segunda-feira, 21 de março de 2011

Filhos, um desafio para poucos



Você quer ter um filho? Essa pergunta agita os pensamentos dos jovens atuais, nunca foi tão pequeno o desejo pela reprodução no mundo ocidental, nesta sociedade individualista, ter filho é coisa de careta. A maioria não quer arriscar esta possibilidade, talvez pela responsabilidade, mas principalmente pelo possível aprisionamento familiar. Os jovens se sentem livres e acreditam que esta liberdade deve ser utilizada em atividades mais atraentes, como por exemplo, assistir a um simples programa de televisão.
A mulher, especialmente, ainda resiste moderadamente à possibilidade de não ser mãe, principalmente ao ver um bebê nos braços de outrem ou um comercial onde as crianças se parecem mais com anjos do que humanos. Segundo a psicóloga Rosely Sayão, filho se tornou bem de consumo, nada mais coerente, os gastos dos pais de classe média com um filho durante seu estado de dependência ultrapassa um milhão de reais, dinheiro voltado a diversas áreas econômicas, desde produtos infantis até carros mais espaçosos.
Ter filho também se tornou sinônimo de madureza, e madureza, em muitos casos, lembra idade avançada, velhice, e ser velho não combina com a contemporaneidade. O lance é ser jovem, todos querem ser jovens, tem titia pra lá dos quarenta achando bonito rodar a saia junto com a filha de dezoito. Para a filha, ela não é mais mãe, é amiga, está na moda. Os pais estão se esquecendo da importante figura paterna, símbolo de sabedoria, suporte, algo que oferece segurança para os fragilizados filhos, que ao se depararem com situações inesperadas acabam tendo dificuldades para trabalhar tais pontos com seus responsáveis, pois esses estão com a credibilidade notavelmente ferida pelos impulsos da vaidade.
Não podemos duvidar de que a visão negativa de se ter um filho já é uma realidade, portanto, podemos visualizar um futuro próximo quanto a esta situação. Famílias menores, morando em residências menores, casais “sozinhos” procurando novas formas de investimento até então atípicas. Poucas crianças, filhos geralmente únicos, com assistência educacional completa, cheios de informação, estimulados quase vinte e quatro horas por dia, cosmopolitas, e uma série de particularidades potencialmente definidas. Confesso que estou curioso pela definição do amanhã, principalmente este amanhã no Brasil.
Não sei se terei filhos, tudo depende de como a vida se desenhará, mas caso as situações não forem propícias, não terei dificuldades em aceitar esta idéia, pois já se passaram os tempos em que ter filhos era uma missão quase que obrigatória. Hoje há novos conceitos, novos estilos de vida, novas situações, e se considerarmos a pura meta reprodutiva de uma sociedade, veremos que em nosso país isso não é problema, pelo contrário. Mas devo salientar que com a mesma facilidade que aceito esta situação, também aceito a oposta, pois se assim tiver que ser, será um desafio enriquecedor, onde exercitarei faculdades particulares a ele.
Entretanto, carrego quanto a este fato uma razão até então definida, em que o desejo por filhos nunca deve ser prioridade, pois assim sendo, seria somente uma demonstração de fraqueza, mergulhada em paixões, luxúria, posse. Se há algo que completa o ser humano, não é a dependência de outro ser humano, e sim o trabalho e o conhecimento, pois estes engrandecem o homem e fazem com que ele progrida dentro das leis naturais, o resto, nem tão menos importante assim, fica em segundo plano, todavia mantém sua considerável taxa de atenção.
É valoroso arar a terra para o que vier, preparar-se para os desafios que ocasionalmente podem se revelar, mas até onde as prioridades podem ser definidas, devemos analisar com cautela cada possibilidade, controlando os impulsos e meditando sobre cada cenário que somos inseridos. Ter filho sim, ter posses nunca.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O guarda


Ele era um menino que gostava de carrinhos e games, um sorriso aberto no meio da tristeza fria do calor diário. Gostava de se esconder atrás da mureta e gritar para as meninas que passavam, dava cantadas como se estivesse cantando, sem entender direito o que dizia, mas dizia o que a TV permitia. Era metido a corajoso, valente era seu sobrenome, queria ser general para levantar a bandeira da vitória e ser glorificado diante dos inimigos.
Estudar não era muito sua cara, gostava do perigo, da adrenalina. A mãe lamentava seu gosto um quão rudimentar. Nada disso importava a ele, que andava com o espírito firmado ao chão, seguro de seus atos, líder de suas condutas. Cresceu fazendo cara de mal, mas continuava com cara de menino mal criado. Queria um emprego, algo que impressionasse as mulheres, que lhe desse respeito a qualquer custo.
O menino virou policial, daqueles de fibra, casca dura, tudo por fora. Continuava um menino, coração novo, espalhado. Ganhou uma farda azul-clara, ao estilo militar, duas botas altas, com espessas plataformas, capaz de dar a ele mais altura, força, poder. Ele diz que recebeu treinamento, e dos bons, seguro de si, oferece segurança para desconhecidos. Carrega um cassetete que só deve ser utilizado quando extremamente necessário, que tentação para o garoto.
O menino continua tentando fazer cara de mal, mas permanece com cara de moleque mal criado, tente não aparentar que você pensa isso dele, pois sua reação será hostil, sua mente insiste em alertar que ele é grande, ele é a lei, ele deve ser respeitado. Respeito, poder, para ele esses são seus maiores valores, adquiridos de um dia para o outro, como o caçador que espera sentado a chegada de sua caça. Nada é melhor que essa sensação, e o perigo vale até a pena.
Vale mesmo? Vez ou outra ele deixa a consciência racional o morder suplicando uma reflexão apurada sobre o assunto. O salário é pouco, chega a incomodar, ele acaba tentando não pensar nisso. As condições de trabalho também são assombrosas, péssimas, ele até suporta. O problema é que a cada dia ele pensa mais nisso, o tempo vai passando, sua mente vai amadurecendo, porém cada fato contraditório interfere em seu equilíbrio.
Chega a ser irônico, um dever tão delicado, uma vida tão ingrata. Não perde a cara de mal. Aquilo tudo vai abalando suas emoções, vai descontrolando seus instintos. Ele segura multidões, mas nem consegue segurar ele mesmo, seu sangue é quente. O desespero culmina, o cassetete não é suficiente, ele atira, atira sua raiva, atira sua angústia, atira sua alma, ele não sabe o que fez.
A sociedade o condena, ele se lembra da mureta, lembra das meninas, observa seu presente em complexo, se vê preso, quer voltar, mas é um homem, e o tempo foi seu inimigo, pelo menos ele pensa assim. Talvez nada tenha sido seu inimigo, a não ser ele próprio, no dia em que fez suas escolhas, entretanto não havia ninguém para lhe dizer quais eram as melhores escolhas, mesmo assim ele escolheu. Ele atirou.


sábado, 12 de março de 2011

Sentido da vida


Poucos se identificam com alguns assuntos para conversar, e um deles é o sentido da vida e tudo que cerca a gênese terrestre. Este assunto é um daqueles que ou você ama, ou você odeia. Já vi vídeos e li textos motivacionais que sempre negligenciam este aspecto, dizem para as pessoas “esquecerem”, simplesmente esperarem e viverem intensamente. Bom, comigo isso não funciona, não que eu não queira viver intensamente, mas sem a vida ter um claro sentido, nada me parece plausível e nada me convence ser bom o suficiente.
Alguns que não crêem na religião dizem que o mais importante é curtir e sentir os prazeres da vida, eles acham que esta Filosofia é o ápice do bem-estar e da boa conduta, tendo em vista que estarão sempre se policiando para não fazer o “mal”, basicamente “curtir”. É importante analisar primeiramente de que forma o termo “curtir” se aplica, pois alguns sentem um imenso prazer em ter sua própria horta, para plantar e para colher, outros fazem questão de sustentar vaidade e luxúria pelos quatro cantos da vida, eu, por exemplo, curto minha vida ao viajar, ou seja, há várias maneiras de curtir.
Para o contexto em que tento trabalhar, usarei a forma mais comum entre os jovens atuais, a geração “Y”. “Curtir” é: Aproveitar intensamente o dia-a-dia (Carpe Diem), um aproveitamento que consiste em se divertir, rir, fazer amizades, conhecer lugares novos, ser lembrado pelos outros, ser destaque em função de algum aspecto pessoal, experimentar entorpecentes de vários níveis, ou resumindo, “curtir” é uma forma de viver com base em atividades que não exercitem o raciocínio nem exijam uma cobrança profissional, é viver fora dos parâmetros condicionados pela sociedade e usufruir dos prazeres materiais oferecidos pela vida terrena.
Mas só nesse vidão, como este tipo de jovem se sustentará? Pois pelo menos nisso ele sabe que tem uma grande responsabilidade, é basicamente a única coisa que pesa em suas costas visando o futuro, entretanto para ele a solução é fácil, pois vivendo no meio de um fervoroso capitalismo, ele basicamente operará uma jogada de gênio e ficará muito rico.
Bom, então é isso? Curtir é isso?! Putz, mas que medíocre. O que será que Leonardo da Vinci pensava ao passar a vida entregue aos estudos e criando maquinas e teorias engenhosas para o avanço da humanidade? Será que ele tava querendo passar num concurso público quando chegasse ao “céu”? Pois hoje é só isso que vejo: “Vou passar esse ano todo estudando pra passar num concurso público e ganhar dez mil reais por mês”. Pronto? É só isso? Estuda, passa, ganha dinheiro e pronto? Beleza, tem uma casa, tem um filho, morre. Pá. Acabou.
Que egoísmo. Às vezes reparo a grandeza do mundo (e olhe que o nosso é pequeno) e paro para pensar: “Pô, será que eu estou aqui para curtir, ganhar dinheiro, criar um filho e morrer?”. Bom, é verdade que muitos preferem pensar assim, conforta não é? Mas e se você tiver uma missão? Se você for o responsável por salvar milhares de vidas amanhã mesmo? Você mesmo, com essa cara de pangaré, tem essa missão. E então, vai estar preparado? Algo que não entendo é quando vejo pessoas normais, saudáveis dos pés a cabeça, com todos os recursos para fazer a diferença e simplesmente elas não querem nada, nada! Outro dia ouvi uma garota dizendo que queria casar e ter um marido que a bancasse para fazer compras no Shopping. Mas, que, merda, é essa?!
De todas as interpretações que o sentido da vida pode ter, uma que está bem clara para mim, independente de olhar religioso, é que isto aqui é grande, isto vale a pena, os sacrifícios valem a pena, acordar cedo vale, estudar vale, fazer o bem vale, ter paciência vale, saber medir vale, e todo trabalho hoje valerá, pois se existe algo além da morte, não será uma pós-graduação em bebedeira. As melhores posições são reservadas paras os melhores posicionados. Se Deus existir, imagine o que ele espera de você, se não existir, cada mísero prazer que sustentamos não significa nada.