Mais um mês completo neste 12 de setembro, agora são dois. Nesses dois meses de Escócia e Camphill tive experiências bem diferentes e interessantes, a cada dia algo novo. Nos trabalhos externos alimentei animais, colhi bosta de cavalos, construi um armazem para ovelhas, fiz chá, vi filhotes de patos e galinhas nascerem, misturei ração, abri caminho e limpei a mata, cortei grama, derrubei coluna de concreto, cortei lenha, fiz fogueiras gigantescas, fiz mais chá, cansei de usar o carrinho de mão, limpei estradas, reciclei toneladas de lixo, coletei ovos e mais um monte de coisa que eu nem sei explicar em português.
Em casa cozinhei, arrumei camas, troquei lençois, limpei banheiros, dei remédios, imobilizei ataques de residentes descontrolados, fiz chá novamente, botei a mesa, arrumei a lavanderia, lavei roupa, dobrei roupa, lavei a louça, passei o aspirador de pó, fiz chá, troquei carpete, dei banho e mais um tanto de coisa. Nos passeios fui em castelos, jardins, trilhas belíssimas, cachoeiras, montanhas, vilas medievais, parei pra tomar chá, nadei em piscinas,joguei futebol, cricket, fui em festival internacional de hipismo, Higland Games, Festival de Edimburgo, cinema, compras, um monte de cafeteria e mais coisas que não lembro.
Conheci gente da Alemanha, Japão, Coréia, Hungria, Canadá, República Checa, Dinamarca, Índia, Inglaterra, entre outros. Comi um monte de coisa diferente. Convivi com autistas, portatores de down, esquizofrênicos, epiléticos, imperativos, retardados, dementes etc. Aprendi a lidar com todos os tipos de pessoas e situações, manter a tranquilidade, observar com atenção, discernir e esperar o momento certo de agir. Senti o prazer da liberdade, de andar por ai sozinho sem ter que me preocupar com nada, sentindo o prazer de usufruir o merecido dia de folga.
Melhorei meu inglês e a cada dia melhoro mais, sentindo-me em casa mesmo estando longe dela. Aprendi a cuidar de mim mesmo em todos os aspectos que ainda faltavam e a vida de família não me encorajava a desenvolver. Fiz amizades sensacionais, de pessoas preocupadas com meu bem-estar e sinceras, sem querer absolutamente nada em troca, mesmo que eu retribua o máximo que eu possa. Sou apaixonado pelos meus residentes, tenho prazer em ajudá-los todos os dias com tudo que precisam, de abraçá-los e cair sempre nos risos, e em alguns momentos nem isso é necessário, basta observá-los para que eu possa suspirar de alegria ao estar vivendo essa oportunidade.
Aprendi a viver com o necessário, a como deixar meu espírito mais leve do que já era. Aprendi que mesmo que eu queira ter uma vida disciplinada e equilibrada vai sempre aparecer alguém batendo na minha porta depois das 22 horas me chamando pra pegar a estrada e ir pra uma balada em alguma cidade próxima. Aprendi, aprendi, aprendi muitas coisas, a vida não para, essa experiência é fantástica, em alguns momentos dá uma canseira e dá vontade de voltar pra casa pra ver a família, mas isso passa rápido. Como eu queria que algumas pessoas que tenho afeição vivessem um pouco disso aqui para deixarem alguns pensamentos primitivos de lado e abrirem a cabeça para a verdadeira felicidade.
Abraços família e amigos, vou indo dormir pois amanhã vou cedo para Edimburgo, vou passar o dia lá curtindo minha folga com duas alemãs aqui do Camphill. Tentem me visitar, estou de portas abertas aqui, quem quiser uma pequena experiência de teste cuidando de pessoas especiais também pode. Mãe, manda mais pulseirinhas do Brasil porque aquelas que eu trouxe acabaram, o pessoal adora e tá fazendo o maior sucesso. Acho que vou cortar meu cabelo, tá enchendo o saco, principalmente agora com a ventania do Outono, hoje ventou de um jeito aqui que eu nunca vi na vida, o pior é que eu sai de bermuda e todo mundo ficou me olhando como se eu fosse louco. Sempre falo que “tenho que aproveitar o frio” porque na minha cidade é só verão o ano inteiro. O meu colega alemão aqui passa o dia me xingando porque diz que tem inveja da minha vida de sol, rede, água de coco e praia “branca”. É isso ai, até mais!
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