Durante meus anos de faculdade, período em que construí minha formação no curso de Ciências Econômicas, muito me preocupava a situação do Brasil com o caminho que o país seguia ao continuar sob o controle do Partido dos Trabalhadores. Com esta preocupação, passei a me envolver mais com política e ajudei a fundar um grupo de estudos liberal em minha universidade. Este envolvimento não foi só no âmbito das articulações, mas principalmente nos estudos. Percebi que a única forma de se opor à força das tendências socialistas que imperavam no país, era conhecendo "o que pensa o outro lado", foi então que encontrei Hayek, Friedman, Mises, Ortega y Gasset, Bastiat, Kirk, Scruton e uma série de outros pensadores muito conhecidos no exterior, mas curiosamente ocultados no cenário nacional.
À medida que ia aprofundando nos estudos e conhecendo a dinâmica da guerra política brasileira, fui me surpreendendo com o tamanho da força que a esquerda tinha, muito embora o brasileiro não fosse lá esse povo letrado e "por dentro" de ideias políticas. Você só percebe a bolha em que nossa gente está, quando passa a ler coisas que os acadêmicos brasileiros não gostam. Se você tiver morado no exterior, este enclausuramento intelectual fica mais visível ainda. Foi então que passei a querer entender: por que praticamente não existem "vozes de direita" no Brasil? Ora, aparentemente toda democracia que se preze tem um partido conservador, liberal, liberal-conservador ou algo do tipo, mas neste país não havia absolutamente nada.
Já ouvi uma teoria de que isso tem tudo a ver com o "desgaste" da direita após os anos de domínio coercitivo dos militares, e tenho de concordar que isto realmente faz sentido, mas um ponto que passei a observar é que, a grosso modo, esquerdistas são intensamento engajados em política, enquanto direitistas só querem cuidar de suas próprias vidas e não se envolver em assunto desgastantes como "os problemas inerentes à sociedade e à administração pública". Durante muito tempo, inclusive, envolver-se com política era algo que levantava enormes preconceitos, como se fosse "coisa de quem não tem o que fazer", o que deixava o caminho totalmente aberto para os esquerdistas dominarem todas as esferas do Estado, educação e linhas editoriais.
Uma coisa que tentava explicar para os meus colegas "estudantes de gestão" é que, de fato, suas carreiras eram muito importantes, mas se eles ignorassem completamente a política ficariam nas mãos daqueles que se interessam, e então eu apontava o dedo em direção aos blocos dos cursos de humanas, onde o debate político é intenso, constante e acalorado, sendo pautado quase que completamente pelos esquerdistas, tanto pelos alunos quanto pelos professores marxistas que parece que vivem em função de seus "ideais revolucionários", transformando o campus universitário em uma espécie de quartel general das suas articulações ideológicas.
Envolver-se com política enquanto se está estudando em uma faculdade "apolítica" é extremamente desgastante, as pessoas simplesmente não gostam de "misturar as coisas", e se você tentar promover algo que desperte consciências, é simplesmente mal visto, como uma espécie de "agitador inconveniente". Cenário totalmente diferente dos cursos de humanas, onde aqueles que promovem assuntos políticos de forma saudável e civilizada são respeitados e até destacados pelos próprios professores. Alunos de administração, por exemplo, costumam ser economicamente liberais, mas se interessam muito pouco por política, e então não entendem porque é tão difícil empreender no Brasil, ou mesmo ser um empregado, enfrentando longas jornadas de trabalho para ganhar um pequeno salário que é dividido com o governo.
Por negligenciar suas próprias cidadanias, os "direitistas" acabam ficando nas mãos dos esquerdistas. Insistem em reclamar dos políticos e falar mal de tudo e de todos, mas não fazem nada para contribuir na "guerra ideológica", apenas continuam "cuidando de seus negócios", não entendendo muito bem porque o país parece estar entrando em uma espécie de caos entrópico. Esta omissão em não tentar entender o que acontece na política de seu própria país, custou caro a todos nós com os escândalos promovidos pelo Partido dos Trabalhadores enquanto governavam. Felizmente Dilma Rousseff sofreu impeachment e eventos piores não aconteceram (e tinham tudo para acontecer).
Mas parece que as coisas estão mudando, ao jogar o sistema político em uma grave crise moral, e o povo em calamidade econômica, o PT acabou por gerar uma enorme força de reação, forçando milhares de brasileiros a se interessarem por política, talvez por terem visto o que estava acontecendo na Venezuela, passando a se preocuparem com a manutenção de suas próprias vidas. Mas esta "reação momentânea" não é suficiente, caso queira transformar o Brasil em um país digno de atenção, aqueles que se identificam com a direita devem passar a ocupar espaços de forma sustentável e prolongada, criando no longo prazo uma nova cultura política em nosso país.
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