terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A vida após Camphill

Despedida da Padaria.
Hoje resolvi dar uma olhada no blog e nas postagens antigas para lembrar um pouco do ano passado (e retrasado) para ver o que eu podia tirar de bom para me inspirar neste momento da vida, sem dúvida um novo momento, após tanta coisa atípica que vivi no último um ano e meio. Estou no Brasil desde Julho do ano passado, mas sinto como se tivesse chegado só agora em Janeiro, pois quando cheguei  de verdade a vida ainda estava muito longe de voltar ao normal.

O Camphill foi uma experiência fantástica que me enriqueceu muito como ser humano, posso notar isso em todos os aspectos, porém essa viagem não me mostrou uma das principais coisas que eu esperei que mostrasse: o que diabos eu ia fazer na minha vida (em termos de estudo) e onde eu iria fazer isso, as opções eram muitas e as vontades também. Cheguei decidido a tentar estudar na Europa, principalmente porque a namorada não ia gostar da ideia de um relacionamento a distância. Preparei tudo, busquei informações, preparei documentação, porém cada vez mais a dificuldade burocrática me distanciava, além do lado financeiro que não iria ser fácil, a verdade é que estudar na Europa regularmente como membro da classe média brasileira é uma possibilidade para poucos.


Acabou que desisti da Europa e tive que entrar num acordo com a namorada para que meus estudos aqui não durassem muito tempo e me abrissem portas para uma atuação profissional na Alemanha ou Áustria (ela é alemã mas mora na Áustria), e de repente surgiu um velho curso que sempre simpatizei na Universidade de Fortaleza, Comércio Exterior, que sempre havia evitado devido ao meu enferrujamento na matemática. Nada poderia cair melhor, um curso eclético, com oportunidades no mercado e principalmente internacional, o que abre muitas portas para intercâmbios acadêmicos e pontes para interação com outras países.  A Unifor mantém uma parceria com uma faculdade da Alemanha que garante aos alunos intercâmbistas um diploma duplo (brasileiro e europeu), o que cai perfeitamente para mim e pode me capacitar mais rapidamente a entrar no mercado de trabalho lá, inclusive conheço pessoas que estão lá hoje por este meio. Além do mais o curso também me parece bastante interessante e acredito que vou gostar.

No último semestre, também ao chegar, fiquei sabendo que uma escola de línguas estava selecionando novos professores, o que me fez aceitar um novo desafio logo ao chegar, sem intervalo para adaptação nem nada, isso iria pesar depois de alguns meses. Tenho que dizer que a readaptação após um intercâmbio desse é um pouco complicada, um dia eu estava numa comunidade rural para deficientes mentais na Escócia e no outro dia estava numa cidade brasileira tostando de calor e vivendo num sistema totalmente diferente, com pessoas diferentes, regras diferentes, sentia-me definitivamente como um peixe fora d’água entrando numa seleção de professores. Sabe quando você está totalmente por fora da vida e não sabe nem falar direito? Pois é, eu estava em outro mundo, tenho certeza que as pessoas me achavam estranho naqueles primeiros meses, mas fui levando e a readaptação foi vindo, apesar de muito conturbada por causa da decisão do que eu iria fazer e quais decisões eu iria tomar numa vida bagunçada no Brasil e uma namorada na Europa.

Despedida no Boliche.
No final das contas eu passei e me tornei professor nessa escola, outra experiência bastante interessante, ensinar para adultos e adolescentes na mesma escola que eu frequentava quando estava aprendendo inglês. No começo foi um pouco difícil, mas depois de pegar o jeito é que você percebe que ser professor é uma profissão fantástica e muito gratificante. Porém tive que abandonar o trabalho em setembro por vários motivos, primeiro porque eu senti a falta de um intervalo entre o Camphill e a vida aqui, eu estava precisando urgentemente de férias para processar o que aconteceu e simplesmente descansar, o que eu não conseguia fazer muito na Escócia e estava contando os dias para fazer no Brasil, segundo porque eu estava considerando estudar no exterior e toda aquela burocracia estava me enchendo a cabeça e não me deixava em paz para preparar boas aulas na escola, além de que eu tinha que estudar mais inglês para ter uma boa nota no IELTS, acabei que nem fiz, mas fiz o TOEIC por iniciativa da escola em que trabalhava e fui muito bem (IELTS é o teste de inglês acadêmico britânico e TOEIC é um teste de inglês profissional mais utilizado por empresas), e terceiro minha namorada estava para chegar no fim de setembro para passar 3 meses no Brasil, assim finalmente eu teria minhas férias e poderia decidir tudo o que iria fazer, para alguns isso pode parecer um semestre perdido, mas acredite em mim, foi muito necessário.

Minha namorada chegou e aqui ficou por três meses, durante esse tempo eu a ensinava português e ela me ensinava alemão, é claro que ela aprendeu português muito mais rápido por estar num país de língua portuguesa, inclusive quando retornou a Alemanha havia uma brasileira de Minas no Aeroporto na hora do desembarque perdida e procurando ajuda, e adivinha quem a ajudou? Theresa (namorada), a nova alemã falante de português, depois disso ela veio toda orgulhosa me contar, e o pior é que foi verdade, essa brasileira só desgrudou dela quando encontrou a filha no lado de fora do Aeroporto. Eu acho que a melhor parte de aprender uma língua estrangeira é ajudar os outros que passam por problemas de comunicação, desde que voltei ao Brasil já ajudei muitos comerciantes a vender artesanato para estrangeiros, que gratificante! Além daquelas situações que o cara tá perdido, precisando de informação e você aparece para salvá-lo, é muito bacana!

Neste tempo em que Theresa esteve aqui eu entrei neste acordo de que iria estudar aqui e trabalhar para juntar dinheiro para visitá-la em todas as férias (Julho, Dezembro, Janeiro), além de continuar estudando alemão e tentar manter um bom nível acadêmico para conseguir o intercâmbio para a faculdade da Alemanha que falei (Deggendorf). O fato é que 2013 marca o meu reinício, nova faculdade, trabalho (quero voltar a dar aula), novos planos, tudo novo! Sinto como se a vida estivesse começando agora, o que passou foi só ensaio. E aqui finalmente fecho o bloco Camphill e Escócia do Blog, apesar de saber que não consegui postar muito mais durante o ano passado, uma experiência marcante que claramente mudou o curso da minha vida como humano, estudante, profissional, cidadão e membro de família. Bom início de ano para todos também!

Despedindo-nos do velho e querido quarto, tudo arrumado para os novos voluntários.

De volta ao Brasil viajando pelas praias do Ceará.

Um comentário:

  1. Sou muito grata pelas suas postagens!!!Pois minha filha está indo pra Corbenic e assim pudemos ter uma ideia clara de como será tudo por lá....Muito muito grata!!!

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