
O frio e a solidão o acompanhavam assim como os
morcegos acompanham a escuridão, pouco se entendia, muito se pensava, naquele
momento o tempo já não fazia mais sentido, os segundos não existiam, os minutos
constituíam uma escala de um passado distante. Não imaginava que sentiria tanta
falta daquelas que o esperavam em casa, no pequeno condado, provavelmente desfrutando
do indispensável calor da lareira que muito trabalhava naqueles tempos que
antecediam o inverno.
Perguntas ficavam no ar, os amigos que ficaram
para trás, a certeza da vitória massacrada pela espada inimiga, tudo o fazia
lembrar daquele dia de terror em que pela primeira vez sentiu o pesado revés
que pode surpreender o mais hábil dos combatentes e o mais perspicaz dos
generais. Continuou sua jornada já confuso entre a loucura e a realidade,
cambaleava sentindo na boca a lembrança do inesgotável prazer de uma pequena
gota d’água nos momentos de agonia e restrição. Não desistia, e dentro da
desordem de seus sentimentos se sustentava uma fé que parecia ser inabalável.

Observado com curiosidade pelos aldeões, foi abordado e acolhido por uma família, longe de toda nobreza, mas bem próxima do mais puro amparo cristão. Foi recebido, alimentado, teve seus ferimentos bem cuidados, e pôde enfim descansar depois da brava odisseia. Adormeceu ainda fora de si, e foi surpreendido por cenas macabras daquele dia que dificilmente deixará sua sofrida memória, mas conseguiu descansar, e aos poucos revitalizara o corpo cansado. Dali por diante, sua jornada não mais seria pelo Vale dos Lobos, mas sim pelo vale interior que o atormentava a alma e o roubava a expectativa pelo dia posterior.
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