Nunca cheguei a fazer um intercâmbio de estudos como os que estamos acostumados a ver, na vez que quase fui, umas coisas deram errado e acabei não indo. Mas como você pode ter visto neste blog, já morei no exterior, um ano na Europa e uns cinco meses nos EUA. Ambas as experiências foram ótimas, especialmente a primeira, porém não queria falar sobre isso, e sim sobre o "depois".
Muita gente tem a tal "síndrome do regresso", uns têm pouco e passa rapidinho, outros demoram mas depois de um certo tempo fica tudo bem, outros têm muito mais dificuldades em superar a mudança radical, geralmente saindo de um lugar melhor para uma vida brasileira bem "marromeno". É claro que isso varia muito de pessoa pra pessoa, até porque todos têm circunstâncias diferentes.
Digo isso pois acredito que os mais "bem de vida" não sentem tanto o impacto. Peguemos por exemplo um filho de empresários bem sucedidos que viveu em Londres por um ano e voltou pra casa, ele chegará em casa e seu padrão de vida continuará elevado, por mais que o Brasil esteja um caos. Ele tem carrão, mora num condominiozão, quase não tem preocupações etc. Ele ficará triste por não fazer mais viagenzinhas na Europa, mas vai passar.
Agora pegue um jovem de classe média com dificuldades financeiras que viajou pelo "Ciência sem Fronteiras", o sujeito passou um ano na Austrália bancado pelo governo e tendo experiências completamente "fora do comum" em relação à sua vida média brasileira. Não se preocupava com assaltos, vivia bem, estudava em uma universidade de primeira e assim por diante, dá pra imaginar como uma temporada assim é especial pra essa pessoa (é bom salientar que ainda assim sou contra o programa).
Este segundo sujeito vai ter um choque violento quando voltar pra casa. Não conheci tantas pessoas que fizeram o programa, mas conheci pessoas de classe média que passaram um tempo no exterior e voltaram: man, it's sad. Eu sou uma dessas e confesso que mesmo há três anos no Brasil (decidi me formar aqui antes de fazer qualquer outra coisa mundo a fora) a readaptação é muito difícil. Eu tive e ainda tenho certa dificuldade, mas conheci pessoas em situações muito piores.
É complicado. Vivi no Reino Unido, em um interior belo e civilizado, num clima muito agradável (sim, acho o clima britânico agradável) e ainda lembro a sensação de liberdade, segurança, bem-estar, pessoas educadas, moeda forte e todas essas coisas clichês que já sabemos sobre o primeiro mundo. E então voltamos ao Brasil, no meu caso a uma capital do nordeste: calor, violência, trânsito caótico, pessoas mal-educadas, muros altos, pichações, inflação, salários baixos, impostos sem retorno, escândalos de corrupção e nada funciona com exceção de algumas partes do setor privado (se você puder pagar).
Só quem viveu fora sabe, e é por isso que às vezes fico com inveja de quem nunca conheceu o lado de lá (parece que estou falando de outra dimensão, né?), essa pessoa pode até não ter tido as experiências que tive, mas pelo menos ela costuma ser satisfeita com sua realidade. O ser-humano é muito adaptável, se você criar ele em um casebre sem eletricidade e água encanada, ele vai aprender a viver e pode até ser feliz, mas se você colocar ele em uma mansão por alguns anos e depois obrigá-lo a voltar ao casebre, aí a coisa fica feia. Ele pode até voltar, mas provavelmente vai passar muitos anos em melancolia, lembrando dos momentos que teve enquanto morava naquela mansão.
Há muita gente nessa situação, ou prestes a entrar nesta situação, a sugestão que tenho é que siga vivendo e tente encontrar o lado bom da vida, por mais tenebroso que tudo possa parecer estar, aos poucos você vai se readaptando. Tenha paciência e lembre-se: somos muito adaptáveis. No meu caso duas coisas são de extrema importância, uma é a religião e os diálogos constantes com Deus, a outra são os livros, onde posso viajar a vontade, conhecer lugares e pessoas interessantes sem sair de casa, mas o mais importante mesmo é se esforçar para se reintegrar à sua realidade, e isto exige aceitação para assimilar as circunstâncias e dedicação pra seguir em frente sem olhar para trás.
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