sexta-feira, 8 de abril de 2011

Para além da justiça humana


Wellington Menezes de Oliveira, era seu nome na realidade em que o mundo exterior o via, não se sabe até onde o rapaz admitia tal identificação tão ligada à ingrata sociedade que o inspirou a fazer tamanha barbárie, mas ele aceitava, não só seu nome, mas todas as formas de tratamento que vinham ao seu encontro, seja de cabeça erguida ou não. As poucas palavras revelavam um ser humano em total aprisionamento psíquico, interpretando suas visões de acordo com os desejos de seu foro íntimo.
Dentro de seu mundo, pouco se sabe o que acontecia, porém é fato que a realidade do jovem não se adequava de forma alguma à de seus colegas ou familiares. No mundo dele, inúmeras possibilidades e linhas de raciocínio poderiam estar se manifestando e amadurecendo há anos, sem que nenhum fator externo fosse capaz de arrancá-lo de seus pensamentos, supondo-se que mesmo que estivesse vivo, não tomasse conhecimento das dimensões do estrago que operou.
Cristão, seguia a bíblia, valorizava a castidade e acreditava que a partir dela seria abençoado com a divina ressurreição, independente de seus deslizes terrenos, que segundo ele, seriam menos graves que o toque de uma alma “impura”. Ora, em que ponto este rapaz chegou para valorizar mais sua “pureza” sexual às vidas tiradas sem piedade? É certo que neste ponto há algo que chama a atenção, pois a seleção de sua chacina foi voltada para as meninas, as pequenas mulheres, seu sexo oposto, talvez aquele com que teve mais dificuldade de relacionamento, e aquele que colaborou para uma interpretação bíblica mais inescrupulosa que o normal.
Queria um espetáculo, trabalhou por isso, estudou minuciosamente o que deveria fazer. Chegava do trabalho, passava na mercearia, comprava um refrigerante e permanecia horas em casa sentado em frente ao computador. Talvez horas de pesquisa, dias, meses, lendo textos que o inspirassem, vendo imagens que o informassem, assistindo vídeos que o auxiliassem em cada movimento. Uma alma em estado de perturbação, utilizando suas faculdades intelectuais em prol de um ideal, talvez vingativo, filosófico, religioso, nunca saberemos.
A justiça do homem é capaz de regular as ações dos homens, porém quando um homem desencarna, ele não mais faz parte deste mundo, portanto não pode ser punido por seus semelhantes. Ele se suicida sem saber se o que fez é grave, ou se representa algo notório, porém diante das proporções, devemos considerar que seu ato acarreta uma negatividade muito além do que um humano pode suportar com as próprias mãos.
Como supor a inexistência de Deus diante de tamanha injustiça? Neste caso não há razão, não há coerência, pois a perfeição do universo é incompatível com a impunidade imaginada pelo ateísmo. Tudo se transforma num grande enigma, fora do alcance da inteligência humana, algo de tamanha grandeza que aparenta ser incompreensível. Perguntamos em situações oportunas: “Que mundo é esse?”, “Onde o mundo vai parar?”. As respostas ainda estão longe, mas alguém muito próximo de nós sabe, está vendo tudo e tomando todas as providências necessárias para que a limitada justiça do homem seja suprida.
Um dia teremos conhecimento das penas cumpridas por Wellington, pois há sentido em tudo, só não estamos aptos a entender, não obstante ficamos reféns do livre-arbítrio, caminhando em corda bamba. Todos sofrem as conseqüências de seus atos, não há fuga capaz de inibir este fato, a justiça cedo ou tarde vencerá, por mais que o infrator acredite que a tenha vencido.

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