sábado, 19 de fevereiro de 2011

Paulo Henrique Amorim, militância e pouco debate


Durante a semana passada fui informado que o jornalista Paulo Henrique Amorim viria à Fortaleza para um debate de tema “Mídia: Regulação e Democracia", um título que demonstrava toda a riqueza que o evento poderia proporcionar aos conceitos sobre o assunto por parte dos estudantes e profissionais de comunicação.
Chegando o dia da palestra, peguei o carro e fui para o centro da cidade, mais precisamente ao auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, onde é quase impossível encontrar uma vaga para estacionar e não ter algum episódio constrangedor diante das aglomerações de pessoas, carros e motos.
Depois de finalmente conseguir uma vaga, caminhei até o auditório contemplando a feiúra do centro da cidade que se encontra abandonado e melancólico. Uma fila extensa já me esperava do lado de fora, optei por entrar direto, sem assinar a lista de presença onde provavelmente os estudantes estavam solicitando certificados de participação, mais tarde saberia que fiz muito bem, pois não gostaria de ter em casa nenhuma lembrança da lástima que estava prestes a presenciar.
Cheguei ao local com quase uma hora de antecedência, e graças a um colega de faculdade, estava com meu assento reservado, não que faltasse assentos, mas já havia poucos e o recinto estava se preenchendo rapidamente. Ficamos conversando por mais de uma hora, tempo suficiente para que eu pudesse detectar a presença de figuras infantis que estavam ali somente para ouvir a voz “engraçada” do apresentador do “Domingo Espetacular”. Naquele e em outros momentos, logo me daria conta de que tudo que o jornalista falasse seria aplaudido e glorificado, independente de seu conteúdo, apenas em função de sua fama como apresentador dominical de televisão.
Depois de mais de uma hora de atraso, o auditório já estava lotado, centenas de pessoas em pé no corredor central e escoradas nas paredes, os ares-condicionados não davam mais conta de climatizar o espaço, que ficava a cada minuto mais desagradável, quente e barulhento. Mais tarde um dos palestrantes iria elogiar a situação, dizendo-se feliz por estar vendo aquela aglomeração de pessoas interessadas, utilizando o termo “calor humano” ele tentava transmitir sua satisfação. Para mim, aquilo não passava de pura desorganização do evento, mas o povo acha bonito, fazer o que.
O evento é iniciado, apresentações de lá, apresentações de cá, e eu sentado no aguardo para conhecer o raciocínio daqueles emblemáticos professores e jornalistas que ali estavam. Eis que o microfone é passado primeiramente a um tal de Professor Menezes, que solta a seguinte frase:
- Eu fico honrado em receber o grande Paulo Henrique Amorim nesta universidade, universidade pública! Universidade que os tucanos quase nos tiraram!
Após essa frase e a vibração de um auditório repleto de jovens de extrema esquerda, constatei de imediato que eu estava numa cilada, não teria palestra nenhuma, debate nenhum, o que iria acontecer ali seria simplesmente um comício político de gala, patrocinado pelos governos, estadual e municipal. Não tirei essa conclusão apenas pelas palavras utilizadas pelo professor, mas sim pela sua agressividade e insanidade ao gesticular suas mãos como um revolucionário no ápice de um discurso “libertador”.
Era só o começo, após a brilhante introdução do professor, o microfone é passado para o jornalista e blogueiro Altamiro Borges, esse felizmente nos poupou do excesso de injúrias políticas e centralizou suas ideias nas causas que defende, nem que isso custasse algumas acusações à iniciativa privada e expressões um tanto inescrupulosas. É claro que o tom continuava agressivo, sempre inflamando o público que mal discernia o que estava sendo falado e enaltecia cada palavra. Naquele momento, diante de tal baixaria eu já estava querendo ir embora, mas tinha que esperar mais um pouco, afinal, o senhor Amorim iria começar seu depoimento acerca do assunto, e então eu veria um pouco mais de nível profissional e enriqueceria meus conhecimentos sobre a tal “Regulamentação da Mídia”.
Infelizmente, para minha surpresa, as coisas só pioraram. O nosso grande Paulo Henrique Amorim, apesar do bom humor, deu um “show” de acusações baixas e politicagem barata que passou longe do objetivo acadêmico do debate. Citou uma lista de movimentos supostamente criminosos das maiores empresas de comunicação do país, como Globo e suas ramificações, as quais se refere como “PiG”, Partido da Imprensa Golpista, que em português quer dizer porco. Atacou jornalistas conceituados e figuras já consagradas da TV Brasileira como Miriam Leitão, William Bonner, Fátima Bernardes etc. Se eu sou contra alguma coisa que ele falou? Prefiro não me posicionar, pois a meu ver o objetivo daquele momento não era esse.
Enquanto ele falava, mais eu me perguntava o que fui fazer ali, sai de casa numa sexta-feira a noite com a esperança de presenciar um rico debate acadêmico e o que acabei vendo foi um espetáculo de militância política e lavagem cerebral esquerdista. Mas nem tudo estava perdido, o acrobata das acusações terminou seu discurso e o debate foi aberto, logo pensei:
- Pronto, agora vai ter alguém mais racional e profissional capaz de promover um debate que renda pelo menos uma reflexão sobre o assunto, para não dizer que vim até aqui à toa.
Nada, o primeiro a pegar o microfone foi mais um militante para fazer um discurso em defesa do italiano Cesare Battisti, refugiado político no Brasil desde o ano passado, depois disso, nada a se considerar. Portanto, não houve debate algum e o evento que tinha tudo para ser um sucesso, acabou sendo um fiasco, desde a organização até as participações equivocadas dos palestrantes.
Agora pensarei duas vezes antes de ir a um debate promovido pela Universidade Federal do Ceará, principalmente os que possibilitem interferência política, pois logo saberei que não haverá debate.
a, pois logo saberei que não haverá debate.

Um comentário:

  1. Excelente ordenação de ideias, Leonardo. Coisa que não consegui fazer por ainda estar indignado com a baixaria pretensiosa que assistismos. Larga a rádio e vem pro impresso. (Débora vai me matar) hahahha. O "debate" realmente não acrescentou em nada ao tema.

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