sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Porque a direita brasileira é tão desorganizada


Durante meus anos de faculdade, período em que construí minha formação no curso de Ciências Econômicas, muito me preocupava a situação do Brasil com o caminho que o país seguia ao continuar sob o controle do Partido dos Trabalhadores. Com esta preocupação, passei a me envolver mais com política e ajudei a fundar um grupo de estudos liberal em minha universidade. Este envolvimento não foi só no âmbito das articulações, mas principalmente nos estudos. Percebi que a única forma de se opor à força das tendências socialistas que imperavam no país, era conhecendo "o que pensa o outro lado", foi então que encontrei Hayek, Friedman, Mises, Ortega y Gasset, Bastiat, Kirk, Scruton e uma série de outros pensadores muito conhecidos no exterior, mas curiosamente ocultados no cenário nacional.

À medida que ia aprofundando nos estudos e conhecendo a dinâmica da guerra política brasileira, fui me surpreendendo com o tamanho da força que a esquerda tinha, muito embora o brasileiro não fosse lá esse povo letrado e "por dentro" de ideias políticas. Você só percebe a bolha em que nossa gente está, quando passa a ler coisas que os acadêmicos brasileiros não gostam. Se você tiver morado no exterior, este enclausuramento intelectual fica mais visível ainda. Foi então que passei a querer entender: por que praticamente não existem "vozes de direita" no Brasil? Ora, aparentemente toda democracia que se preze tem um partido conservador, liberal, liberal-conservador ou algo do tipo, mas neste país não havia absolutamente nada.

Já ouvi uma teoria de que isso tem tudo a ver com o "desgaste" da direita após os anos de domínio coercitivo dos militares, e tenho de concordar que isto realmente faz sentido, mas um ponto que passei a observar é que, a grosso modo, esquerdistas são intensamento engajados em política, enquanto direitistas só querem cuidar de suas próprias vidas e não se envolver em assunto desgastantes como "os problemas inerentes à sociedade e à administração pública". Durante muito tempo, inclusive, envolver-se com política era algo que levantava enormes preconceitos, como se fosse "coisa de quem não tem o que fazer", o que deixava o caminho totalmente aberto para os esquerdistas dominarem todas as esferas do Estado, educação e linhas editoriais.

Uma coisa que tentava explicar para os meus colegas "estudantes de gestão" é que, de fato, suas carreiras eram muito importantes, mas se eles ignorassem completamente a política ficariam nas mãos daqueles que se interessam, e então eu apontava o dedo em direção aos blocos dos cursos de humanas, onde o debate político é intenso, constante e acalorado, sendo pautado quase que completamente pelos esquerdistas, tanto pelos alunos quanto pelos professores marxistas que parece que vivem em função de seus "ideais revolucionários", transformando o campus universitário em uma espécie de quartel general das suas articulações ideológicas.

Envolver-se com política enquanto se está estudando em uma faculdade "apolítica" é extremamente desgastante, as pessoas simplesmente não gostam de "misturar as coisas", e se você tentar promover algo que desperte consciências, é simplesmente mal visto, como uma espécie de "agitador inconveniente". Cenário totalmente diferente dos cursos de humanas, onde aqueles que promovem assuntos políticos de forma saudável e civilizada são respeitados e até destacados pelos próprios professores. Alunos de administração, por exemplo, costumam ser economicamente liberais, mas se interessam muito pouco por política, e então não entendem porque é tão difícil empreender no Brasil, ou mesmo ser um empregado, enfrentando longas jornadas de trabalho para ganhar um pequeno salário que é dividido com o governo.

Por negligenciar suas próprias cidadanias, os "direitistas" acabam ficando nas mãos dos esquerdistas. Insistem em reclamar dos políticos e falar mal de tudo e de todos, mas não fazem nada para contribuir na "guerra ideológica", apenas continuam "cuidando de seus negócios", não entendendo muito bem porque o país parece estar entrando em uma espécie de caos entrópico. Esta omissão em não tentar entender o que acontece na política de seu própria país, custou caro a todos nós com os escândalos promovidos pelo Partido dos Trabalhadores enquanto governavam. Felizmente Dilma Rousseff sofreu impeachment e eventos piores não aconteceram (e tinham tudo para acontecer).

Mas parece que as coisas estão mudando, ao jogar o sistema político em uma grave crise moral, e o povo em calamidade econômica, o PT acabou por gerar uma enorme força de reação, forçando milhares de brasileiros a se interessarem por política, talvez por terem visto o que estava acontecendo na Venezuela, passando a se preocuparem com a manutenção de suas próprias vidas. Mas esta "reação momentânea" não é suficiente, caso queira transformar o Brasil em um país digno de atenção, aqueles que se identificam com a direita devem passar a ocupar espaços de forma sustentável e prolongada, criando no longo prazo uma nova cultura política em nosso país.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Minimalismo, modinhas modernas e a negação das tradições

Há alguns anos venho observando uma intensificação dos hábitos "minimalistas", ou a cultura do "menos é mais", como você preferir chamar. É muito interessante como, de tempos em tempos, o mundo moderno traz à tona ideias do passado, mas com uma roupagem aparentemente diferente, como se fosse uma super novidade, deixando todos fascinados. A ideia do "minimalismo" consiste, resumidamente e a grosso modo, em se livrar de coisas inúteis que só entulham e atrapalham sua vida, deixando apenas aquilo que é necessário, aquilo que você quer mesmo. Quando você faz isso, sua vida fica mais clean, mais leve, mais harmoniosa e, consequentemente você também se sente melhor.

Isto é uma verdade, uma vida simples geralmente é uma vida mais feliz, e provavelmente você encontrará esta ideia na maior parte das grandes religiões, como na Católica, por exemplo. Não ficarei aqui citando passagens da bíblia, já que chega a ser de conhecimento comum que um cristão deve ter uma vida frugal, sem apego aos bens materiais, prezando pela ordem e pela limpeza, muito longe daquele estereótipo de americano consumista que mora em uma casa enorme que tem tantos objetos e coisas inúteis que o sujeito mal consegue andar sem sair chutando tudo (as coisas pioram ainda mais quando há crianças na casa).

Mas meu ponto principal de hoje não é sobre o movimento minimalista em si - que considero muito positivo - mas de duas práticas que revelam um pouco sobre o comportamento e a psicologia modernas. A primeira prática é negar a grande herança civilizacional das tradições cristãs. Chesterton dizia que a doutrina católica era a melhor filosofia para viver na Terra, superando as outras religiões por ser capaz de entender a natureza humana de forma mais aguçada, orientando com precisão como deveria ser uma vida virtuosa e com retidão, afastando-se dos pecados e buscando a postura moral que mais favorecia o bem-estar do homem.

Mesmo se você não acreditar em Deus, ainda assim a "ética cristã" perpetrada pela Igreja é sábia, e seus mandamentos podem orientar qualquer ser-humano em direção a uma vida mais equilibrada e feliz. Como já dito aqui, uma das principais orientações da Igreja é ter uma vida simples, de forma muito semelhante ao que prega o minimalismo (talvez o minimalismo ainda seja mais radical, pois o católico costuma ver mais valor em certos ornamentos, mas ambos compartilham tendências de "sabedoria" parecidas), porém o ser-humano moderno, sedento por outras fontes de orientação moral que não sejam as mesmas de seus "antiquados avós", preferem negar estas orientações milenares de vida e abraçar filosofias e ideologias fragmentadas que são vendidas pelo mundo a altos preços.

É como se as respostas (quase) perfeitas de uma vida sã já estivessem ali em nossos quintais, harmonizadas e equilibradas após séculos e séculos de grandes esforços intelectuais e físicos, mas preferimos buscar respostas imperfeitas em lugares muito mais distantes, que podem até funcionar de certa forma, mas estão desintegradas de um sistema filosófico harmonizado como aquele deixado pelas tradições cristãs. Mas quem vai querer dar o braço a torcer a "instituições do passado"? Afinal de contas somos muito "descolados" e "progressistas" para isso.

Isto nos leva à segunda prática, que consiste em encorporar "virtudes soltas", de acordo com a moda e a necessidade vigentes. Chesterton gostava do termo "virtudes enlouquecidas", querendo dizer que o homem moderno queria ser bom, mas achava que isso poderia ser feito como em um restaurante self-service, onde ele poderia se servir daquilo que era mais cômodo, e não de um sistema completo e integrado que demandaria muitas restrições e sacrifícios. Simplicidade e desapego material são legais? "Neste momento sim, então vou querer". Castidade é chato e fora de moda? "Então não vou querer". É claro que como o homem moderno não se apega a um corpo unificado de ideias morais, esta ordem pode simplesmente mudar, e o que é antiquado hoje pode se tornar uma ideia nobre amanhã, como a castidade em uma situação de calamidade pública com alguma doença sexualmente transmissível rondando. Assim como a simplicidade pode ser abandonada se alguma ideologia materialista assumir o poder e todos quiserem colaborar com a propaganda do "aumento de padrão de vida", passando a usufruir novamente das tendências de alto consumo (podendo isto acontecer em um governo tanto de direita como de esquerda).

Então em primeiro lugar nega-se e ridiculariza-se o passado e as tradições, evitando qualquer reconhecimento de virtude e verdade neles. Feito isto, passa-se a se buscar fontes de boa filosofia, ideias sábias que contribuam para o equilíbrio da mente e da alma, que comumente são encontradas, mas sempre em fragmentos e frequentemente em doses erradas, não proporcionando os resultados desejados. É claro que boas ideias são melhores do que más ideias. É claro que praticar meditação nos moldes orientais é melhor que usar drogas diariamente como forma de "se equilibrar". Mas não me venha com "novidades" que não são novidades, com ideias atraentes que na verdade são antigas. Não posso fazer nada se você se afastou do legado dos seus antepassados e hoje é facilmente impressionado(a) por escritores e ideólogos que vendem a preço de ouro coisas que o padre da cidadezinha dos meus bisavós já falava. O que a geração atual precisa é conhecer as próprias origens, é uma pena que a cultura clássica ocidental tenha sido removida das escolas, meus contemporâneos mal conhecem o precioso tesouro de que são herdeiros.