segunda-feira, 23 de maio de 2011

O jovem conflitante


Por muito tempo observei, e ainda observo diariamente, o comportamento de alguns jovens quando necessitados de preencherem suas vidas, preencherem sua mentalidade, desenvolverem atividades que dessem sentido ao seu dia-a-dia, principalmente na falta de filhos, trabalho e até estudos, em alguns casos. O jovem está sempre à procura de se ocupar, nem que a ocupação seja o próprio ócio de ficar em casa vendo séries de TV repetitivas ou jogando games de mesmas características.
Dentre a infinidade de ocupações que os jovens escolhem, uma das que me chamam mais atenção é a de “articulador psico-social”, geralmente praticada pelas mulheres, ou meninas, se assim preferir. Este jovem tenta manter constantemente uma série de conflitos interpessoais, onde estão presentes os maiores extremos das paixões humanas, praticando seus sentimentos de forma intensa e desmedida, seja ele amor, ódio, ciúme, inveja, companheirismo etc.
Para este jovem, é como se tudo fosse um jogo, o jogo da vida, das pessoas, dos interesses, das aparências, do materialismo e da hipocrisia, e no caso de vários, da falsa assistência psicológica. A prioridade é sempre a articulação de seu jogo, ele pode estar no enterro do avô, mas se um dos seus dois celulares tocar, ele precisa atender, afinal de contas, deve ser algum amigo(a) de ressaca moral precisando de socorro ou alguma informação privilegiada da baladinha da noite passada.
Vez ou outra, observo aquela menina que sempre está com dois celulares, e esses celulares não param de tocar, e quando param, ela mesma liga para alguém, não importa o quão fútil seja o assunto conduzido naquele momento, o objetivo é estar sempre com o aparelho no ouvido, aparentando assim uma importante ocupação, ou o simples prazer de se sentir uma pessoa solicitada. Ela está sempre andando apressada, para um lado e para o outro, repelindo o máximo possível todas as interações novas que podem interferir naquele “planejado” dia. Mas se caso houver uma interferência, ou seja, se um infeliz abordá-la, ameaçando assim a difícil missão de ser intocável, ela se transforma em um anjo, forçadamente, pois na realidade ela gostaria de dar uma bela bufetada na cara do sujeito. Porém, aparentar educação e serenidade também faz parte do jogo, principalmente se ela estiver num lugar público, onde outras pessoas podem formar opiniões a partir de suas atitudes.
Essa menina carrega a doce ilusão de que sua vida é plena, saudável, e sempre está preenchida de uma maneira valorosa, ela tem certeza de que é uma mestra das articulações psico-sociais, possui uma falsa auto-estima inabalável, munida da equivocada doutrina de que ela deve estar sempre linda e de rosto erguido, e se puder elevar o olhar, diminuindo assim seus semelhantes, melhor ainda. Ela garante que sabe tudo que uma garota deve saber, dessa forma, todos os problemas psicológicos, dela ou das amigas, podem ser resolvidos. Ao mesmo tempo em que ela garante possuir esse poder para derrubar qualquer figura incômoda de seu caminho, agindo maquiavelicamente, sempre pensando em si e sua vitória no joguinho. Gerar um conflito é fácil, e é a melhor ferramenta quando as coisas parecem estar ficando chatas e monótonas é justamente essa, é como um garoto traquino que, sem ter o que fazer, esconde-se atrás da mureta de sua casa e joga pedrinhas nas pessoas que passam na calçada.
O jovem entrega sua vida ao joguinho, ele imagina ter achado seu preenchimento naquele espaço, naquela fantasia, fantasia desenvolvida nos mínimos detalhes, algo que levou anos para ser construído. Mal sabe ele que a costura da fantasia ficou muito apertada e vai ser difícil retirá-la, mas um dia ele se libertará, cedo ou tarde aquela fantasia vai pesar, seu espírito aprisionado vai querer sair, vai querer respirar, vai querer sentir o mundo como ele é. O orgulho e o egoísmo cansam, um dia eles caem, e é então que a essência da passagem terrestre é descortinada, a realidade dos fatos, o entendimento, ou como esses “jovens articuladores” gostam de falar: “Um dia a porrada é grande”.
Desapegue, trate seus semelhantes igualmente, não se prenda a coisas pequenas, olhe a vida por cima do material, não por cima das outras pessoas, engrandeça, pratique o amor, a entrega, o trabalho e os estudos, sem querer recompensa, pensando no pouco é que se consegue o muito. Tenha paciência, entenda que você é tão frágil quanto aquele cara esquisito que faz coisas esquisitas, seja flexível, faça-se de tolo e tente aprender as coisas mais simples, aquelas que você tem vergonha de dizer que não sabe fazer, abuse da humildade. Um dia a fantasia cairá, resta só escolher se é pra já ou para depois, pois tudo é questão de tempo, nós nunca paramos de crescer.

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