domingo, 8 de maio de 2011

O destino, pensando na Escócia


Finalmente! Ou melhor, quase finalmente, não que tenha demorado tanto, mas se tivesse que esperar mais alguns meses ou até um ano, a tristeza iria ser grande. Desde criança eu dizia: “Um dia vou morar fora, nem que seja só por um ano”, era um desejo que vinha da alma, como uma necessidade, não que eu não goste do Brasil, mas a vontade de ultrapassar as fronteiras do país sempre se manifestava nos meus pequenos pensamentos.

A partir da adolescência o projeto foi tomando forma, e para um planejamento racional de como funcionaria, eu analisei todas as circunstâncias de minha vida para que tudo viesse a se realizar. A maior dificuldade para ter uma experiência no exterior quando ainda somos “teens”, ou seja, aquela idade que vai até os 19 anos, é o custo financeiro, afinal de contas, não trabalhamos (na maioria das vezes), não temos currículo para disputar uma vaga de bolsa de estudos ou trabalho e somos dependentes de alguém, geralmente de nossos pais. Portanto, o planejamento de uma viagem tem como base os recursos que podem ser voltados a ela.

Os intercâmbios que a maioria dos adolescentes fazem, aqueles por intermédio de empresas, geralmente para EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia etc, são em sua maioria bem caros, principalmente se o período for acima de 6 meses. É o tipo de intercâmbio caça níquel para classes abastardas e/ou médias que realizam um grande sacrifício para verem seus filhos passando por esta grande experiência. Eu, que faço parte dessa classe média, poderia até colocar meus pais na parede para passar 6 míseros meses nos EUA, porém, esse tipo de intercâmbio nunca me atraiu, sempre achei muito amparado, enganador e perdulário, mas é claro que é uma opinião particular, não tiro mérito daqueles que aproveitaram nessas condições.

Outra opção era o intercâmbio de trabalho, também oferecido por empresas, como “Au Pair”, por exemplo (geralmente para meninas) e aqueles outros como trabalhar em estação de esqui e serviços do gênero. Algo que já me atraia mais, pois queria trabalhar, ralar, sofrer. Comecei a estudar este caminho, porém as exigências de experiência de trabalho e um bom nível de inglês aumentavam minhas dificuldades e provavelmente fariam com que a suposta viagem demorasse um pouco.

Enquanto eu estava aqui batendo cabeça para saber como faria para realizar essa viagem, minha irmã estava nos EUA há um tempo, trabalhando como “au pair”, estudando e realizando o sonho dela como muito havia planejado. Sabendo ela do meu mesmo desejo de morar no exterior, começou a me ajudar a buscar uma maneira de como fazer uma viagem legal, e como já estava em territórios estrangeiros, possíveis portas de entrada eram mais visíveis. Durante esse tempo pensamos em muitas coisas, desde cursos e subempregos até disputa de bolsas para praticar esporte em universidades americanas. Enquanto isso eu já estava dando o gás no curso de inglês para estar pronto para qualquer oportunidade que surgisse, inclusive aprendi muito durante 1 ano de estudos, e de “Joel Santana”, atingi o patamar de, de...bom, não sei dizer bem, mas meu inglês já é suficiente para não passar vergonha, creio.

Eis que numa tarde de 2009 entro no Orkut e lá estavam dois depoimentos enviados por minha irmã, ela escrevia sobre uma espécie de ONG que recrutava estrangeiros para trabalhar como voluntários em diversos cantos do mundo, especialmente no Reino Unido. O nome era Camphill, e se dividia em dezenas de comunidades, cada uma com especialidades diferentes, voltadas para idosos, crianças, deficientes mentais, ou qualquer grupo de pessoas com alguma carência e/ou necessidade aparente. Naquele mesmo dia pesquisei tudo sobre o lugar, o trabalho, e principalmente as interações entre os brasileiros que já tinham ido ou planejavam ir, tudo explicito na comunidade do Orkut. Tudo que li era fascinante, caiu como uma luva, a identificação foi instantânea. O trabalho era o que eu queria, as condições eram favoráveis e os países dentre os quais eu poderia escolher eram diferentes e me despertavam um encanto que poucos lugares do mundo conseguem despertar.

Naquele mesmo ano planejei a viagem para Julho de 2010, enquanto isso faria alguma faculdade pública com o objetivo de juntar dinheiro para possíveis gastos no velho continente (Em 2009 estava no terceiro ano). Escolhi um Camphill na terceira maior cidade da Escócia, Aberdeen, chamava-se “Simeon Care for the Elderly”, era voltado para idosos, e como sempre me dei bem com idosos, resolvi escolher esse. Mandei um e-mail me apresentando, recebi os formulários, preenchi e comecei a colher as referências (os Camphills pedem duas referências de pessoas que tenham convivido com você nos estudos ou trabalho). Infelizmente tive alguns problemas com minhas referências e não deu certo, algo que foi até bom, pois “Simeon” me enviou um e-mail depois dizendo que a idade mínima para os voluntários havia aumentado para 21 anos.

Na mesma época pensei melhor e também achei mais coerente estudar mais a língua e escolher uma faculdade para não atrasar minha graduação, e durante isso começaria todo o processo de novo, escolheria outro Camphill e faria tudo certinho para que não houvesse erro. Também vale salientar que esse um ano a mais foi estreitamente importante para que eu amadurecesse algumas idéias e me preparasse melhor como humano para encarar a viagem com mais firmeza e independência. Algumas coisas acontecem na nossa vida para que colhamos os melhores frutos posteriormente, por isso paciência é fundamental.

Comecei a faculdade de jornalismo prometendo a mim mesmo que iria ser impecável nos estudos, assim meu tempo seria melhor preenchido e eu poderia absorver toda a vivência possível para viajar com segurança. Nesse tempo, escolhi um novo Camphill, chamava-se “Corbenic Camphill Community”, uma bela comunidade rural no meio das terras altas da Escócia, próximo a um vilarejo chamado Dunkeld, um lugar encantador que muito me agradou. Lá, eles cuidam de adultos com deficiência mental, realizando várias oficinas, trabalhos na fazenda, produção de alimentos e vivem em comunidade, num sistema onde todos contribuem para o bem-estar geral. Não pensei duas vezes.

Correu tudo bem com a papelada, preenchimento de formulários, coleta de documentos, coleta de referências, agendamento e viagem para tirar o visto, tudo isso num período de aproximadamente cinco meses, faltando só comprar a passagem, farei isso esta semana. Eu poderia escrever muito mais sobre alguns detalhes, porém o texto ficaria muito extenso e poderia até sair um pouco do foco, portanto responderei qualquer pergunta nos comentários, será um prazer responder. No mais, muita coisa está por vir para os próximos posts, principalmente quando eu estiver lá.

O certo é que estou há menos de dois meses de realizar um grande sonho de infância, e isso tudo me custou apenas muita força de vontade, e é claro, o dinheiro do visto e passagem, que vieram de intervenções externas, não posso negar, mas nada próximo do que eu gastaria com os intercâmbios os quais estamos acostumados a ver. A expectativa é grande para que tudo dê certo e em julho eu esteja lá, recebendo meu treinamento, conhecendo gente de diversos países, apreciando a forte cultura escocesa e contemplando algumas das paisagens mais belas do mundo. Abaixo algumas imagens da região que colhi pelo Facebook, é claro que não mostra muita coisa, mas foi o que consegui, e mais em baixo alguns portais com mais informações sobre os Camphills. Fique comigo e até a próxima!


Paisagem

Venda de produtos fabricados na comunidade

Bosque no Inverno

Bosque no Inverno

Parte da Fazenda

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