sexta-feira, 20 de abril de 2018

Os brasileiros não são democratas

O que prejudica o debate político brasileiro desses tempos é que há um certo desprezo por aqueles de opinião divergente. O brasileiro tem muita dificuldade em ouvir e simplesmente respeitar determinada posição que não esteja alinhada com suas próprias ideias.

Paradoxalmente somos bem tolerantes quanto à pluralidade religiosa, mas extremamente inquietos quanto à heterogeneidade de pensamento político. Observando a democracia francesa, britânica ou americana, nota-se um verdadeiro zelo em proteger o “divergente”, como se o bom funcionamento do “todo” dependesse do atrito mantido pelos “poucos”.

Aqui, se o sujeito fala que é a favor da liberação das drogas, não se conclui que ele tem argumentos razoáveis que fundamentam sua ideia, mas que é um “Zé Droguinha” querendo melhor acesso aos produtos. Se o sujeito é contra o desarmamento, não se pensa que ele refletiu sobre a melhor maneira de termos um país mais livre e pacífico, mas que deve ser algum tipo de psicopata belicista que vai sair por aí aterrorizando tudo e todos. O diálogo fica inviável, os bons se retiram, e a palavra acaba ficando com aqueles que transformam tudo em um grande ringue de calúnias e destruição de reputações.

Este é o cenário ideal para a ascensão de mentes totalitárias, afinal, onde não há diálogo civilizado, haverá o embate pela força, e o embate pela força costuma resultar em um vencedor tirânico o suficiente para calar todas as vozes dissonantes. A democracia parece não ter sido pensada para um munco incivilizado. Quando a voz é concedida a todos e nem todos sabem usar a palavra, o resultado é o caos e a materialização dialética da degeneração. Aqueles que cultivam o bom debate acabam sendo suprimidos por aqueles que passam por cima de todas as regras.

A democracia pode ser bela em um pequeno vilarejo suiço onde todos se conhecem e avaliam as opiniões uns dos outros com respeito e cordialidade, mas em um grande território tomado pelas massas e pela desigualdade, o resultado parece não ser aquele pensado pelos gregos. A tendência é a busca imediata por vantagens, com pouca ponderação e quase nenhuma prudência, sendo necessário algum limite que proteja a liberdade individual.

Entra então o império da lei. Entra então o constitucionalismo. Mas nada adianta uma constituição que não limite o poder da maioria, e que ao invés disso aprofunde a força deste rolo compressor que parece não dialogar com o divergente. Penso que esta é a maior diferença entre a constituição americana e a brasileira, e por motivos de incompatibilidade geográfica e demográfica, considero um erro pensar o que seria bom para o Brasil tomando por referência os países europeus e seus modelos de bem-estar social feitos para uma população homogênea e uma economia já altamente produtiva. Nessas terras selvagens, ou temos lei, ou temos despotismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário