quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O infortúnio


Olhares discriminam a dor do caminhar sem tempo, sem direção, da fuga incessante que não encontra abrigo, do chão do amanhecer frio e solitário. Por quê? Esclareça para o garoto, qual seria o real sentido de tudo, do obscuro, do infortúnio. O rompimento da película do além para este mundo foi no mínimo um choque, terreno hostil, sem volta, sem chance.

Traçamos nossas vidas com esmero, encaixando as peças em seus devidos lugares, vencendo os obstáculos e enxergando o futuro com entusiasmo, deitamos, pensamos, olhamos para o teto do quarto, de bruços as paredes parecem mais próximas, tudo está delineado, firme, protegendo os espaços de nossa estadia. É possível ouvir o sussurro do chuvisco, que nos conforta e amansa a mente.

O garoto está lá fora, escolheu um lugar diferente da noite passada, não que a intenção seja variar, não há nenhuma intenção, a não ser da que o move naturalmente, em linhas tortas, nos cambaleios das vias. O sono demora a chegar, o corpo já nem reage aos gritos da fome, essa vai perdendo a voz gradualmente.


O que fizeram os infortunados? Algo grave por sinal, para merecerem pouco, e ao mesmo tempo tanto, tantas provas, tantos desafios, sentidos na pele, no corpo, no calor da longa caminhada da vida, de muitas quedas e muitas moedas. Seria o pagamento de uma pena? Seria um treinamento para eternidade?

- Amigo, por favor, deixe-me tirar uma foto sua.
- Pra quê? Entrevista? Eu não sei de nada! Não tenho nada a ver!

O peso da angústia é infernal por si só, imaginemos juntado ao medo, ao cansaço, ao abandono. Grande expiação. Devo me lembrar sempre no momento de minhas inclinações, de meus deslizes emocionais, todo o universo destes indivíduos, pois nenhum extremo seria melhor para reflexão de minhas necessidades impulsivas e chulas.

Acalmem-se, sempre estivemos aqui com vocês, a realidade está próxima, vamos lhes mostrar.

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