Desde o tempo em que passei a me considerar um ser pensante, daqueles que analisam certos objetos e tentam estabelecer determinada lógica entre um fato e outro para estuturar algum tipo de cadeia racional de eventos e deduções, tenho registrado variações de rebeldia quanto ao mundo como ele é. Falo de uma rebeldia nas pessoas em geral, sempre relutando em aceitar a realidade da maneira como fôra posta. Criança levada, adolescente revoltado, adulto amargurado, parece haver alguma agitação mental em nossos tempos que tira a paz de qualquer sujeito.
Fala-se muito que as pessoas andam tristes, mas poucos falam do motivo da tristeza. Não creio que a felicidade está neste mundo, mas penso que podemos viver bem, carregando o fardo humano de bom grado, sem ficar resmugando pelos cantos como quem perdeu toda a esperança. Mas viver bem tem tudo a ver com a forma como enxergamos a vida; parece que criamos nosso próprio céu ou nosso próprio inferno, não importa quais sejam as circunstâncias. O homem moderno tem procurado o céu na Terra, e com isso sua vida tem se transformado em um inferno.
Temos sido estimulados além do suportável por todos os lados, tanto pela busca do prazer material promovido pelo consumo capitalista quanto pelas paixões ideológicas promovidas por todos que querem substituir a realidade por um mundo previamente pensado onde todos supostamente serão felizes. Queremos sempre algo diferente, cultivamos a insatisfação e logo abraçamos a ingratidão. Nunca existiu uma época tão abundante de recursos como hoje, todavia nunca estivemos tão tristes (você já deve ter ouvido isso diversas vezes).
Muitos colocam a riqueza como fomentador desta insatisfação, apontando o "dinheiro" como grande inimigo do bem-estar humano. Isto é um equívoco. A riqueza nos liberta das atividades primitivas e nos permite mais conforto para exercitar outras faculdades, e assim avançamos como civilização. Penso que o problema está na ânsia de escolher a riqueza como filosofia de vida, colocar as conquistas materiais como um fim, e não como um meio.
Ao focar no materialismo como fonte de felicidade, ficamos sujeitos a todo o caos desta realidade terrena, comemorando e lamentando de acordo com as oscilações da vida, como se tudo fosse uma bolsa de valores, sendo seu sucesso um gráfico de acumulação crescente. Olhamos para o que temos e, ao invés de agradecer a Deus por aquilo, pensamos em como podemos ter algo melhor, entrando em um ciclo eterno de uma busca que nunca saciará nossas almas.
De forma um pouco diferente também está a insatisfação do revolucionário, que revoltado com as circunstâncias de sua vida, crê que a destruição dessas circunstâncias fará com que um mundo novo e melhor para se viver emergirá das cinzas. A situação deste indivíduo é até pior do que a do capitalista insatisfeito. O capitalista insatisfeito pelo menos aprova seu mundo, o revolucionário abomina tudo ao seu redor, entrando em um estado mental de ruptura perpétua.
Ao que tenho percebido aqui, não há filosofia mais sábia que aquelas que nos propõem o desprendimento deste mundo, não de forma tão radical como os orientais, mas de forma prudente como os cristãos. Paradoxalmente, quando nos desprendemos, acabamos lidando melhor com as tribulações deste mundo, parece que observamos e sentimos tudo de uma perspectiva superior, não negligenciando a vida, mas a abraçando de forma a estar protegido de suas possíveis trapaças. Falta este distanciamento para o homem moderno, pois que está a todo tempo estimulado por ilusões, caindo com frequência no turbilhão impiedoso da realidade.
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