sábado, 12 de fevereiro de 2011

Adolescência


Acorde, já está na hora, abra esses olhos, pois o mundo lhe espera, veja além das paredes de seu quarto, responsabilidades e deveres se aproximam como quem procura um recinto de sabedoria e maturidade, suficientemente para manusear ações e atitudes de forma lúcida, sucinta e decisiva para um futuro melhor.
Não tema, pois tudo aqui caminha naturalmente, e cada dia deixará um aprendizado eterno, que será desperto quando solicitado nas mais inimagináveis situações de sua odisseia. Não adianta se apressar, mas também não adianta seguir tão lentamente, o equilíbrio será a palavra chave para este período de libertação.
O que é a adolescência? Uma idade? Talvez não, é mais uma fase, uma metamorfose brusca e marcante. Assim como podemos classificá-la como um período transitório, podemos afirmar também que o maior produto de suas alterações é um novo nascimento, agora não carnal, e sim mental, nasce um indivíduo, um adulto, um ser dono de seus atos, autônomo, livre de acordo com as delimitações da sociedade aceitas por ele mesmo.
Para todo tipo de libertação, provas e vicissitudes devem ser vencidas, pois nada vem sem um preço a ser pago. No final do século XVIII na Europa, os homens viviam em estado de aprisionamento, não por grades ou celas, mas sim pelo intangível acesso ao conhecimento, represado quase que por inteiro pela igreja. Eles tinham dificuldades para refletir, para racionalizar uma situação, para lutar pelos seus direitos, para crescer, para progredir. A religião definia o que eles eram e o que deveriam ser, e assim se comportavam como crianças seguindo sem resistência as ordens de seus pais.
Dentre este cenário de obscuridade, eis que surge um momento de crise, um momento em que tudo aquilo que a igreja defendia não supria as necessidades de sobrevivência, o homem se viu desamparado. Somente este sentimento foi capaz de encorajá-lo a empunhar sua espada e lutar pela liberdade, pela emancipação intelectual, pela soberania da igualdade, da fraternidade e do progresso, e assim a França foi o palco sangrento de um dos movimentos mais marcantes da história da humanidade, uma revolução que iria desencadear na consolidação de uma sociedade madura e independente.
A Revolução Francesa nos serve de base para entendermos como funciona o processo de libertação do homem, e assim, analisarmos individualmente como isso acontece em cada um, ou seja, como a adolescência pode ser observada a partir de um cenário conflituoso de emancipação. Isso nos ajuda a achar sentido em todas as perturbações desta fase, partindo da premissa de que cada episódio é essencial para a formação de um adulto forte e dono de si mesmo.
A criança gosta de correr, pois sua condição natural estimula ações que serão boas para seu desenvolvimento físico, e assim ela corre o mais rápido que pode, sem saber o porquê, aquilo apenas lhe faz bem e o prazer do momento continua a conduzindo até a exaustão de seu corpo. Assim ela permanecerá durante anos, vivendo com alegria cada momento daquele, porém, cedo ou tarde, inevitavelmente, sua mente paralisará seus membros e a fará refletir sobre aquilo, e surpreendida pela situação atípica ela se perguntará:
- Por que corro?
Começa então o questionamento, a reflexão de uma simples ação acarreta uma série de pensamentos sobre todas as delimitações de sua vida, assim uma mente livre começa a se formar, até o dia em que estará lapidada o suficiente para o indivíduo assumir a almejada posição de adulto. Para isso acontecer, o caminho é duro, e os vencedores serão aqueles que superarem a ansiedade, a angústia, a desconfiança e os mais diversos sentimentos que virão atormentar de forma construtiva esta batalha que dará início à grande aventura da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário