sou de forma melhor, criando em mim uma espécie de força e serenidade maior do que a média das outras pessoas. Com aquelas experiências, aprendi a esperar, coisa que muita gente nos tempos de hoje não sabem fazer muito bem.
O mundo moderno é apressado, ansioso e turbulento, e com a recente revolução digital promovida pela internet e pelos telefones celulares, todo este movimento se intensificou consideravelmente. Nesta época, somos não só bombardeados por um turbilhão de informações, como também extremamente cobrados para que acompanhemos o ritmo já instalado. O resultado é um desajuste entre a realidade e o plano virtual de possibilidades infinitas. Enquanto a vida real gira em torno de constância e persistência, o mundo moderno gira em torno de sobressaltos e estímulos que muitas vezes vão além do processamento psíquico humano. Precisamos da paciência, mas a corrida utilitarista nos encoraja à impaciência.
Durante a maior parte da vida humana estamos inseridos em circunstâncias em que nossa ação será pouco efetiva para a mudança. Podemos trabalhar por ela, mas existem conjunturas em que a mudança será um processo lento e gradual, forçando-nos a aceitar nosso estado de relativa impotência. Quando buscamos a todo momento alterar nossa realidade, ficamos consideravelmente irritados e insatisfeitos, enquanto quando temos paciência e praticamos a gratidão, acabamos convivendo melhor com o cenário real onde nos encontramos. Com paciência, temos paz, fazemos o possível e não nos apressamos. Sem a paciência, mantemo-nos em diálogo com o impossível, tentando encontrar atalhos e nos embaraçando em caminhos tortuosos que, muitos vezes, fazem-nos perder ainda mais tempo.
É válido observar a natureza, em toda sua beleza e complexidade, e perceber que tudo nela funciona com certa lentidão. Peguemos uma árvore, por exemplo. Ao meu ver, a árvore é um grande símbolo de paciência. Ela começa em uma semente, cria raízes, espalha-se pela terra, seu tronco cresce aos poucos, levando anos e anos para se tornar uma árvore madura. Depois de madura, ela permanece em estabilidade, dando seus frutos e nos presenteando com toda sua exuberância. É difícil ver uma grande e antiga árvore e não pensar em certa força, sabedoria, serenidade e experiência. Vai ver por isso os índios americanos atribuem às florestas tantos mistérios. Na estória lendária da índia Pocahontas, o oráculo que a aconselha e a auxilia é uma árvore (pelo menos na versão da Disney).
Mas a ideia de um vegetal fixo e enraizado parece não agradar muito o homem moderno, que está sempre a procura de novidades e estímulos externos, nunca se saciando completamente. Em um mundo assim, problemas como ansiedade e depressão continuarão atingindo níveis cada vez mais altos, tornando-se uma enfermidade generalizada. Não cabe a mim descrever uma solução para tais problemas, mas penso que aqueles que praticam a paciência, com o passar do tempo, adquirirão maior imunidade contra esses males, tendo maiores possibilidades de crescerem como admiráveis árvores, cultivando uma vida mais plena, estável e feliz. Portanto, pratiquemos a “arte de esperar”.
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