sábado, 18 de junho de 2011

Preparativos de viagem


Maldito tempo, sempre passara tão rápido, agora teima em se retardar para que os dias sejam longos e a espera pareça eterna. Faltam 23 dias e já me desvencilhei de tudo que podia, preparado para a vida nova, o pior de tudo é que a conseqüência disso são dias monótonos, chatos e de difícil preenchimento. Tento matar as horas estudando inglês, lendo livros e fazendo atividades físicas, mas nem para isso tenho paciência mais. O jeito é sair com os amigos, passar uns dias na praia (o que farei este final de semana) e todas essas atividades que te fazem esquecer as datas futuras.

Estou quase acabando os “check-ups” médicos, meu resultado do exame de sangue nunca foi tão bom, ao terminar de verificá-lo o médico perguntou: “Pra onde você vai viajar mesmo?”, “Para a Escócia, por que? Tá tudo bem?”, “Porque com esse resultado você pode viajar até pra Lua”. Que beleza, heim? Tomara que a saúde continue bem e não sofra com a mudança drástica de temperatura, para isso evitarei os excessos, principalmente desses que sempre acontecem com o pretexto de “despedida”. Terei ainda mais uma consulta com outro médico, nesse vou levar até exame de Raio-X e correr naquela esteira cheio de adesivos pregados no corpo para medir minha desenvoltura cardiorrespiratória. Após passar por ele poderei me considerar liberado.

Também fui ao DETRAN, que por acaso fica no limite de saída da cidade, quase no interior, num bairro chamado Maraponga. Em larga escala, é como se eu tivesse que sair de avião de Fortaleza para tirar um documento em Porto Alegre, mas no caso, saí de carro do bairro Meireles até a bendita Maraponga. Fui lá para dar entrada na minha “Permissão Internacional para Dirigir”, tudo bem rápido, entreguei os documentos, paguei a taxa e voltei para casa, agora tenho que retornar ao mesmo local semana que vem para buscar. Você deve está pensando: “Pô, o cara vai é tirar onda motorizado na terra da rainha...”. Negativo, mas estou tirando por precaução, afinal, se sei dirigir, não vou deixar de explorar essa habilidade caso me seja dada uma oportunidade, quanto mais ferramentas de trabalho eu tiver, melhor.

A mala já está semi-pronta, coloquei o que não vou usar até dia 11, como roupas de frio, por exemplo, o resto só poderei ajeitar melhor faltando uma semana para embarcar, não adianta encher ela agora, afinal, eu iria ficar abrindo toda hora para usar alguma roupa ou pertence que já estaria devidamente dobrado e posicionado em seu lugar. Vou levar duas malas, uma azul grandona para despachar, ou seja, a mala matriz, e uma menor de mão, preta, excelente para viagens curtas, essa é a que sofre mais e tá sempre rodando para um lado e para o outro.

Além das roupas e todos os aparatos de viagem já conhecidos, estou levando alguns caprichos pessoais, como um gorro, uma bandeira e uma camisa do Ceará, duas bandeiras do Brasil, sendo uma com o escudo do Galo no meio, presente da minha prima Janaina, um cachecol do Brasil que comprei na Copa do Mundo, várias pulseiras também do Brasil (essas eu vou sair dando de presente pra quem quiser), todos os livros espíritas básicos, como “O Livro dos Espíritos” e o “Evangelho segundo o Espiritismo”. Daqui até o dia da viagem vou inventando mais volumes, por enquanto é só isso que lembro, mas pretendo levar mais lembranças.


Ontem entrei no site da TAM para consultar minha reserva, só então lembrei que podia marcar meus assentos logo, porém foi tarde, a grande maioria já estava ocupada, mas não fiquei insatisfeito com os lugares que consegui. De Fortaleza até Lisboa ficarei no corredor, na lateral direita do avião, na parte de trás, lá no fundão, excelente, afinal, se eu ficasse na janela não veria mais do que a imensidão azul do Atlântico e um pouco de Portugal, e além disse, gosto de me levantar toda hora para esticar as pernas e ir ao banheiro. Quem será meu colega de viagem? Tomara que seja uma linda, maravilhosa e espetacular portuguesa procurando algum mochileiro brasileiro para oferecer o confortável sofá de sua casa, em retribuição às inesquecíveis férias que acabara de passar em Jericoacoara, aaah como cairia bem. Já para o trecho de Lisboa até Londres, consegui um lugar na janela, lá na frente, exatamente na ponta da aeronave, como serão apenas um pouco mais de duas horas de viagem, não faço questão de ficar no corredor.

O terceiro trecho, de Londres até Edimburgo, não estava disponível a marcação de assentos, sem problemas, até porque a viagem é um “pulo”, sentarei em qualquer lugar mesmo. Estou cogitando a possibilidade de alguém me pegar no aeroporto, o Camphill tem um carro para os Co-Workers, eu apenas teria que pagar 25 libras de gasolina e contar com a sorte de ter alguém disponível para dirigir. Caso isso não seja possível, terei que procurar a estação de ônibus da cidade e comprar uma passagem de algum trecho que passe por Perth, Dukeld, ou qualquer outro lugar perto de Corbenic.

Dia 10 deste mês fiz aniversário, estou com 19 anos agora, e é nessa idade que fecharei mais um ciclo da vida e partirei para uma nova era individual de progresso, crescimento e amadurecimento. Que meu espírito protetor me guie para que tudo dê certo e eu possa lucrar bastante com minhas decisões, abraço a todos, fiquem com Deus e até breve!

sábado, 11 de junho de 2011

A natureza do espírito


Onde está nossa real natureza? No material ou no invisível? O mundo material nos traz belezas indeléveis, a riqueza da natureza, a harmonia dos astros, a perfeição dos ciclos, tudo isso capacita aos olhos humanos um grande estado de embriaguez. O homem vive em busca das respostas, busca entender e dar sentido ao que vê. E baseado no material, acredita que a felicidade deve ser procurada ali, na esfera em que trilha suas jornadas passageiras.

A felicidade não está no dinheiro, não está nos gozos terrenos, nem muito menos nas paixões. O ser humano, por mais que venha a se adaptar a um estilo de vida, não se sente livre, pelo contrário, se sente em total aprisionamento, o aprisionamento da carne, dos sentidos limitados, das condições miseráveis que lhe foram atribuídas. A dor desta prisão é intensa, principalmente para os mais fracos que não suportam as provas que lhe foram impostas e buscam regressar no intento do suicídio.
Vejo o planeta Terra como uma pequena ilha, no meio da imensidão oceânica, essa representa o espaço, a grande extensão do universo. Essa ilha está ali fixada, em constante mutação, alternando sua geografia e se adaptando frente às intempéries da natureza, e ao seu redor, a água do mar bate, de série em série, vezes mais suave, vezes mais destrutiva e regeneradora. Dependendo de como as ondas vierem ao encontro da areia, haverá sempre uma interferência no cenário da praia, porém, aquela água do grande oceano sempre regressará à sua natureza.

Quando você está na praia e olha a água em contato com a areia, percebe que ela chega de uma forma abrupta, quase agressiva, como se o grande oceano achasse necessária sua rápida passagem naquele terreno hostil, molhando a terra seca e retornando ao seu lar, sempre deixando aquela fina película de umidade sobre a areia, que desaparece gradualmente na medida em que a força do mar puxa sua cria de volta, como se o trabalho tivesse sido concluído. Algumas adentram a praia com a força de um exército, deixando marcas e sendo lembradas por alguns instantes, outras beijam a terra e vão embora sem que ninguém perceba. Porém o ciclo nunca acaba, e após o regresso de uma onda, outra é lançada. Somos assim, como as ondas do mar, somos lançados com energia, fazemos o que a natureza nos propõe e retornamos ao oceano, esperando mais uma aventura como aquela, seja na mesma ilha, ou em qualquer outra.

Não se engane, pois neste grande oceano, vários mistérios existem, mas poucos têm acesso as suas águas mais profundas. E devo salientar, nossa ilhazinha não é a única, ou achas que temos tudo para nós? Somos um grão de areia. Existem outras ilhas muito bem habitadas, e seus moradores conhecem grande parte desse oceano, e navegam neles como nossos descobridores europeus navegaram um dia, inclusive têm conhecimento de nós, a raça “mediana”, que marcha devagar no seu amadurecimento moral, corrompido pelo egoísmo e orgulho que a vida material impõe.

O espírito não pertence a este plano, no entanto, é preciso que seja lançado a suas provas. Como o vento que molda as dunas e a água que rega a vegetação, a essência humana, imaterial e invisível, é lançada sobre o mundo material, para que busque sua ascensão, expanda seus conhecimentos, esclareça suas dúvidas e sirva o responsável por tudo que se move no vasto universo em que vivemos. Nesta empreitada, não fazemos mais que progredir, para que voltemos ao lar, vitoriosos e mais capacitados às futuras missões da eternidade, onde o tempo não existe e a física está muito além do que conhecemos até aqui.

Não acreditas no mundo invisível? No imaterial? Eu aposto que há duzentos anos os homens também não acreditavam que seria possível ouvir a voz de outro homem e conversar com ele no mesmo instante por meio de um aparelho retangular de poucos centímetros, tudo porque não acreditavam no que não podiam ver, devido aos seus limitados sentidos de seres primitivos e ainda ignorantes. É tudo uma questão de tempo, de cenário propício.

A vida material é irracional, não tem sentido, retarda o homem, desacelerando sua ascensão. Aceitando uma visão materialista, é como se o espírito desejasse se aprisionar mais, pois além do cárcere da carne, ele também se prende a outros elementos de pouca importância para seu progresso, como se desse mais voltas na chave da fechadura, tornando sua independência e autonomia mais dificultada. Mas é certo que um dia ele se libertará, pois faz parte de sua caminhada e nada pode frear, é uma lei.

Para finalizar, aprecie este vídeo que sempre me faz lembrar da infância, este clássico da Disney, que apesar de durar alguns poucos minutos, transmite uma mensagem eterna e imutável, que começa na menor das substâncias e abrange absolutamente tudo ao nosso redor, mesmo que ainda não tenhamos acesso a este “tudo”. Um abraço, fiquem com Deus.


terça-feira, 7 de junho de 2011

Corbenic Camphill Community


Após falar sobre a Escócia e os motivos que me levaram a escolher esse país, está na hora de falar sobre o Camphill que escolhi. Corbenic Camphill Community fica na região central da Escócia, há 20 quilômetros de Perthshire, uma cidade pequena e muito freqüentada por turistas de toda Europa (ver mapa da postagem anterior) e há 4 quilômetros de Dunkeld, um pequeno vilarejo com pouco mais de mil habitantes. O cenário do lugar é deslumbrante, pelo menos foi isso que vi até agora nas fotos que tive acesso, só poderei confirmar quando chegar lá, a propósito, quase tudo que digo neste Blog, por enquanto, só poderei confirmar ao chegar.
Corbenic é um dos poucos Camphills fazenda que existem, inclusive o único da Escócia, se não me falha a memória. Isso me faz lembrar de algumas perguntas dos formulários que se referiam a algo como: “Corbenic é uma comunidade rural, você pode afirmar que possui um estilo de vida adaptável e que pode morar em total isolamento?”. Não só perguntavam isso nos meus formulários, como também nas perguntas que meus referentes responderam, minha professora de Sociologia até virou pra mim e perguntou: “Será que você tem condições de viver num lugar desse seu Léo?”. Ora, claro! Devo lembrar que não só tenho condições, como quero ter esse estilo de vida.
Eu estou com algumas cartas de instruções aos novos voluntários, e elas falam sobre o que é recomendado eu levar e não levar, por exemplo, eles não acham saudável usar aparelhos de som portáteis, como iPods, MP3, Rádios etc, porém deixam bem claro que a vivência da música é algo muito valorizando, pois gostam de cantar e tocar instrumentos, neste aspecto tive que decepcioná-los, pois não toco nada, apesar de querer muito aprender. Um fato que me chamou atenção em uma dessas cartas foi a atenção deles em deixar claro para o novo voluntário que “WE DO NOT HAVE TELEVISION”, escrito em negrito e sublinhado. Algo que não faz diferença pra mim, não gosto de televisão e gostaria de ficar um bom tempo sem o barulho dela, eis a oportunidade! Porém não tirem de mim a internet, pois ai sim, haveria um grande problema, mas esse problema eu já sei que não vai existir.

Nessas últimas cartas que recebi, notei que escreveram meu último nome errado, ao invés de ter “Leo Ferreira”, tem “Leo Ferriera”, confirmando a minha tese que meu último nome é extremamente complicado para eles, tente imaginar a pronuncia de “Ferreira”, sairia algo como “Feueiuá”, ou “Feweiwa” para quem gosta da letra “W”. Achei bacana eles utilizarem “Leo” ao invés de “Leonardo”, isso demonstra hospitalidade, carinho e uma ligeira dose de intimidade, o que me ajuda a ficar mais a vontade. Lembro dos primeiros e-mails que mandei para Corbenic com a secretária escrevendo aquelas respostas bem formais, hoje o diálogo já está bem coloquial, com direito a carinhas e tudo.
O primeiro Camphill que escolhi, isso em 2009, era Simeon, um para idosos em Aberdeen, porém minha ida em 2010 não deu certo e naquele mesmo ano eles aumentaram a idade mínima dos voluntários para 21 anos, o que foi bom, pois tive que escolher outro lugar, e achei Corbenic, e quando entrei no site para colher informações, logo me identifiquei com tudo. Corbenic conta com 65 pessoas, 27 são adultos com necessidades especiais, os outros 38 são funcionários e voluntários. Os moradores se dividem em 5 grandes casas, essas estão separadas umas das outras numa área de 50 hectares.
Numa comunidade Camphill, todos trabalham, aprendem, crescem, contribuem para o bem-estar do próximo. O tempo dos moradores é meticulosamente preenchido com várias atividades coletivas, especialmente de caráter terapêutico, como “workshops”, leia-se “oficinas”, elas variam entre oficinas de massas, artesanatos, vários tipos de arte, jardinagem, marcenaria, entre outras. Ao conversar com um dos brasileiros que estão lá, Guilherme, ele me falou sobre a excelente qualidade de vida, algo que fica até difícil de largar para voltar ao Brasil. Inclusive, todos os brasileiros que converso me dizem que é uma experiência magnífica, é difícil achar algum que se arrepende, falam sobre as dificuldades, os momentos difíceis, mas nunca que voltariam atrás ou desistiriam, todos bem felizes e realizados.
Estou curioso para saber que tipo de trabalho farei, como será minha vida, meu cotidiano, como as pessoas reagirão à minha personalidade, como será o desenvolvimento do idioma novo, como será o frio de rachar, pois até com isso estou curioso. Quem conhecerei, de onde são, o que trazem de bom do país de onde vieram. Como será minha adaptação, será que sou daqueles que conseguem se adaptar a qualquer estilo de vida? Creio que sim, mas preciso de provas maiores para me certificar disso.
Não tenho tantas informações de Corbenic além do que eles oferecem no site (fim do post), então quem quiser saber mais é só dar uma lida lá. Selecionei várias fotos que dão uma idéia do Camphill, e principalmente dois vídeos sobre os Camphills da Irlanda, não mostram o que eu vou, mas como todos são bem parecidos, dá pra ter uma idéia ampla do ambiente que encontrarei em solo escocês. Até mais e fiquem com Deus!


Fora de uma das casas


Outside


Fazenda


Construções históricas preenchem o cenário


Inverno rigoroso


Pegar um sol?


Muita neve


Apresentações musicais


Venda de produtos fabricados no próprio Camphill


Outside


Hotel para quem for me visitar


Dunkeld


A alimentação é saudável mas também rola um barbecue


Trabalho na fazenda sô


Alguns feriados possibilitam passeios e viagens


Oficina terapêutica


Artesanato


Mais fazenda


Super Pig


Pato, pato, pato, pato, pato.


Gado?

Lavanderia





domingo, 5 de junho de 2011

Por que Escócia?


Todos me perguntam o que diabos me levou a escolher a Escócia como meu destino, afinal, não é um país muito comum para os brasileiros que buscam uma experiência no exterior pela primeira vez. Se fosse para escolher algum país daquela região, o mais coerente seria Inglaterra, não? Talvez, mas preferi a Escócia, com suas montanhas e castelos imponentes, com seu povo hospitaleiro e seu sotaque forte, com sua cultura marcante e sua história admirável, entre outros fatores que dão àquele país toda uma magia que muito me atrai.

Mas com certeza a Escócia nunca foi algo que passou pela minha cabeça, era um lugar fascinante que eu via de muito longe, pretendendo um dia fazer uma breve visita caso a vida permitisse. Porém, a oportunidade surgiu, e quando eu menos esperava, havia a possibilidade de viver por um bom período na terra do libertador William Wallace, quem nunca assistiu “Coração Valente”?

Ao aceitar trabalhar em uma comunidade Camphill, eu tinha várias opções, desde América do Norte até Ásia, mas Europa sempre teve aquela força a mais no meu inconsciente, talvez por uma atração que sempre mantive pela história, somada ao desejo de viver em um lugar pacífico, organizado e de cultura forte, o que é excelente para minha formação humana e profissional.

Na Europa, o movimento Camphill tem foco no Reino Unido, ou seja, a unificação formada por Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, tendo como vizinha a Irlanda, que apesar de não fazer parte do Reino Unido, também se destaca com suas comunidades Camphill. Portanto, essas eram minhas 5 opções. Inglaterra foi a primeira a ser descartada, pois queria algum país que fugisse do comum, um lugar onde o turismo não tem tanta força quanto à terra da rainha, um lugar que eu teria menos oportunidade de visitar no futuro.

Descartei País de Gales por não ter tanto conhecimento a respeito e não haver nenhum Camphill de meu interesse, além de que eles também falam galês, o que não seria algo positivo na minha pretensão de praticar o inglês. Sobravam as duas Irlandas e a Escócia. As Irlandas também são países interessantes, possuindo características semelhantes à Escócia, porém, aquela voz do inconsciente veio e me lembrou o velho sonho de onde eu queria viver.

A escolha não foi muito difícil, até porque além da preferência, encontrei Corbenic, um Camphill fazenda numa das regiões mais bonitas do planeta, construído em cima das terras que dão nome a esta série. Então, tudo foi somando e a situação era que eu trabalharia numa comunidade no meio das Highlands, com direito a florestas, vida na fazenda, caridade, aprendizado, castelos, muita neve e muita fantasia cinematográfica no fundo disso tudo. Fiquei feliz com o destino, parecia realmente um sonho, e eu que planejava aceitar até emprego de zelador de lanchonete nos EUA, estava prestes a trabalhar com algo especial, num lugar especial e com pessoas mais especiais ainda.


A Escócia fica ao norte da ilha britânica, logo acima da Inglaterra, tem pouco mais de 5 milhões de habitantes, o que é menos que a metade da população da cidade de São Paulo. Fazendo parte do Reino Unido, é comandada por uma monarquia constitucional liderada pelo primeiro ministro David Cameron. O clima temperado é bem semelhante ao da vizinha Inglaterra, com muita chuva, muita nuvem, muito cinza e no inverno muita neve, um frio de rachar agravado pelo fator altitude, principalmente nas terras altas, como as que me fixarei. E eu que morei praticamente a vida toda no calorzão de Fortaleza, já estou arrumando tudo que tenho de roupa de frio para levar, mesmo já tendo sido informado que esse tipo de roupa é bem barato lá. Não posso negar que era isso que eu queria mesmo, está na hora de compensar os suplícios de calor que já passei por aqui. Todos dizem que vou sentir falta, bom, isso só saberei quando estiver lá, vamos ver.


A imagem abaixo é uma foto de satélite da Escócia, notem as 3 cidades com os nomes maiores, Glasgow, Edinburgh e Aberdeen, são as três maiores cidades do país, nessa ordem. O “X” em vermelho é a região onde fica o Camphill que trabalharei, uma zona rural próxima a um pequeno vilarejo chamado Dunkeld, pouco mais de mil habitantes vivem lá, é tão pequeno que quando as pessoas se referem àquela região, preferem falar em Perth, uma cidade um pouco maior, sede de alguns festivais e atrações turísticas famosas entre os europeus.


Bom, é isso, caso queiram mais informações, perguntem nos comentários que ficarei feliz em responder. Abaixo deixarei mais um belo vídeo com várias imagens e uma trilha sonora espetacular. No próximo post falarei mais sobre Corbenic. Quero aproveitar para lembrar que meu blog está participando do “PRÊMIO TOPBLOG 2011”, e quem quiser me dar uma força, é só clicar naquele selo azul na lateral direita da tela e votar. Faltam 36 dias, e como diria William Wallace, "Freeeeeeeeeeeeeeeeeedooooom!". Abraço a todos e até breve!

sábado, 4 de junho de 2011

Nerds, muito a ensinar, muito a aprender


Os seres humanos se diferenciam a partir de suas vocações, gostos, costumes, relacionamentos, entre outros aspectos que formam a individualidade inerente a cada um. Para deixar claras as diferenças, colocamos nomes em tudo e em todos, se nasci João, sou João, se me formei em medicina, sou médico, se tenho um filho, viro pai, se morro, sou falecido, e ao juntar tudo sou João, médico, pai e falecido.
Com esta necessidade de identificação de tudo, é inevitável a manutenção de estereótipos, ou seja, imagens preconcebidas de determinada pessoa, pratica muito comum entre os ocidentais, sendo uma das mais fortes causas do preconceito e da discriminação. Se estou andando na rua e vejo um rapaz mal vestido, com a barba por fazer, andar vacilante e uma garrafa plástica de água ardente na mão, logo me inclino a enquadrá-lo como “cachaceiro”, introduzindo-o no grupo dos “cachaceiros”, a partir disso assimilo mais uma diversidade de informações, muitas vezes errôneas, sobre sua vida particular, como sua relação familiar, sua carreira profissional e seus afazeres das horas vagas.
Assim a humanidade foi batizando seus grupos durante grande parte de sua história, aqueles são políticos, esses são cavaleiros, aqueles são burgueses, esses são bárbaros, aqueles são religiosos, esses são intelectuais. A partir da metade do século XX começamos a presenciar o nascimento de novos grupos sociais, os hippies, hooligans, skinheads, entre uma infinidade de outros, inclusive mais recentemente surgiu a tribo dos coloridos, vejam só.
Provavelmente você deve ter percebido um espaço vazio no parágrafo anterior, está faltando o grupo mais fascinante desses, mas é claro, os nerds! Os nerds estão enraizados de uma forma tão segura na sociedade moderna que dispensam até apresentações. É difícil não termos um nerd a admirar, nem que ele seja fruto de livros, séries de TV ou filmes. O nerd a cada dia conquista mais seu espaço, seu respeito na sociedade, passando da esfera ridicularizada do fim do segundo milênio ao reconhecimento dos avanços tecnológicos do terceiro. E isso com certeza é uma cacetada naqueles que sempre discriminaram este grupo.
Sempre que vejo um nerd, minha atenção é desviada, gosto de observar seus comportamentos, suas ações, seus gestos, tento entender a figura que está logo ali, em minha frente. Hoje estava eu na academia tentando melhorar meu condicionamento físico, há algum tempo enferrujado, e tinha acabado um exercício, fiquei sentado no aparelho, e quando olhei para o lado, dois indivíduos estavam interagindo, um era o instrutor da academia, outro era um jovem franzino, de pele muito clara, como a de alguém que não pega sol há meses, usava óculos e tinha a coluna levemente inclinada para frente.

Ao ver aquele jovem, logo constatei que era um nerd, não pela sua aparência em si, mas principalmente pela sua atenção e seu semblante frente ao instrutor, ele permanecia quase imóvel, com os braços para trás, focado em cada detalhe de informação transmitido pelo seu tutor momentâneo. Mantinha a calma e em nenhum momento mostrava ansiedade, apesar de estar se preparando para um grande desafio, estimular sua limitada musculatura e levantar o peso da polia, algo que era visivelmente inédito para ele.
Dentre todas as aptidões do nerd, a que me provoca mais admiração é a capacidade de se concentrar e absorver informações, o preparo intelectual de assimilar o conhecimento e aplicá-lo, como se aquilo já viesse de vidas passadas, como se ele já tivesse sido preparado antes de chegar à Terra. Ele não se importa com a superficialidade material da sociedade, a exigência de se vestir bem ou de carregar sorrisos falsos por ai, é algo que não tem sentido, é algo que o faria perder tempo e não o levarei a lugar algum.
Não é um indivíduo traiçoeiro, não que ele não queira se sobrepor a ninguém, mas está sempre indiferente a isso, prefere focar em seus afazeres, em sua individualidade. No mais, é um indivíduo a parte da sociedade, porém é facilmente corrompido por ela. Se o nerd fosse um espírito de outro planeta, seria de um planeta bem desenvolvido, onde a ciência e a tecnologia avançaram notavelmente, porém não conseguiu emergir o cenário necessário a um desenvolvimento afetuoso entre seus habitantes, deixando um grande vazio subjetivo na alma dos indivíduos, vazio esse que seria preenchido numa vivência na Terra.
Os nerds são mestres da intelectualidade, do raciocínio, da assimilação de informações, porém são grandes fracassados em termos de relacionamento, e é esse o grande desafio do nerd para progredir seu espírito, tentar aprender a arte de se relacionar numa sociedade um tanto cruel, algo que provoca medo, angústia, e muitas vezes traumas que os fazem desistir. Aquele nerd que eu vi na academia estava se superando, era perceptível que ele estava ali dando um grande passo na sua vida social, aceitando que possui um corpo e precisa exercitá-lo, desligando o computador ou fechando o livro de física para abordar o instrutor da academia e perguntar o que é uma “rosca inversa” ou um “supino vertical”
Eis que surge o grande ponto de toda história, somos todos diferentes, e as diferenças são necessárias para a integração, para o aprendizado recíproco, para o progresso do espírito. A discriminação é uma grande burrice, todos temos conteúdo e uma história para contar, aquele que discrimina não passa de um ignorante orgulhoso que acredita que sabe muito e no final da vida vai perceber o quanto estagnou sem dar oportunidade aos novos conhecimentos. Parabéns aos nerds que comemoraram o “Dia Internacional do Orgulho Nerd” há alguns dias (25 de maio), obrigado pelas contribuições à sociedade e não deixem que seres atrasados freiem suas ascensões sociais.