sábado, 26 de fevereiro de 2011

Do mal ao bem


De todos os homens de que se têm registros, Jesus Cristo foi o mais equilibrado e bondoso que aqui passou. Exemplificava seus pequenos atos em repleta harmonia com a caridade, o amor, a paz, a fraternidade. Um raio de benevolência salubre sobre os campos atormentados da obscuridade humana. Desde então levamos sua imagem como padrão de evolução máxima e irrefutável, uma escala prima, digna de divindade.
O homem que aqui jaz se pergunta como proceder à orientação deste honorável esplendor, tentado pelos vícios carnais e animosidades sua voz alcança rasas distâncias em embate com a disseminação eloqüente dos viveres tradicionais. Pergunta-se ele até onde é possível resistir, ou se arrisca ainda mais na selva de seus pensamentos questionando se não seria preciso ceder hoje para alcançar o topo de sua escalada amanhã.
Avisto o garoto ao orçar suas atitudes maledicentes sobre a inocência de um irracional animal, sem ter conhecimento da enfermidade moral de sua infância, avança num tom de gracejo na efetivação das mais variadas brincadeiras. Para romper seu desejo ainda incólume, um adulto se aproxima para tomar as rédeas e orientá-lo sobre a devassa de seus atos. Assim a criança aprende e desenvolve sua razão ao ponto de evitar a repetição do episódio.
Mas o que dizer do homem que já traz resolutos sentimentos e desejos e não sofre diretamente grandes interferências que possam enfraquecer seus sentidos ortodoxos? Bom, resta a ele a pura autoridade de seu próprio pensar, pois esse o monitora e o autoriza a seguir ou não, da mesma maneira que pune, quando a aura de seu discernimento assim requer.
Ora, nos dois casos vemos semelhantes situações com a exceção do agente reparador. Ambos estão vulneráveis aos equívocos inexoráveis do material, porém percebemos que por falta de conhecimento a criança necessita de viver o mal para saber o que é o bem. E o homem? Austero na proficiência de seus conhecimentos morais, posiciona-se intangível sobre o conflito convergente dos dois extremos e prefere seguir sua linha já fixada.
Estaria fazendo bem? Pergunto-me se este homem, a exemplo dos comportamentos infantis, não deveria também repetir tais ações a fim de se fortalecer sobre as terras áridas da insânia. Dizem que é preciso conhecer o inimigo para vencê-lo, ora, então precisamos dominar o oposto para chegar ao triunfo de nossas posições. Como criticarei o tirano se nada sei sobre a tirania?
Na tranquilidade de sua viagem o aventureiro evita as trilhas mais hostis, pois afirmo que ele só terá conhecimento sobre a real tranquilidade quando conhecer os caminhos mais indesejados. O homem só sentirá falta da liberdade ao ser aprisionado, o rico só terá conhecimento de seu bem-estar ao conhecer a pobreza, o guloso só valorizará seu alimento ao conhecer a fome, e assim por diante.
O homem que se mantém austero sob a cintilante capa de sua ortodoxia não é nada mais que um angustiado ser, longe do grande cálice da realidade vital, até o dia em que seus pensamentos adentrem com eficiência na mescla de seus sentidos mais imorais.

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