quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Nossa vida em Camphill Village Copake


Após alguns meses desde o último post deste blog, retorno para contar um pouco da experiência que eu e minha esposa, Iasmim, estamos vivendo desde que deixamos o Brasil para passar uma temporada no EUA. Escrevo neste momento de nosso aconchegante quarto em Tamarack, uma das várias casas do Camphill Village Copake, a maior comunidade Camphill da América do Norte, onde vivem cerca de 235 pessoas distribuídas em cerca de 300 hectares de lindas terras ao norte do estado de Nova York.

Desde que chegamos aqui ficamos impressionados com o tamanho e a infraestrutura deste Camphill, de dimensões muito diferentes das do que vivi na Escócia em 2011 e 2012. São várias casas, vários workshops, clínica médica, centro administrativo, centro de convivência com café e loja, fazenda com grande produção diária de carne e laticínios, centro de eventos, todo tipo de maquinário para produção agropecuária, campos férteis para agricultura e tudo que podemos imaginar de necessário para uma comunidade vibrante e praticamente autossustentável.

Para quem é novo em meu blog e não viu outros posts, uma comunidade Camphill é um lugar criado para a inclusão social e profissional de pessoas com necessidades especiais. Essas pessoas podem viver aqui a vida inteira e conquistam um nível de autonomia e dignidade que sequer conseguimos imaginar muito bem no Brasil. Nós vivemos em uma casa com 5 pessoas especiais de diferentes diagnósticos.


Como as experiências que temos no Brasil com pessoas especiais costumam ser raras e até pobres, é difícil explicar a um brasileiro a realidade de uma comunidade Camphill, um lugar incrível que só conseguimos conceber realmente quando estamos nele. Viver e trabalhar com essas pessoas é extremamente gratificante, estimulante e divertido. E é por isso que cada vez mais brasileiros vão passar uma temporada em uma comunidade Camphill ao redor do mundo. Aqui em Copake, além de mim e Iasmim, temos mais 3 brasileiros. Porém eles vêm e vão, e muitos passaram por aqui em outros anos.

Todos que se inscrevem para viver aqui e são aceitos, são alocados em algum local de trabalho. No meu caso eu me tornei um fazendeiro integral, trabalhando na fazenda tanto de manhã quanto à tarde. Um trabalho desafiador que tenho me identificado cada vez mais, havendo sempre algo novo para aprender todos os dias. Já a Iasmim foi alocada em duas posições diferentes, pela manhã ela cuida da casa e geralmente faz almoço, e pela tarde ela trabalha em um workshop chamado “Estate”. Esta é um workshop difícil de explicar aos brasileiros, mas no geral é ligado a uma longa lista de trabalhos ao ar livre, como corte de grama, corte de madeira com serra elétrica, armazenamento de madeira para o inverno, produção de Maple Syrup, e serviços que exigem ação física e operação de máquinas.


Além do trabalho em nossos workshops, também trabalhamos na casa onde moramos, tanto com atividades domésticas comuns como limpeza e preparação de refeições, tanto com os cuidados aos residentes especiais. Em uma comunidade Camphill aprendemos um pouco de tudo, e é por isso que considero este local um dos melhores lugares para alguém se desenvolver como ser-humano. Este é um lugar da prática e você está sempre com as mãos e a mente ocupadas com diferentes tarefas. Em verdade muitos brasileiros que chegam aqui acostumados com uma vida de estudos ou trabalho em escritório, geralmente contando as horas para irem para casa, ficam impressionados com o quanto se desenvolvem e o tanto de coisas que podem fazer durante um dia.

Além de uma vida muito ocupada com todas as responsabilidades que lhe são atribuídas, quem vive e trabalha em Copake usufrui de um cenário natural exuberante de morros, florestas, rios, riachos, lagos e animais. O contato com a natureza é total e a qualidade de vida imensurável, totalmente diferente da realidade urbana de se viver em uma grande metrópole brasileira, como Fortaleza, de onde viemos. Desde que chegamos aqui nossa saúde nunca foi tão boa. A minha sempre foi boa, mas melhorou ainda mais. Já Iasmim praticamente se curou de uma série de problemas pequenos que tinha, como gripes frequentes, crises alérgicas, entre outras coisas que eram um incômodo constante no Brasil.

Estamos nos aproximando de completar 6 meses neste lugar incrível e teria muito o que falar sobre o Camphill, a América, nossos passeios na região, entre outros assuntos, mas deixarei tudo isso para próximas oportunidades. Meu objetivo neste post era apenas lhe dar uma breve introdução sobre onde estamos e o que estamos fazendo, e a partir disto poderei puxar mais assuntos. Até breve.


Tamarack, nossa casa

Fim de tarde tirando leite ao ar livre

Desbravando trilhas e cuidando dos animais da fazenda

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