terça-feira, 6 de junho de 2023

Simplificar sua vida é uma questão de saúde mental

Quando somos crianças os adultos nos colocam para passar várias horas de nossos dias em lugares onde supostamente aprendemos a como entender o mundo, assim como sobreviver nele (pelo menos a intenção é mais ou menos esta). Este lugar se chama escola. Na escola recebemos lições e informações que remetem ao conhecimento adquirido da humanidade até aquele momento. Alguns tendem a acreditar que as principais ferramentas necessárias para esta vida são passadas ali mesmo, bastando a nós apenas adaptar tudo aquilo nas circunstâncias que iremos observar ao longo de nossas jornadas.

O problema desta lógica é que ela parece partir de uma impressão de que o mundo é mais ou menos estável e, portanto, nada de surpreendente ou muito inesperado deverá acontecer. Mas a verdade é que este mundo, assim como esta vida, são consideravelmente imprevisíveis, principalmente no século XXI. Hoje nos deparamos com mudanças aceleradas, todos os dias novas informações, tecnologias e descobertas surgem, deixando-nos um pouco deslocados ante a ausência de um solo firme onde podemos nos sustentar por um longo tempo.

Uma grande mudança que nunca nos prepararam para lidar foi a ascensão imponente e definitiva de uma vida complexa amparada pela popularização da internet e, consequentemente, dos eletrônicos que a operacionalizam, como os smartphones. De repente passamos de uma realidade moderadamente complexa para uma realidade hiper-complexa. Aplicativos, redes sociais, sistemas, ferramentas de comunicação, globalização etc. São vários os elementos que inundaram nosso cotidiano até o cenário atual, e não, nós não estávamos preparados para isto.

Testemunhamos uma escalada do estresse, da ansiedade, da agitação mental e da frustrante sensação de que temos tudo, mas não temos nada, de que somos privilegiados, mas ao mesmo tempo amaldiçoados, de que somos como o Smeagle de “Senhor dos Anéis”, fascinados com os poderes do anel, mas sem perceber o mal que nos faz. Ficamos perdidos neste mar de novidades. E nosso cérebro, coitado, está muito longe de assimilar tudo, até porque talvez nem seja possível.

Nossa incapacidade de lidar com tanta complexidade nos deixa angustiados, pois pensamos que somos os únicos a estarem assim, acreditamos que talvez sejamos incapazes, pois todos que observamos ao redor parecem estar muito bem, mas isto não é verdade. Os níveis podem ser diferentes, mas no geral estamos todos hiper-estimulados, hiper-agitados, e consequentemente cansados. E este não é um cansaço banal, é um cansaço que nos paralisa, nos esgota, e nos dá a sensação de que o prazer das coisas simples fora afastado. Caímos em uma espécie de embotamento, e por mais que tentemos, não é tão fácil sair dele.

Mas não desanime, não pense que as coisas podem ficar assim para sempre, pois seu poder de reverter este processo continua aqui. Sabe quando seu quarto está totalmente bagunçado e parece não haver esperança para que as coisas sejam colocadas em ordem? Você pode até procrastinar para organizá-lo, mas sabe que à medida em que começa a colocar cada item em seu lugar, as coisas passam a acontecer, e sua capacidade de reverter o processo é real. O quarto bagunçado incomoda e nos entristece porque a complexidade nos pesa, tudo está fora de lugar, não há ordem, não há previsibilidade, a vida fica caótica e improdutiva. Quando passamos a organizá-lo, é como se contra-atacássemos o caos com um choque de ordem, ou melhor, de simplicidade. Perceba, quanto mais organizado um ambiente, mais simples ele parece que é. A simplicidade nos traz leveza, tranquilidade e, sem o incômodo do estresse de uma bagunça, sentimo-nos livres.

A sua mente é como um quarto a se manter organizado: quanto mais elementos e agitação, mais difícil de processar e colocar cada coisa em seu lugar. Imagine, por exemplo, as pessoas que logo que acordam, abrem os stories ou o reels do Instagram e em um espaço de cerca de 5 minutos são bombardeadas com uma variedade indescritível de imagens, sons, cores, questões, que ativam de repente diferentes áreas do cérebro que tinham acabado de “descansar” ao longo da noite. Esta pessoa começará o dia com um nível de caos mental que deixará tudo mais difícil para ela nas próximas horas, fazendo com que tarefas e questões simples se transformem em fontes de irritabilidade e insatisfação, dando a ela a impressão de que é incapaz, nervosa e “não ajustada a este mundo”. Esta prática ao longo de semanas ou meses podem facilmente conduzir uma pessoa saudável a cenários de transtornos mentais que farão de sua vida uma experiência muito mais complicada.

É claro que o exemplo do uso de rede social de amanhã é só um em meio a tantos outros que temos hoje em dia com a ascensão dos smartphones, sendo que o ponto principal que trago é que nós temos que ajustar nossa capacidade humana a esta nova situação civilizacional. Nossa capacidade de processamento é limitada! E atualmente a diversidade de elementos sensoriais ao nosso redor é mais que suficiente para que fiquemos loucos. Isto não é uma bobagem, é algo muito sério que está destruindo vidas, e precisamos racionalizar esta realidade. Quem não souber auto simplificar sua vida, pode até viver muito fisicamente, mas terá uma longa existência de sofrimento sem conseguir disciplinar seus próprios pensamentos.

Use menos celular, não abuse de filmes e séries, priorize atividades na natureza, aprenda a se desligar, pratique higiene mental, saiba o seu limite de absorção de informações para ficar bem, evite noticiário, se política lhe fizer mal, evite-a também, pratique esportes por prazer e não para as redes sociais, afaste-se de atividades muito artificialmente dopaminérgicas, e lembre-se, se você achar que está perdendo informações muito valiosas ao se desconectar, ignore, isto é falso, você não tem que saber tudo que está acontecendo no mundo. Há milhões de coisas acontecendo, você não foi criado biologicamente para processar tudo isso, e sim para processar suas ações individuais e cooperar em comunidade com seus semelhantes mais próximos. Você faz mais colocando o lixo para fora do que assinando um manifesto contra a caça japonesa de baleias do Pacífico.

Faça um teste, vá para algum lugar afastado da cidade, em meio à natureza, pode ser na praia, no campo ou na montanha, fique pelo menos 24 horas sem internet. Se você não conseguir fazer isso, se sentindo angustiado, provavelmente está doente. Então antes de achar que tem problemas psiquiátricos, tente limpar e simplificar sua vida, uma simples mudança de hábitos na forma como você permite que o mundo exterior acesse seus pensamentos, pode lhe poupar de longos tratamentos e ideias confusas sobre você mesmo.

As melhores coisas da vida somente são percebidas quando estamos com nossas mentes limpas para enxergá-las. Aqueles muito submersos no caos das distrações humanas acabam perdendo o espetáculo que passa diante de seus próprios olhos, verdadeiros prazeres que são ignorados por aqueles que estão soterrados nos prazeres da artificialidade, que sempre nos dão uma rápida ilusão de bem-estar, mas que logo se revelam sensações destrutivas que não nos levam a lugar algum. Simplifique para enxergar, e enxergue para ser livre.