sábado, 4 de junho de 2011

Nerds, muito a ensinar, muito a aprender


Os seres humanos se diferenciam a partir de suas vocações, gostos, costumes, relacionamentos, entre outros aspectos que formam a individualidade inerente a cada um. Para deixar claras as diferenças, colocamos nomes em tudo e em todos, se nasci João, sou João, se me formei em medicina, sou médico, se tenho um filho, viro pai, se morro, sou falecido, e ao juntar tudo sou João, médico, pai e falecido.
Com esta necessidade de identificação de tudo, é inevitável a manutenção de estereótipos, ou seja, imagens preconcebidas de determinada pessoa, pratica muito comum entre os ocidentais, sendo uma das mais fortes causas do preconceito e da discriminação. Se estou andando na rua e vejo um rapaz mal vestido, com a barba por fazer, andar vacilante e uma garrafa plástica de água ardente na mão, logo me inclino a enquadrá-lo como “cachaceiro”, introduzindo-o no grupo dos “cachaceiros”, a partir disso assimilo mais uma diversidade de informações, muitas vezes errôneas, sobre sua vida particular, como sua relação familiar, sua carreira profissional e seus afazeres das horas vagas.
Assim a humanidade foi batizando seus grupos durante grande parte de sua história, aqueles são políticos, esses são cavaleiros, aqueles são burgueses, esses são bárbaros, aqueles são religiosos, esses são intelectuais. A partir da metade do século XX começamos a presenciar o nascimento de novos grupos sociais, os hippies, hooligans, skinheads, entre uma infinidade de outros, inclusive mais recentemente surgiu a tribo dos coloridos, vejam só.
Provavelmente você deve ter percebido um espaço vazio no parágrafo anterior, está faltando o grupo mais fascinante desses, mas é claro, os nerds! Os nerds estão enraizados de uma forma tão segura na sociedade moderna que dispensam até apresentações. É difícil não termos um nerd a admirar, nem que ele seja fruto de livros, séries de TV ou filmes. O nerd a cada dia conquista mais seu espaço, seu respeito na sociedade, passando da esfera ridicularizada do fim do segundo milênio ao reconhecimento dos avanços tecnológicos do terceiro. E isso com certeza é uma cacetada naqueles que sempre discriminaram este grupo.
Sempre que vejo um nerd, minha atenção é desviada, gosto de observar seus comportamentos, suas ações, seus gestos, tento entender a figura que está logo ali, em minha frente. Hoje estava eu na academia tentando melhorar meu condicionamento físico, há algum tempo enferrujado, e tinha acabado um exercício, fiquei sentado no aparelho, e quando olhei para o lado, dois indivíduos estavam interagindo, um era o instrutor da academia, outro era um jovem franzino, de pele muito clara, como a de alguém que não pega sol há meses, usava óculos e tinha a coluna levemente inclinada para frente.

Ao ver aquele jovem, logo constatei que era um nerd, não pela sua aparência em si, mas principalmente pela sua atenção e seu semblante frente ao instrutor, ele permanecia quase imóvel, com os braços para trás, focado em cada detalhe de informação transmitido pelo seu tutor momentâneo. Mantinha a calma e em nenhum momento mostrava ansiedade, apesar de estar se preparando para um grande desafio, estimular sua limitada musculatura e levantar o peso da polia, algo que era visivelmente inédito para ele.
Dentre todas as aptidões do nerd, a que me provoca mais admiração é a capacidade de se concentrar e absorver informações, o preparo intelectual de assimilar o conhecimento e aplicá-lo, como se aquilo já viesse de vidas passadas, como se ele já tivesse sido preparado antes de chegar à Terra. Ele não se importa com a superficialidade material da sociedade, a exigência de se vestir bem ou de carregar sorrisos falsos por ai, é algo que não tem sentido, é algo que o faria perder tempo e não o levarei a lugar algum.
Não é um indivíduo traiçoeiro, não que ele não queira se sobrepor a ninguém, mas está sempre indiferente a isso, prefere focar em seus afazeres, em sua individualidade. No mais, é um indivíduo a parte da sociedade, porém é facilmente corrompido por ela. Se o nerd fosse um espírito de outro planeta, seria de um planeta bem desenvolvido, onde a ciência e a tecnologia avançaram notavelmente, porém não conseguiu emergir o cenário necessário a um desenvolvimento afetuoso entre seus habitantes, deixando um grande vazio subjetivo na alma dos indivíduos, vazio esse que seria preenchido numa vivência na Terra.
Os nerds são mestres da intelectualidade, do raciocínio, da assimilação de informações, porém são grandes fracassados em termos de relacionamento, e é esse o grande desafio do nerd para progredir seu espírito, tentar aprender a arte de se relacionar numa sociedade um tanto cruel, algo que provoca medo, angústia, e muitas vezes traumas que os fazem desistir. Aquele nerd que eu vi na academia estava se superando, era perceptível que ele estava ali dando um grande passo na sua vida social, aceitando que possui um corpo e precisa exercitá-lo, desligando o computador ou fechando o livro de física para abordar o instrutor da academia e perguntar o que é uma “rosca inversa” ou um “supino vertical”
Eis que surge o grande ponto de toda história, somos todos diferentes, e as diferenças são necessárias para a integração, para o aprendizado recíproco, para o progresso do espírito. A discriminação é uma grande burrice, todos temos conteúdo e uma história para contar, aquele que discrimina não passa de um ignorante orgulhoso que acredita que sabe muito e no final da vida vai perceber o quanto estagnou sem dar oportunidade aos novos conhecimentos. Parabéns aos nerds que comemoraram o “Dia Internacional do Orgulho Nerd” há alguns dias (25 de maio), obrigado pelas contribuições à sociedade e não deixem que seres atrasados freiem suas ascensões sociais.

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