domingo, 20 de janeiro de 2019

Minimalismo, modinhas modernas e a negação das tradições

Há alguns anos venho observando uma intensificação dos hábitos "minimalistas", ou a cultura do "menos é mais", como você preferir chamar. É muito interessante como, de tempos em tempos, o mundo moderno traz à tona ideias do passado, mas com uma roupagem aparentemente diferente, como se fosse uma super novidade, deixando todos fascinados. A ideia do "minimalismo" consiste, resumidamente e a grosso modo, em se livrar de coisas inúteis que só entulham e atrapalham sua vida, deixando apenas aquilo que é necessário, aquilo que você quer mesmo. Quando você faz isso, sua vida fica mais clean, mais leve, mais harmoniosa e, consequentemente você também se sente melhor.

Isto é uma verdade, uma vida simples geralmente é uma vida mais feliz, e provavelmente você encontrará esta ideia na maior parte das grandes religiões, como na Católica, por exemplo. Não ficarei aqui citando passagens da bíblia, já que chega a ser de conhecimento comum que um cristão deve ter uma vida frugal, sem apego aos bens materiais, prezando pela ordem e pela limpeza, muito longe daquele estereótipo de americano consumista que mora em uma casa enorme que tem tantos objetos e coisas inúteis que o sujeito mal consegue andar sem sair chutando tudo (as coisas pioram ainda mais quando há crianças na casa).

Mas meu ponto principal de hoje não é sobre o movimento minimalista em si - que considero muito positivo - mas de duas práticas que revelam um pouco sobre o comportamento e a psicologia modernas. A primeira prática é negar a grande herança civilizacional das tradições cristãs. Chesterton dizia que a doutrina católica era a melhor filosofia para viver na Terra, superando as outras religiões por ser capaz de entender a natureza humana de forma mais aguçada, orientando com precisão como deveria ser uma vida virtuosa e com retidão, afastando-se dos pecados e buscando a postura moral que mais favorecia o bem-estar do homem.

Mesmo se você não acreditar em Deus, ainda assim a "ética cristã" perpetrada pela Igreja é sábia, e seus mandamentos podem orientar qualquer ser-humano em direção a uma vida mais equilibrada e feliz. Como já dito aqui, uma das principais orientações da Igreja é ter uma vida simples, de forma muito semelhante ao que prega o minimalismo (talvez o minimalismo ainda seja mais radical, pois o católico costuma ver mais valor em certos ornamentos, mas ambos compartilham tendências de "sabedoria" parecidas), porém o ser-humano moderno, sedento por outras fontes de orientação moral que não sejam as mesmas de seus "antiquados avós", preferem negar estas orientações milenares de vida e abraçar filosofias e ideologias fragmentadas que são vendidas pelo mundo a altos preços.

É como se as respostas (quase) perfeitas de uma vida sã já estivessem ali em nossos quintais, harmonizadas e equilibradas após séculos e séculos de grandes esforços intelectuais e físicos, mas preferimos buscar respostas imperfeitas em lugares muito mais distantes, que podem até funcionar de certa forma, mas estão desintegradas de um sistema filosófico harmonizado como aquele deixado pelas tradições cristãs. Mas quem vai querer dar o braço a torcer a "instituições do passado"? Afinal de contas somos muito "descolados" e "progressistas" para isso.

Isto nos leva à segunda prática, que consiste em encorporar "virtudes soltas", de acordo com a moda e a necessidade vigentes. Chesterton gostava do termo "virtudes enlouquecidas", querendo dizer que o homem moderno queria ser bom, mas achava que isso poderia ser feito como em um restaurante self-service, onde ele poderia se servir daquilo que era mais cômodo, e não de um sistema completo e integrado que demandaria muitas restrições e sacrifícios. Simplicidade e desapego material são legais? "Neste momento sim, então vou querer". Castidade é chato e fora de moda? "Então não vou querer". É claro que como o homem moderno não se apega a um corpo unificado de ideias morais, esta ordem pode simplesmente mudar, e o que é antiquado hoje pode se tornar uma ideia nobre amanhã, como a castidade em uma situação de calamidade pública com alguma doença sexualmente transmissível rondando. Assim como a simplicidade pode ser abandonada se alguma ideologia materialista assumir o poder e todos quiserem colaborar com a propaganda do "aumento de padrão de vida", passando a usufruir novamente das tendências de alto consumo (podendo isto acontecer em um governo tanto de direita como de esquerda).

Então em primeiro lugar nega-se e ridiculariza-se o passado e as tradições, evitando qualquer reconhecimento de virtude e verdade neles. Feito isto, passa-se a se buscar fontes de boa filosofia, ideias sábias que contribuam para o equilíbrio da mente e da alma, que comumente são encontradas, mas sempre em fragmentos e frequentemente em doses erradas, não proporcionando os resultados desejados. É claro que boas ideias são melhores do que más ideias. É claro que praticar meditação nos moldes orientais é melhor que usar drogas diariamente como forma de "se equilibrar". Mas não me venha com "novidades" que não são novidades, com ideias atraentes que na verdade são antigas. Não posso fazer nada se você se afastou do legado dos seus antepassados e hoje é facilmente impressionado(a) por escritores e ideólogos que vendem a preço de ouro coisas que o padre da cidadezinha dos meus bisavós já falava. O que a geração atual precisa é conhecer as próprias origens, é uma pena que a cultura clássica ocidental tenha sido removida das escolas, meus contemporâneos mal conhecem o precioso tesouro de que são herdeiros.

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